Em mais de 40 cidades de 15 estados havia bloqueio em rodovias esta quinta-feira
O Brasil rodava em marcha lenta nesta quinta-feira, no quarto dia de greve dos caminhoneiros contra o aumento do preço do diesel, com bloqueios de estradas que provocam escassez de combustível e alimentos.
A crise obrigou a Petrobras a flexibilizar sua política de preços, considerada essencial para restaurar a credibilidade, e criou tensões entre o governo do presidente Michel Temer e sua maioria parlamentar, menos de cinco meses antes das eleições de outubro.
Em mais de 40 cidades de 15 estados havia bloqueio em rodovias esta manhã. A falta de combustível reduziu a frota de ônibus em São Paulo, Rio de Janeiro e em Belo Horizonte e obrigou o aeroporto de Brasília a admitir apenas a chegada de aviões com combustível suficiente para decolar.
Vários frigoríficos cessaram as suas atividades, o que afetando uma indústria fundamental em um país que é uma potência de exportação agrícola.
O brasileiro comum sente o impacto nos aumentos de preços de todos os tipos de produtos.
Nos postos de combustível que ainda possuem reservas, o litro da gasolina supera com facilidade 5 reais, em comparação com a média nacional de 4,215 do final de abril. Há indicações de aumentos de até 7 reais por litro.
Os postos parecem não ter tomado conhecimento da decisão anunciada ontem pela Petrobras de reduzir em 10% o preço do diesel na refinaria e congelar seu valor por 15 dias.
A Petrobras esclareceu que essa medida “não significa uma mudança em sua política de preços”, alinhada desde o final de 2016 com as cotações internacionais do barril de petróleo bruto.
Resta saber qual será a reação dos mercados, que consideram a política de “transparência” de preços como uma parte fundamental da estratégia da companhia controlada pelo Estado para restaurar suas finanças e sua imagem depois de ter sido envolvida em um grande escândalo de corrupção.
As transportadoras consideraram o gesto insuficiente e, à tarde, preveem uma nova reunião de seus representantes com membros do governo em Brasília.
“Não é disso que precisamos”, disse o presidente da Associação Brasileira de Caminhoneiros (Abcam), José de Fonseca Lopes, à rádio CBN. Os sindicalistas também rejeitaram a supressão temporária de um imposto sobre combustíveis (Cide), que tem pouco impacto na composição dos preços.
Em contrapartida, os caminhoneiros veem com bons olhos uma iniciativa votada na quarta-feira à noite pela Câmara dos Deputados para suspender até o final do ano a cobrança de dois tributos, PIS/Cofins, sobre o diesel.
Se o Senado apoiar a medida, os caminhoneiros estão dispostos a “suspender o movimento”, disse Fonseca Lopes.
A suspensão do PIS/Cofins criou tensões no governo. A suspensão foi articulada pelo presidente da Câmara, Rodrigo Maia, aliado de Temer.
Mas Temer e o candidato oficial do governo, o ex-ministro da Fazenda Henrique Meirelles, estão pressionando por uma política de ajustes como receita para sustentar o fraco crescimento econômico do Brasil após dois anos de recessão.
“Ainda não há acordo (…) não sou contra nada, mas queremos saber de onde virá o dinheiro”, afirmou o ministro da Secretaria de Governo, Carlos Marun.
Segundo Marun, a suspensão do PIS/Cofins terá um impacto de 10 a 15 bilhões de reais nas contas deste ano.
Os defensores dessa medida dizem que o impacto será muito menor e que pode ser compensado pelo fim das isenções fiscais sobre a força de trabalho de muitas empresas.
Petrobrás
As ações da Petrobras caíram mais de 10% nesta quinta-feira na Bolsa de Valores de São Paulo, um dia depois de a petroleira estatal flexibilizar sua política de preços para atender às demandas de uma greve de caminhoneiros que paralisa o Brasil.
Por volta das 11h15, as ações preferenciais da Petrobras caíam 11,52% e as ordinárias 10,98%, enquanto o Ibovespa dos principais valores cedia 1,46%. Quando a sessão foi aberta, os dois títulos da Petrobras chegaram a despencar mais de 13%.
A empresa anunciou na quarta-feira que reduziria em 10% o preço do diesel e congelaria esse valor ao longo dos próximos 15 dias, para facilitar as negociações entre o governo e os representantes dos caminhoneiros mobilizados contra os custos exorbitantes dos combustíveis.
O presidente da Petrobras, Pedro Parente, insistiu que esta é uma medida “de natureza excepcional” e garantiu que a redução “não significa uma mudança na política de preços” da empresa.
A Petrobras aliena desde o final de 2016 os preços dos combustíveis saídos das refinarias (antes dos impostos) aos do mercado internacional como uma estratégia para reconstruir suas finanças e sua imagem depois de ter sido envolvida no maior escândalo de corrupção do Brasil.
Parente participou esta manhã de uma reunião em Brasília com o presidente Michel Temer e seus principais ministros.
Os fortes aumentos do petróleo e do dólar acentuaram a pressão nas últimas semanas sobre a economia brasileira, que em 2017 saiu de dois anos de recessão.
(AFP)