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A maconha não faz mal? Então veja este testemunho

SAD

CURAphotography - Shutterstock

Reportagem local - publicado em 28/05/18

A mãe de um jovem com transtornos mentais decorrentes do uso de drogas conta seu drama

Montserrat Boix é mãe de um rapaz com graves transtornos mentais. Eles moram em Barcelona. Ela deu este testemunho numa ocasião em que seu filho estava desaparecido havia 10 dias, depois de fugir da clínica psiquiátrica na qual estava em tratamento:

A maconha destruiu o cérebro do nosso filho e de muitos outros jovens. Eles começaram a fumar ‘baseados’ aos 12, 14 anos, idade em que acontecem grandes mudanças no organismo e na mente, e os neurônios deles foram afetados de modo muito negativo. Não somos só nós, os pais, que dizemos isso, mas também os médicos.

Essa mãe considera que as instituições da sociedade não estão agindo eficazmente diante das situações – graves – de famílias que têm de lidar com casos de transtorno mental. Ela conta, por exemplo, que a polícia nunca localizou o seu filho nas várias ocasiões em que ele fugiu.

Estes problemas não estão sendo levados a sério o suficiente. Parece que aqueles que propõem o consumo livre da maconha têm mais poder na sociedade e na mídia. Não se fala dos efeitos secundários, mas eles são gravíssimos.

Montserrat Boix fez suas declarações à Plataforma pela Família Catalunha-ONU, que, além de divulgar os problemas das famílias afetadas, prepara conferências familiares sobre saúde mental em parceria com o governo local de Barcelona.

Montserrat prossegue:

Falam em legalização da maconha. Se a questão é vender em farmácias com receita médica para algum tratamento, de acordo. Mas se é para permitir a venda livre e sem nenhum controle, rejeitamos de maneira absoluta.

Esta mãe espanhola descreve a convivência com o filho, já com quase 30 anos, como “muito difícil”. Segundo ela, o filho é agressivo, não respeita quaisquer horários, não toma a medicação para tratar seu transtorno, consome drogas e foge de casa com frequência.

Desesperada, ela prossegue:

Não podemos fazer nada além de temer que o nosso filho volte a cometer algum crime para ser preso e receber algum tratamento na cadeia. Ou que alguém o mate numa briga. Pessoas nessa situação acabam ou na cadeia ou no cemitério. Não é oferecido nada para os doentes mentais severos, agressivos e que consomem drogas.

Os políticos, a seu ver, se interessam muito pouco pela situação das famílias que enfrentam esse tipo de desafio. Para ela, os pais de pessoas nesta situação não deveriam perder a autoridade legal sobre os filhos afetados por doenças mentais quando eles atingem a maioridade.

Eles não estão em condições de exercer a liberdade. Não têm critério para administrá-la. [As autoridades] perguntam a eles se dão consentimento para ser internados, e eles dizem que não. Os pais não podem dizer nada. Mas depois chegam os problemas, que são enormes.

Soluções

A solução que Montserrat propõe é a mesma já adotada em outros lugares do mundo, como a Fazenda da Esperança, no Brasil: a criação centros públicos de saúde mental em áreas rurais, para que os pacientes internados realizem trabalhos no campo e cuidem de animais, por exemplo, e não possam sair da clínica enquanto estiverem em tratamento.

Na Espanha, os antigos manicômios para pessoas com transtornos mentais foram extintos na década de 1970, mas não foram substituídos por outras instituições que, ao mesmo tempo, os tratem adequadamente e protejam o resto da sociedade.

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Fazenda da Esperança

A Fazenda da Esperança acolhe pessoas com idade entre 15 e 45 anos que desejam livremente se recuperar de drogas, álcool e tantos outros tipos de vícios.

Quem pretende enfrentar esse desafio dá o primeiro passo mediante uma carta escrita de próprio punho, manifestando os motivos da sua vontade de buscar vida nova.

O interessado em uma vaga deve enviar seu pedido de ajuda à comunidade mais próxima de sua residência. Assim, possibilita a seus parentes visitá-lo a partir do terceiro mês, quando os relacionamentos são reatados, a fim de superarem juntos os problemas gerados pelas drogas e pelo álcool.

O candidato recebe uma explicação dos procedimentos e das regras a serem seguidas para se tratar em uma das comunidades da Fazenda da Esperança.

No dia da entrevista, são exigidos documentos, exames médicos e sobriedade. O acolhimento é feito pela equipe de coordenação local e depende principalmente da disposição pessoal e vontade de se recuperar, demonstradas pelo candidato.

