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Eleição mexicana e o fracasso das velhas táticas

MEXICAN GUADALUPE PALACIOS GARCIA

MOYSES ZUÑIGA / AFP

Agências de Notícias - publicado em 26/06/18

As obscuras táticas que marcaram a política mexicana durante sete décadas de governo hegemônico do PRI voltaram na campanha presidencial de 2018 – afirmam analistas ouvidos pela AFP, acrescentando que, desta vez, tiveram efeito contrário e fortaleceram o voto antissistema do esquerdista Andrés Manuel López Obrador.

Ainda estão na memória dos mexicanos as “urnas grávidas” – enchidas previamente com votos para o candidato da situação -, a “operação tamal” – depositar um punhado de cédulas de uma vez nas urnas -, o eleitor que magicamente votava várias vezes, ou a polêmica “queda do sistema” de apuração de 1988, que, segundo várias denúncias, levaram à vitória do então candidato do Partido Revolucionário Institucional (PRI), Carlos Salinas de Gortari, sobre o esquerdista Cuauhtémoc Cárdenas.

Depois de governar o México por 71 anos, o PRI foi derrotado em 2000 pelo conservador Partido Ação Nacional (PAN), abrindo uma nova era no país. Passados 12 anos de altos e baixos, o PRI retornou ao poder em 2012, prometendo ser um novo partido de transparência e de reformas.

É novamente acusado de cometer práticas ilegais, desta vez, porém, sem os resultados esperados: o partido do presidente Enrique Peña Nieto, com níveis recorde de impopularidade, não decola nas pesquisas.

– Justiça x candidato –

O principal alvo das acusações do Estado na corrida pela eleição de 1º de julho foi Ricardo Anaya, candidato presidencial de uma coalizão liderada pelo PAN e em segundo nas pesquisas, embora muito atrás do líder López Obrador, que disputa com seu novo partido, Morena. Em um distante terceiro lugar, está José Antonio Meade, do PRI.

Anaya está envolvido em uma polêmica pela venda de uma adega de sua propriedade. A operação é investigada pelo Ministério Público por suspeita de triangulação de recursos. Não há acusações formais contra ele.

Muitos mexicanos questionaram a rapidez na atuação da Procuradoria Geral, enquanto polêmicos casos de corrupção do governo de Peña Nieto se arrastam.

“Usou-se a Procuradoria Geral para atacar Anaya midiaticamente sem apresentar denúncia, sem ter provas, ou demonstrá-las”, disse à AFP o analista José Antonio Crespo.

O último golpe: em um vídeo que circulou pelas redes sociais, um homem – apontado entre os operadores da venda, cujo irmão estaria ligado a Anaya – fala de sua proximidade com o candidato.

É “uma estratégia orquestrada e promovida pelo governo do presidente Peña Nieto para prejudicar minha candidatura”, denunciou Anaya.

Dias antes, Anaya disse que, se for eleito, criará uma Procuradoria especial para investigar Peña Nieto, o qual poderia vir a ser enviado para a prisão, se considerado culpado.

Para a colunista política Martha Anaya (sem parentesco com o candidato), nem a ameaça de investigar Peña Nieto, nem o vídeo foram casuais.

“Anaya já tem claro que não há negociação com o governo. Não conseguiu que José Antonio Meade declinasse. Por isso, não lhe importou e falou até de prisão. E o que o PRI quer é tirá-lo do terceiro lugar que seja”, explicou.

O PRI – acrescentou – busca articular a seu favor o “voto útil” contra López Obrador, estimulado pelo cansaço com os partidos tradicionais, e resgatar posições no Congresso, prefeituras, ou um estado para sobreviver nesse momento de realinhamento político.

“Em 2000, quando perde para o PAN, o PRI se sustentou graças ao poder que manteve. Estão fazendo a mesma coisa agora, tentando resgatar o voto local, o menorzinho, mas é o que, no fim das contas, te dá força para não morrer”, diz a colunista Anaya.

Nas ruas, também se sente a tradição do “clientelismo”.

A tentação de comprar votos vai desde oferecer uma sacola com brindes, com um squeeze, ou um casaco, até prometer pagamentos em dinheiro, ou condicionar a entrega de programas sociais, passando por assistir a comícios em troca de um lanche, ou de um refrigerante.

– Ofensiva por telefone –

No fogo cruzado, López Obrador também denuncia uma “guerra suja” e acusa seus adversários de montarem manifestações contra ele, ou grupos empresariais, por desfilarem pelo México com opositores venezuelanos para tentar vinculá-lo a Hugo Chávez. Ele garante nunca ter conhecido o então presidente da Venezuela pessoalmente.

A última ofensiva é por telefone: de repente, toca o celular de um cidadão e se ouve uma gravação que faz uma “pesquisa” sobre as polêmicas propostas do candidato esquerdista.

“Gostaria que a (operadora de telefonia) Telmex me ajudasse, informando quem contrata esse serviço de chamadas em massa para fazer guerra suja”, disse López Obrador, mirando na empresa do magnata Carlos Slim, com quem se chocou durante a campanha.

Essas táticas fracassaram, porém, segundo o analista Crespo.

“A estratégia seria apontar para Meade, mas está em terceiro, e López Obrador se fortaleceu”.

Em uma análise, a consultoria Eurasia Group descreve a atuação da Procuradoria contra Anaya como “um ataque coordenado pelo governo e o PRI”, mas que apenas reforçou a imagem negativa do oficialismo.

“López Obrador é o mais beneficiado”, resumiu.

(AFP)

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