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Jovens com religião: poucos mas fiéis

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Paul De Maeyer - publicado em 12/06/18

Resultados de estudos sociológicos na Europa e nos Estados Unidos são motivo de preocupação... e esperança

“Precisamos de vós, jovens, pedras vivas de uma Igreja com o rosto jovem, mas não maquiado, não rejuvenescido artificialmente, mas reavivado a partir de dentro”. Com essas palavras, faladas por ocasião da reunião pré-sinodal com os jovens na segunda-feira, 19 de março de 2018, no Pontifício Colégio Internacional ‘Maria Mater Ecclesiae, em Roma, o Papa Francisco enfatizou mais uma vez os temas-chave de seu pontificado: o papel fundamental dos jovens na vida da Igreja de hoje e de amanhã.

“Queridos jovens, vocês são a esperança da Igreja”, escreveu o Pontífice em agosto em seu Twitter (https://twitter.com/Pontifex_pt/status/896317842211061762) para o Dia Internacional da Juventude da ONU, exortando os jovens a participarem dos preparativos para o próximo Sínodo dos Bispos, que acontecerá em outono com o tema “Os jovens, a Fé e o Discernimento Vocacional”.

No contexto deste evento eclesial altamente importante e da 34ª Jornada Mundial da Juventude, que acontecerá no Panamá de 22 a 27 de janeiro de 2019, vale a pena perguntar como é o relacionamento entre as jovens gerações – incluindo a chamada Geração Z (isto é, aqueles nascidos aproximadamente entre 1999 e 2015) – e a fé.

Alguns autores, incluindo a americana Joan Hope, estão bastante confiantes. Hope, em seu artigo Get your campus ready for Generation Z, publicado na edição de setembro de 2016 da newsletter The Successful Registrar, diz que os Centennials ou Post-Millennials – como os jovens desta geração também são chamados – estão mais inclinados não apenas aos valores tradicionais, mas também à religião.

Outros estudos contestam esse ponto de vista otimista: havia boas razões para acreditar que os adolescentes e jovens da Geração Z “serão a geração mais agnóstica que o mundo viu desde antes do Período Medieval”. Isso, de acordo com o artigo “Why the Generation Z Population will be Non-religious”, publicado recentemente no site americano The Truth Source.

De fato, um estudo do Grupo Barna, publicado em janeiro passado, define a Geração Z como “a primeira geração verdadeiramente pós-cristã”. Um estudo realizado em parceria com o Instituto Impact 360 (sediado em Pine Mountain, no estado da Geórgia) mostrou que nos Estados Unidos a porcentagem de membros dessa geração que se identificam como ateus é o dobro da população adulta: 13% contra 6%.

Além disso, mais de um em cada três jovens da Geração Z (37%) acredita, por exemplo, que não é possível saber com certeza se Deus é real, comparado a 32% da população adulta. “Para muitos adolescentes”, observa o estudo, “a verdade parece relativa, na melhor das hipóteses e, na pior das hipóteses, totalmente incognoscível”.

Mesmo se eles frequentam uma igreja, isso não significa que eles não sejam críticos. Entre os frequentadores da igreja, quase a metade pensa que a igreja “parece rejeitar muito do que a ciência nos diz sobre o mundo” (49%) e mais de um terço acredita que é “superprotetora dos adolescentes” (38%). Um terço deles também acha que “as pessoas na igreja são hipócritas” (36%).

Por fim, dos membros da Geração Z que dizem que ir à igreja não é importante para eles, quase dois terços dizem que encontram Deus “em outro lugar” (61%).

Na Europa, a situação não parece muito melhor. Um estudo sobre a juventude e sua relação com a religião em 21 países europeus (mais Israel) foi realizado pelo Instituto Católico de Paris e pela Universidade de St. Mary’s em Twickenham, Londres, com base em dados da pesquisa social europeia 2014-16. Os resultados foram relatados em várias publicações, incluindo La Croix e The Guardian, e eles não oferecem um panorama muito otimista. Em mais da metade dos países europeus estudados – 12 de 21 – a maioria dos jovens na faixa etária de 16 a 29 anos diz não ter afiliação religiosa.

Um coautor do estudo, Stephen Bullivant, não mede suas palavras ao descrever a situação geral. A religião seria “moribunda”, disse esse teólogo e sociólogo da Universidade de St. Mary’s ao The Guardian. “O cristianismo como padrão, como norma, se foi e provavelmente foi para o bem – ou pelo menos pelos próximos 100 anos”.

Muito eloquente, por exemplo, é a situação da República Tcheca, onde 9 entre 10 jovens adultos (91%) não são afiliados a nenhuma religião. A porcentagem de jovens não afiliados varia entre 70% e 80%: na Estônia (80%), Suécia (75%), Holanda (72%) e Reino Unido (70%).

No outro lado do Canal, no Reino Unido, apenas 7% dos jovens adultos se identificam como pertencentes à Igreja Anglicana, menos do que os 10% dos jovens britânicos que se autodefinem como católicos, e apenas um pouco mais do que a porcentagem de seus contemporâneos que dizem que pertencem à fé islâmica (6%).

No outro extremo do espectro, os jovens mais religiosos são os poloneses (apenas 17% dizem que não têm afiliação religiosa), seguidos por seus contemporâneos na Lituânia (25% não afiliados a uma religião).

Em grandes países europeus, como Alemanha, Espanha e França (o estudo não analisa a situação na Itália), esse percentual é de 45%, 55% e 64%, respectivamente.

A participação semanal nos cultos é “extremamente fraca”, diz La Croix. Como observa o jornal diário católico francês, só ultrapassa 10% em quatro países: na Polônia (39%), Israel (26%), Portugal (20%) e Irlanda (15%).

O estudo também inclui alguns elementos surpreendentes, como a seguinte estatística sobre a República Tcheca: embora os jovens católicos constituam apenas 7% da população do país, quase um quarto deles (24%) diz ir à missa pelo menos uma vez por semana, e quase a metade (48%) reza pelo menos uma vez por semana, informa La Croix, citando Bullivant. “O exemplo da República Tcheca é sintomático, do qual Bento XVI definiu como ‘minorias criativas’”, explica ele.

“A nova configuração padrão seria ‘nenhuma religião’, e os poucos que são religiosos veem a si mesmos como nadando contra a maré”, disse Bullivant ao The Guardian. “Em 20 ou 30 anos, as igrejas tradicionais serão menores, mas as poucas pessoas que restarem estarão altamente comprometidas”, conclui o diretor do Centro Bento XVI para a Religião e Sociedade.

Poucos, mas bons, portanto: uma tendência que parece estar ganhando terreno também na Itália. Essa é a conclusão de um estudo liderado pelo sociólogo italiano Franco Garelli e realizado no instituto de pesquisas Eurisko, com uma amostra de cerca de 1.500 jovens na faixa etária de 18 a 29 anos, cujos resultados foram divulgados no site Vatican Insider.

O estudo mostra, por exemplo, que a porcentagem de jovens italianos que se declaram ateus subiu de 23% em 2007 para 28% em 2015, enquanto a porcentagem de “crentes convictos e ativos” caiu para 10,5%. Além disso, entre os jovens que dizem acreditar apenas por “tradição e educação” (36,3%), mais de um em cada cinco (22%) dizem que não acreditam realmente em Deus.

Para concluir, uma coisa é certa: estamos diante de um possível cenário futuro que mostra mais uma vez quão crucial e exigente é o desafio que os participantes enfrentarão na próxima assembleia do Sínodo.

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