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O mínimo que você precisa saber sobre os jesuítas

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Sobreposições em poster de "A Missão" (1986, Warner Bros.) / Fair Use

Philip Kosloski - Reportagem local - publicado em 29/06/18

Um breve "guia" sobre esta grande ordem religiosa, de Santo Inácio de Loyola ao Papa Francisco

Fundada no século XVI por Santo Inácio de Loyola, a Companhia de Jesus é uma das ordens religiosas mais importantes e mais conhecidas do mundo.

Tudo começou com Santo Inácio, um nobre espanhol que experimentou uma conversão radical, transformando completamente a sua vida para seguir Jesus Cristo. Em seu percurso de conversão, Inácio sentiu-se chamado por Deus a formar um “exército” de homens que fossem bravos “soldados” de Cristo, com as “armas” da palavra e da caridade, para ensinar o Evangelho de Jesus e para testemunhá-lo na prática em todos os cantos do mundo.

Alguns pontos básicos

Nome: A Companhia de Jesus é chamada originalmente, em latim, de “Socíetas Iésu“. Literalmente, significa “Sociedade de Jesus”, mas, em latim, o termo “sociedade” tem o sentido de “companhia”, “grupo de companheiros”, e não o sentido que a palavra “sociedade” adquiriu no português atual. Por isso, preferiu-se manter o sentido original optando pela tradução “Companhia de Jesus”. Seus membros ficaram conhecidos como “jesuítas”.

Abreviação: Os religiosos jesuítas usam a sigla “S.J.”, que muita gente acredita que queira dizer “sacerdote jesuíta”. Na verdade, é a abreviação de “Socíetas Iésu“, porque, no latim eclesiástico, é comum substituir o “I” pelo “J” quando se trata de semivogal, como no caso de “Iésu”/”Jésu” (que significa “de Jesus”).

Fundador: Santo Inácio de Loyola, que é também o criador dos Exercícios Espirituais (por isso mesmo ditos “exercícios espirituais inacianos”). No tocante ao nascimento da Companhia de Jesus, é imprescindível, no entanto, mencionar a gigantesca contribuição dos co-fundadores, principalmente São Francisco Xavier e São Pedro Fabro, que eram os companheiros mais próximos de Santo Inácio na Universidade de Paris.


MANRESA

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Fundação: século XVI. Em 15 de agosto de 1534, os primeiros sete co-fundadores consolidaram o grupo fundacional emitindo os votos de pobreza, castidade e de peregrinar a Jerusalém, o que não foi possível devido à guerra entre Veneza e o Império Otomano. Ficando em Roma, eles decidiram fundar a nova ordem religiosa, que foi oficialmente aprovada pelo Papa Paulo III em 27 de setembro de 1540. Esta é a data que costuma ser apontada como a da fundação, embora também seja considerada muito relevante a data dos votos de 1534.

Local de Fundação: É comum se dizer que os jesuítas são uma ordem espanhola, o que faz sentido ao se considerar a origem do fundador e da maioria dos co-fundadores. No entanto, o grupo fundacional surgiu e se consolidou na França, enquanto estudavam em Paris. Já a decisão de fundar uma ordem religiosa propriamente dita, bem como o ato da fundação em si, aconteceu em Roma.

Lema:Ad maiorem Dei gloriam (Para a maior glória de Deus)

Votos: Além dos tradicionais votos religiosos de pobreza, castidade e obediência, os jesuítas têm um assim chamado “quarto voto” que reforça o de obediência, especificamente em relação à sua missão mundial: por esse voto, eles se comprometem a ficar sempre à disposição do Papa para aceitar qualquer missão que ele venha a lhes confiar, refletindo desta forma uma dedicação mais ampla à Igreja universal e não apenas aos âmbitos de atuação habitual da própria ordem religiosa.

