Os flagelos do narcotráfico, a corrupção e a desigualdade se somam à necessidade de consolidar uma paz ainda frágil, apesar do histórico acordo com as Farc.
A violência dos grupos armados que disputam o controle de antigos feudos da ex-guerrilha comunista, especialmente nas fronteiras do país, e a insegurança nas cidades também marcam o segundo turno das eleições neste domingo.
– Implementando a paz –
Prêmio Nobel da Paz em 2016, presidente Juan Manuel Santos idealizou o acordo assinado com as então Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia (Farc).
Mas seus esforços para acabar com o último conflito armado na América não se refletem em sua pouca popularidade.
Nascido em 1964 de uma insurreição camponesa que exigia uma maior distribuição de terras, o grupo rebelde chegou a ser o mais poderoso do continente e se desarmou no ano passado, tornando-se um partido político.
A implementação do pacto – questionada por ex-guerrilheiros que acusam o Estado de violações – será uma das principais tarefas do próximo governo.
“O novo presidente da Colômbia enfrentará a decisão de implementar ou não o acordo”, disse à AFP Cristian Rojas, diretor do Programa de Ciência Política da Universidade de La Sabana.
Contudo, os pontos estruturais do pacto dificilmente poderão ser alterados.
O candidato Iván Duque, de 41 anos, do Centro Democrático (CD, direita) promete reformar o acordo de paz.
O CD considera que o acordo garante “impunidade” aos responsáveis por crimes graves. O grupo primeiro prometeu “rasgar” o pacto, mas depois sugeriu reformá-lo.
Um possível mandato de Duque “seria problemático” para promover as mudanças “estruturais” acordadas, que incluem reformas eleitorais e agrárias para combater a desigualdade, disse Yann Basset, diretor do Observatório de Representação Política da Universidade do Rosario.
– Desigualdade –
A Colômbia foi duramente abalada por uma guerra interna que, em meio século, confrontou guerrilheiros, paramilitares de direita e agentes do Estado, deixando mais de 8 milhões de vítimas entre mortos, desaparecidos e deslocados.
Rica em minerais, biodiversidade e pedras preciosas, a Colômbia é também um dos países mais desiguais do continente, superada apenas pelo Haiti e por Honduras.
A pobreza afeta 17% dos 49 milhões de habitantes, com picos de 36,6% nas regiões mais isoladas, particularmente nas áreas rurais, segundo dados oficiais.
A luta contra a desigualdade é uma das bandeiras do candidato e ex-prefeito de Bogotá, o ex-guerrilheiro Gustavo Petro, do movimento Colômbia Humana.
A possibilidade de a esquerda chegar ao poder é uma novidade em um país historicamente governado pela direita. Mas a tendência pode mudar.
Para o especialista Basset, a ascensão da esquerda, visível nas eleições legislativas de março, deve-se ao fato de que “a guerrilha hoje em dia não dá tanto medo”.
As Farc tiveram 0,5% do total dos votos parlamentares, embora o pacto lhes garanta dez assentos.
– Corrupção e narcotráfico –
A Colômbia ocupa o 96º lugar no ranking de percepção de corrupção da organização Transparência International, que avalia 180 países.
Além das irregularidades na entrega de licitações públicas, o país também foi abalado pelo esquema de corrupção da empreiteira brasileira Odebrecht.
A empresa reconheceu ter entregado 11,1 milhões de dólares em propinas na Colômbia. Já a Promotoria avalia esse valor em mais de 27,7 milhões.
Nas eleições, “também há um clima de descontentamento com a classe política, com muitos problemas de corrupção nos últimos dois anos”, disse Basset.
Mas a corrupção não está apenas ligada ao Estado. Desde os anos 80, a Colômbia está no radar mundial do narcotráfico.
Apesar dos grandes esforços contra o tráfico de drogas, o país continua a ser o maior produtor mundial de cocaína, um mercado arduamente disputado pelos dissidentes das Farc, por gangues criminosas e pelo Exército de Libertação Nacional (ELN), reconhecido pelo governo como o último grupo rebelde.
Para o analista Juan Cárdenas, o próximo presidente terá um “desafio muito forte” relacionado ao controle territorial.
Para isso, o Estado deve recuperar o monopólio da força e ter uma “presença institucional” em um país de geografia complexa, acrescentou.
(AFP)