A escalada entre os dois países acontece antes de um Conselho Europeu nos dias 28 e 29 de junhoA crise entre a França e a Itália sobre os migrantes do Aquarius se agravou nesta quarta-feira, com Roma exigindo desculpas de Paris após declarações que considerou “inadmissíveis”.
Novo capítulo desta crise, o ministro italiano das Finanças, Giovanni Tria, desistiu de se reunir nesta quarta com o francês Bruno Le Maire, que “lamentou” esta decisão e disse esperar um novo encontro “muito em breve”.
Na terça-feira, o presidente francês Emmanuel Macron criticou o “cinismo e irresponsabilidade do governo italiano”, que se negou a receber o “Aquarius” – o barco com 629 migrantes a bordo.
Após 72 horas de crise em pleno Mediterrâneo, este navio humanitário, fretado pela ONG francesa SOS méditerranée, começou sua longa travessia na terça-feira à noite para a Espanha, que aceitou abrir a ele o porto de Valência.
“Estamos atualmente ao sul da Sicília, e nossa chegada está prevista para sábado às 21 horas em Valência. Mas em vista das condições meteorológicas, com ondas de até 2 metros, a viagem pode atrasar”, afirmou nesta quarta-feira à AFP Aloys Vimard, coordenador da ONG Médicos Sem Fronteiras (MSF) a bordo do Aquarius.
Um total de 106 imigrantes seguem a bordo do Aquarius, enquanto que os outros foram transferidos na terça-feira à tarde para um navio da Marinha e um outro da Guarda Costeira italianos. Todos os três seguem para a Espanha.
As palavras do presidente francês foram muito mal recebidas em Roma, particularmente pelo homem forte do governo italiano e chefe da Liga (extrema-direita), o ministro do Interior Matteo Salvini, que imediatamente exigiu um pedido de desculpas de Paris.
Caso contrário, ele ameaçou cancelar a reunião agendada para sexta-feira, em Paris, entre Emmanuel Macron e o chefe do Governo italiano Giuseppe Conte: “Se o pedido de desculpas não vier, o primeiro-ministro faria bem de não ir à França”.
À tarde, reiterou no Twitter sua exigência, dizendo que a Itália não tinha “lição” para receber em termos de solidariedade.
Quase simultaneamente, a número dois da embaixada da França em Roma, Claire Anne Raulin, foi convocada ao ministério das Relações Exteriores italiano, em vez do embaixador Christian Masset, que não está na capital italiana. Esta é a segunda reunião do tipo, um evento bastante singular nas relações dos países que são muito próximos, após um incidente no final de março já ligado à crise migratória.
O ministro das Relações Exteriores Enzo Moavero Milanesi, que recebeu pessoalmente Raulin, ressaltou o caráter “inaceitável” das declarações em Paris.
Na terça, Giuseppe Conte reagiu, afirmando que “a Itália não pode aceitar lições hipócritas de países que preferiram virar a cabeça para as questões de imigração”.
A escalada entre os dois países acontece antes de um Conselho Europeu nos dias 28 e 29 de junho, que deve se concentrar na questão migratória.
A crise também evidenciou a cacofonia que reina na Europa sobre a questão.
Um novo “eixo na luta contra a imigração ilegal” entre Áustria, Itália e Alemanha foi oficializado nesta quarta-feira pelo chanceler austríaco Sebastian Kurz.
A Itália acusa regularmente seus parceiros europeus, a começar pela França, de deixá-la sozinha frente a esta crise e os 700.000 migrantes que desembarcaram em suas costas desde 2013.
(AFP)