Aleteia logoAleteia logoAleteia
Sábado 02 Dezembro |
Bem-aventurado Carlos de Jesus (Charles de Foucald)
Aleteia logo
Atualidade
separateurCreated with Sketch.

Chile: até mesmo vítimas de abusos sexuais condenam linchamento de padres

HANGED

Twitter Juan Carlos Cruz Ch via @el_dinamo

Reportagem local - publicado em 05/06/18

Anticlericais se aproveitam do crime de alguns para generalizar contra todo o clero

Três bonecos vestidos de batina e faixa vermelha foram pendurados a uma ponte sobre o rio Mapocho, em Santiago do Chile, com um grande cartaz que defendia o enforcamento de padres abusadores.

Depois que a imagem viralizou, Juan Carlos Cruz, um dos leigos que sofreram abusos sexuais por parte do padre afastado Fernando Karadima, reagiu à incitação à violência escrevendo em sua conta no Twitter:

“Condeno energicamente esta barbaridade de pendurar bonecos numa ponte representando padres. Não podemos cair nesta espiral de violência. Discutamos, levantemos a voz, denunciemos, levemos os criminosos à justiça. Mas NÃO assim”.

Uma crise sem precedentes

A Igreja no Chile enfrente uma forte crise institucional deflagrada por uma vergonhosa série de abusos sexuais e de poder, todos comprovados.

O abusador

O núcleo do escândalo é Fernando Karadima, um padre julgado e condenado pelo próprio Vaticano como culpado de pedofilia, efebofilia, abusos psicológicos e abuso de poder eclesiástico para amedrontar e calar as suas vítimas, menores de idade. O padre foi suspenso para sempre do ministério sacerdotal e a sua condenação por parte do Vaticano reabriu o caso também na esfera judicial chilena.

O acobertamento

Além do padre abusador, as vítimas acusavam o bispo Juan Barros, da diocese de Osorno, de acobertar os abusos sexuais perpetrados por Karadima. As provas dessa acusação, porém, não chegavam ao Papa Francisco: as informações repassadas ao pontífice eram “filtradas” de modo a beneficiar o bispo.

A investigação pontifícia

Mesmo sem ter recebido as provas alegadas, Francisco enviou ao Chile o arcebispo de Malta, dom Charles Scicluna, para ouvir os depoimentos das vítimas. O enviado papal permaneceu no Chile de 19 a 28 de fevereiro e elaborou o relatório que confirmava a veracidade das acusações.

A reação do Papa

Papa Francisco caso Barros
Sobreposição em foto de FERNANDO LAVOZ / NurPhoto

Depois de ler as mais de 2.300 páginas do relatório, o Papa Francisco declarou:

“Creio poder afirmar, após uma leitura atenta das atas do processo de escuta, que todos os testemunhos coletados falam de modo direto, sem acréscimos nem adocicamentos, de muitas vidas crucificadas. E lhes confesso que isto me provoca dor e vergonha.No que diz respeito a mim, reconheço e quero que vocês transmitam com fidelidade que cometi graves equívocos de avaliação e percepção da situação, especialmente devido a uma falta de informação verdadeira e equilibrada. Por isso, peço perdão a todas as pessoas que ofendi e espero poder fazê-lo pessoalmente, nas próximas semanas, nas reuniões que terei com representantes das pessoas entrevistadas”.

A renúncia dos bispos

Francisco convocou ao Vaticano todos os bispos chilenos para discutir as falhas graves cometidas pelas estruturas eclesiais no país em relação às denúncias de abusos sexuais e para reforçar a política vaticana de tolerância zero contra padres abusadores, tanto no campo sexual quanto no dos abusos de autoridade e poder. Após essa reunião, todos os bispos do Chile colocaram seus cargos à disposição do Papa, que deverá se pronunciar em breve.