Testemunhos

São muitos os testemunhos publicados nos boletins da Fazenda da Esperança daqueles que entraram no mundo das drogas através da maconha.

Eu comecei usando maconha e alguns anos depois conheci a cocaína, a partir daí eu já não usava drogas, mas a droga me usava. Usei cocaína por mais de cinco anos, fui perdendo a vergonha e a dignidade, mostrei muitos defeitos de caráter. (J.M.A., 42 anos)
Eu comecei a usar drogas quando tinha 18 anos, eu menti para meus pais, saí com amigos que eles não conheciam. Fumei maconha, depois senti que queria outra coisa e provei cocaína. Foi quando conheci o pai do meu filho, começamos a sair. Ele vendia drogas, traficava e era criminoso. Com ele experimentei pasta base e o crack, que mais me viciou. (G.Q., 31 anos) Comecei a fumar cigarro, consumir álcool e em seguida a maconha. Isso com uns 12 anos de idade. Aos 24 anos, consumia muito álcool e maconha, mas experimentei cocaína. Foi quando afundei. No início, era só nos fins de semana e, com o passar do tempo, passei a fazer uso diário. (M.C., 32 anos)

Metodologia

Na Fazenda da Esperança, a recuperação fundamenta-se no tripé: espiritualidade, convivência e trabalho.

1. A espiritualidade é a base presente em todos os momentos e atividades.

Na vida de drogadição e alcoolismo, a espiritualidade não mais estava presente a não ser nos momentos de sofrimento quando pediam socorro: Deus, tire-me desta vida.

Na comunidade recebem todos os dias uma palavra do evangelho para meditar e principalmente colocar em prática. Rezam o terço e celebram a missa. Esse exercício de colocar os ensinamentos da Palavra de Deus como guia do trabalho e das convivências realizadas durante o dia, partilhando as experiências antes de ir dormir, é um novo estilo de vida.

A Fazenda da Esperança testemunha que a verdadeira Esperança, que não decepciona, é Jesus Cristo e encontram-na vivendo a Palavra de Deus. Porque cada Palavra que se vive, comunga o próprio Deus, pois Ele está na sua Palavra e em cada gesto de amor ao próximo. Praticando a Palavra, Deus e a Esperança crescem dentro de cada um.

2. Na vida anterior à acolhida, a convivência encontrava-se numa situação de calamidade. Com as pessoas mais próximas discussão, desentendimento, falta de compreensão; na rua briga, violência; em todos os lugares tudo era desamor. Na maior parte do tempo fugiam ou se escondiam dos encontros, principalmente, daqueles que amam.

Na organização da Fazenda da Esperança não há espaço para evitar a convivência. Os relacionamentos internos estão de tal forma estruturada que a onde for dentro da comunidade o jovem terá de conviver.

No quarto residem em grupo, nas refeições alimentam todos juntos, não há trabalho individual, 90% dos momentos de lazer são de jogos e atividades grupais, ressalva os que leem um livro, mesmo se retira para a capela é para criar um relacionamento com Deus.

Isso tudo não é para testar os nervos. Com certeza há conflitos e é uma oportunidade para aprenderem a superar o que buscavam evitar, nessas horas enxergam as próprias mazelas e conhecem as limitações pessoais. Apoiam-se na Palavra de Deus como ferramenta para nascer novas atitudes.

Os pequenos gestos de amor transformam rapazes e moças, que outrora tinham perdido todas as esperanças e as perspectivas de um futuro melhor, preparando-se homens novos e mulheres novas para retornar ao convívio da sociedade.

3. O processo pedagógico do trabalho na recuperação visa restabelecer força, criatividade, continuidade e autoestima do interno.

Levantar cedo com a responsabilidade de desempenhar uma atividade gera expectativas para uma nova vida. A proposta contempla afazeres no campo, nas fábricas ou onde a equipe determinar. O trabalho é de caráter terapêutico e ocupa oito horas diárias.

As ações na maioria das vezes são em grupo, o que favorece a troca de experiência e a aprendizagem, mas em primeiro lugar a desenvolver-se como membro de uma equipe.

Na rua não tinha rotina, perdia-se a hora de tudo e o trabalho ajuda a mudar a mentalidade desenvolvida nos anos perdidos no mundo das drogas e do álcool.

Continuamente cada aspecto vai ser aprimorado e no trabalho também o jovem se prepara para retornar a sociedade, onde seu futuro dependerá de cada uma das facetas da metodologia da Fazenda da Esperança.

Mais informações e unidades da Fazenda da Esperança em: http://www.fazenda.org.br

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