Campos de ação: De acordo com o site da Companhia de Jesus, os jesuítas se enraízam na rica tradição da espiritualidade e reflexão inaciana. Em seus centros de retiro, paróquias, colégios, universidades e outros ambientes, eles oferecem esses recursos a todos os que desejam discernir a presença de Deus em sua vida. Ao mesmo tempo, propõem-se ser “contemplativos na ação”, ou seja, viver a espiritualidade em plena atuação no mundo, o que inclui o trabalho em prol da justiça, da paz e do diálogo entre os povos. Um meio de ação que os tornou particularmente conhecidos é o campo da educação, que inclui desde grandes universidades frequentadas pela elite social até escolas abertas aos pobres, visando oferecer educação e formação a todas as classes sociais, com especial cuidado pelos mais vulneráveis. A histórica boa relação entre os jesuítas e as ciências, havendo vários jesuítas cientistas ao longo dos séculos, levou o Vaticano a confiar a eles o seu Observatório Astronômico. Sua vasta atividade editorial também tem enorme relevância – inclusive, está a seu cargo a Rádio Vaticano.


Padres cientistas: o Padre Georges Lemaître com Albert Einstein em 1933

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Grandes missões “ad gentes“: Ao longo dos séculos, os jesuítas se mostraram corajosos missionários, levando a fé católica a todos os cantos do mundo, inclusive a povos muito distantes da cultura europeia. É o que se chama de “missões ad gentes“, ou seja, voltadas a todos os povos, a fim de lhes apresentar a fé em Cristo. Exemplos famosos dessas missões históricas são as de São Francisco Xavier na África oriental, na Índia, no Sudeste Asiático, na China e no Japão, bem como as inéditas missões entre os indígenas das Américas, entre as quais estão as reduções jesuíticas no sul do Brasil, no Paraguai e na Argentina, retratadas em alguma medida no célebre filme “A Missão“, de 1986, dirigido por Roland Joffé.

Perseguições, supressão e restauração: A impressionante expansão geográfica, a influência política, o poder financeiro, a defesa incondicional do Papa e o forte peso intelectual dos jesuítas incomodaram muitos poderes constituídos em várias épocas da história. Os governos iluministas da Europa do século XVIII forçaram a expulsão dos jesuítas de vários países, sendo Portugal o primeiro – o que incluía a então colônia do Brasil. As pressões foram tamanhas que a Companhia de Jesus chegou a ser suprimida em 1773 pelo Papa Clemente XIV. Eram tempos revolucionários e fortemente anticatólicos na Europa. Quarenta anos depois, o Papa Pio VII restaurou a ordem. Os jesuítas também sofreram pressões nos Estados Unidos recém-formados, por motivos semelhantes aos que levaram à perseguição na Europa da mesma época, e voltaram a passar por uma supressão na Espanha republicana e anticlerical da década de 1930. Além disso, foram particularmente perseguidos pela Alemanha nazista.

Controvérsias e desafios: Os jesuítas dispõem de grande liberdade de pensamento e expressão pessoal a respeito de uma ampla variedade de questões pastorais e da vida em sociedade. Assim, é possível dizer que visões de mundo que seriam “etiquetadas” pelo jargão ideológico atual como “mais de esquerda” ou “mais de direita”, ou de corte “modernista” ou “conservador”, podem ser encontradas dentro da ordem num ambiente de discussão e debate. Essa variedade não é muito diferente do que se vê na Igreja como um todo. O cuidado maior é para que as controvérsias circunstanciais não se choquem com a doutrina, o que chegou a acontecer no caso de posições específicas como, por exemplo, a adesão de alguns religiosos (desta ordem e de outras, bem como de parte do clero diocesano) à teologia da libertação, abertamente condenada pela Santa Sé. Situações semelhantes podem ser observadas na maioria das ordens e congregações religiosas, nesta época e em praticamente todas as anteriores: o desafio de dar respostas à realidade de cada tempo é permanente e sempre envolve uma “tensão transformadora” entre as circunstâncias da época e a fidelidade aos conteúdos essenciais e imutáveis da fé católica.

Papa Francisco: Apesar da enorme influência dos jesuítas na Igreja desde os seus primeiros anos de existência, nunca tinha havido um Papa jesuíta até 2013, com a eleição do cardeal Jorge Mario Bergoglio, o Papa Francisco.


POPE FRANCIS

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