O desafio da reconciliação

Francisco meditando – pt
(AP Foto/Gregorio Borgia)

As vítimas foram convidadas e recebidas pessoalmente pelo Papa Francisco no Vaticano. O Papa lhes pediu perdão pelos pecados e crimes perpetrados por membros do clero contra eles, incluindo o pecado gravíssimo da omissão. As vítimas agradeceram ao Papa pelo acolhimento e reconhecimento e declararam apreço pela postura do Vaticano de empreender uma faxina profunda nas estruturas que permitiram abusos tão abjetos.

Desde o pontificado de Bento XVI, o Vaticano vem adotando novas diretrizes para reformar os seus procedimentos em relação aos casos de abuso sexual, visando evitá-los e, no caso dos que ocorreram, investigá-los com mais presteza e garantir a devida punição aos criminosos. No papado de Francisco, a política de “tolerância zero” chegou a etapas de duras punições: dezenas de padres já foram julgados e condenados pela Santa Sé e pela esfera civil de seus países, incluindo, entre os condenados, até bispos como dom Anthony Sablan Apuron, ex-arcebispo de Agaña, na ilha de Guam. Ainda há inúmeros processos em andamento, envoltos alguns em elogios pela agilidade e outros em críticas pela lentidão.

Em paralelo às investigações e à condenações de culpados, acontece o processo de acolhimento das vítimas, que são as que mais precisam de atenção e apoio. O processo inclui o acesso à justiça e às indenizações devidas, mas também o alívio dos traumas sofridos e a cura dos sentimentos de rancor para que as pessoas feridas possam retomar uma vida digna.

São João Paulo II afirmava:

“A espiral da violência só é freada pelo milagre do perdão”.

Cabe à Igreja, em nome de Cristo, recompor as confianças rompidas e embasar um perdão autêntico, acompanhado de verdadeira justiça e de bálsamo espiritual.

Outro lado do escândalo: as manipulações anticlericais

A justiça também exige honestidade intelectual e moral para que as culpas sejam atribuídas apenas aos reais culpados. Há grupos ideológicos, no entanto, que têm se aproveitado de escândalos reais para manipular a opinião pública e induzi-la contra a totalidade do clero católico. A onda de acusações falsas chegou a provocar prisões de padres inocentes e até mesmo a morte de sacerdotes injustamente condenados por crimes que nunca cometeram, conforme se pode conferir neste artigo.

O linchamento moral que alguns vêm promovendo no Chile não é justiça. É mais uma chaga numa lista já longa, vergonhosa e dolorosa de escândalos, crimes e sofrimentos que clamam por genuína reparação.

Tags:
Abusos SexuaisIdeologiaPadresPapa FranciscoViolência
Apoiar a Aleteia

Se você está lendo este artigo, é exatamente graças a sua generosidade e a de muitas outras pessoas como você, que tornam possível o projeto de evangelização da Aleteia. Aqui estão alguns números:

  • 20 milhões de usuários no mundo leem a Aleteia.org todos os meses.
  • Aleteia é publicada diariamente em sete idiomas: inglês, francês,  italiano, espanhol, português, polonês e esloveno
  • Todo mês, nossos leitores acessam mais de 50 milhões de páginas na Aleteia.
  • 4 milhões de pessoas seguem a Aleteia nas redes sociais.
  • A cada mês, nós publicamos 2.450 artigos e cerca de 40 vídeos.
  • Todo esse trabalho é realizado por 60 pessoas que trabalham em tempo integral, além de aproximadamente 400 outros colaboradores (articulistas, jornalistas, tradutores, fotógrafos…).

Como você pode imaginar, por trás desses números há um grande esforço. Precisamos do seu apoio para que possamos continuar oferecendo este serviço de evangelização a todos, independentemente de onde eles moram ou do quanto possam pagar.

Apoie Aleteia a partir de apenas $ 1 - leva apenas um minuto. Obrigado!

PT300x250.gif
Oração do dia
Festividade do dia





Envie suas intenções de oração à nossa rede de mosteiros


Top 10
Ver mais
Boletim
Receba Aleteia todo dia