“Momento criador de futuro para todos”, congratula-se o Cardeal-Patriarca Dom Manuel ClementeApós a rejeição de todos os quatro projetos de lei que procuravam legalizar a eutanásia em Portugal, votados ontem na Assembleia da República em Lisboa, o Cardeal-Patriarca da capital do país, Dom Manuel Clemente, declarou:
“É uma ocasião de congratulação por este momento forte, tão válido, da democracia portuguesa, tão criador de futuro e de bom futuro para todos”.
Para o Cardeal-Patriarca de Lisboa, a decisão do Parlamento mostra que é “no sentido da vida” que é necessário avançar, formando uma “sociedade realmente solidária, onde ninguém fique de fora, triste, mais fragilizado do que às vezes já está”.
Ele também reiterou a necessidade de ampliar os cuidados paliativos, para que se possa construir uma “sociedade onde todos se sintam protegidos”:
“Esse é que é o sentido do futuro, do progresso e da vida, e é exatamente aí que nos devemos encontrar como sociedade portuguesa. A vida é um bem absoluto e por isso tem de ser absolutamente protegido e promovido”.
Os quatro projetos de lei sobre a despenalização da eutanásia em Portugal haviam mobilizado o país nos dias precedentes à votação.
Dom Manuel Felício, bispo da Guarda, havia pedido “bom senso” aos deputados:
“Não se esqueçam de que estamos perante uma questão de transcendente importância, que não foi colocada ao eleitorado pelo atual quadro parlamentar”.
Matar é mais fácil e barato
O bispo da Guarda realça que os cuidados continuados ou paliativos servem para “libertar a pessoa do sofrimento quanto possível, sobretudo em situações extremas”.
“É mais fácil e mais barato dar a morte do que cuidar da vida, nestes casos”.
Para o bispo, “é legítimo exigir bom senso” porque aqui está em causa “o respeito pela vida”, e, à pergunta sobre a própria legitimidade de se legislar sobre a eutanásia, ele respondeu:
“A democracia e os regimes democráticos existem e são bem-vindos para promover o bem de todas as pessoas e de cada uma delas na sua integralidade; nunca para o contrário”.
É quando a “dar a morte a quem a pede”, será legítimo?
“Aparentemente é um ato de liberdade pedir a morte como também é respeito pela liberdade satisfazer esse pedido. A realidade, porém, é outra. Respeitar a liberdade, antes que dar a morte, é dar as condições de vida que faltam a quem pede que antecipem a morte”.