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Tradição dos carros de boi é destaque durante a Romaria de Trindade

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Rodolfo Carvalhaes - Divulgação

Agências de Notícias - publicado em 28/06/18

Desfile reuniu mais de 350 carros de boi e contou com público de aproximadamente 100 mil pessoas

Tradição secular na Festa do Divino Pai Eterno, o desfile dos carros de boi mobilizou 100 mil devotos, que acompanharam a procissão nesta quinta-feira (28), em Trindade (GO). A Romaria de Carros de Boi, como é conhecida, reuniu cerca de 350 veículos rurais que chegaram de diversas partes de Goiás – e até de fora do Estado – em viagens que chegam a durar mais de dez dias.

Patrimônio cultural imaterial do Brasil desde 2017, a Romaria dos Carros de Boi remonta ao início da devoção ao Divino Pai Eterno, em meados de 1840. No entanto, a tradição é muito anterior, de acordo com pesquisadores espanhóis presentes na Festa de Trindade. Segundo estudo realizado, os primeiros vestígios do uso do veículo aparecem ainda no Egito Antigo, como forma de transporte das pedras para construção de pirâmides. Evidências similares foram encontradas em outros países na Europa, Ásia e África, e Brasil, em vários períodos da humanidade.

A prática é passada de geração em geração dentro das famílias. Domador de gado em Jaraguá (GO), Irom Caiado, de 45 anos, afirma que nasceu no meio dos carros de boi e aprendeu com os pais o que sabe. “Me sinto um menino de dez anos quando chego em Trindade para o desfile. A expectativa é tamanha que não consigo dormir”, afirma. O grupo viajou por quatro dias com a intenção de manter a tradição e agradecer pelas bênçãos. “Sofri um acidente na fazenda com um burro e precisei colocar 12 pinos na coluna. Foi o Divino Pai Eterno que me deu saúde para estar aqui”, explicou Irom.

Aos 48 anos, o agricultor Welson da Silveira acompanhou os pais desde criança na procissão de carros de boi de Damolândia (GO) a Trindade. “Agradeço muito ao Pai Eterno pela saúde para continuarmos vindo aqui. Esses animais significam tudo para nós”, afirma. Mesmo sendo a primeira vez que vem por conta própria, ele afirma que já planeja voltar em 2019 para manter a tradição. “Meus filhos já querem seguir meus passos. Foi o Pai que me salvou quando quase fui esmagado por uma mula, então só tenho a agradecer hoje”.

Antes dos carreiros retornarem às suas cidades, será realizado um encontro com todos no Salão Paroquial da Igreja Matriz na manhã de sábado (30). À tarde, receberão bênçãos e poderão prestar agradecimentos durante a uma missa dedicada a eles, na Praça do Santuário Basílica.

Pesquisa

Os pesquisadores espanhóis Xabier Erkizia e Luca Rollo estiveram presentes na Romaria dos Carros de Boi, em 2018, e explicam que o Brasil é o único país em que a tradição se mantém viva. A dupla investiga a origem dos costumes e como o característico som emitido pelo veículo funcionava como uma forma de comunicação nas civilizações da Idade Média. “Nós fazemos diversas pesquisas sobre a cultura dos sons nas sociedades, principalmente nas sociedades antigas, e descobrimos que os sons dos carros de boi estão entre os sons mais antigos da humanidade”, explica Xabier.

A dupla encontrou o costume em Trindade, após pesquisar carros de boi em várias cidades ao redor do mundo. “Na Europa, só encontramos carros cenográficos que não podiam se mover. Mais tarde, seguimos os rastros das origens dos carros: China, Índia, Oriente Médio, Egito, Roma Antiga, País Basco, Norte de Portugal até chegar ao Brasil”, afirma Xabier.

“Há registros sobre este som específico há 6 mil anos. Aqui, vamos fazer a captação do áudio de um meio de transporte passado de geração em geração por todo o mundo”, afirma o pesquisador. Os dois consideram o registro e a passagem pela Capital da Fé como a última fase da pesquisa.

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