Vários ônibus começaram a evacuar, na madrugada desta quinta-feira, civis e combatentes de duas localidades pró-regime na Síria, com base no acordo que permitirá que milhares de pessoas abandonem estas cidades após anos de assédio por parte de rebeldes e jihadistas.
Um correspondente da AFP observou cerca de 20 ônibus partindo de Fua e de Kafraya, em razão do acordo fechado entre Rússia, aliada do regime de Bashar Al Assad, e Turquia, que apoia os rebeldes.
Combatentes e civis partiram nos veículos junto com seus objetos pessoais.
A retirada envolve a totalidade dos habitantes das duas localidades, que deverão ser transferidos para territórios controlados pelo governo na vizinha província de Aleppo, segundo o Observatório Sírio dos Direitos Humanos (OSDH).
As localidades de Fua e Kafraya, no noroeste da Síria, tinham uma população de maioria xiita, ligada ao regime, e estavam cercadas pelos rebeldes e pelo grupo jihadista Hayat Tahrir Al Sham, antigo braço da Al-Qaeda na Síria, que controlam a maior parte da província de Idlib.
Nesta quarta-feira, na estrada que liga as duas localidades, um responsável da zona sitiada e outro do Hayat Tharir Al Sham ativaram a operação, retirando as barricadas e permitindo que 84 ônibus pudessem entrar, constatou o correspondente da AFP.
“Dezenas de ônibus e ambulâncias entraram em Fua e Kafraya para retirar a população assediada pelos terroristas”, confirmou a agência oficial de notícias Sana.
No total, 6.900 pessoas – civis e combatentes – devem ser retiradas, segundo uma fonte do Hayat Tahrir Al Sham. Em troca, o regime libertará 1.500 prisioneiros.
Em abril de 2017, durante outra operação de evacuação, dezenas de habitantes de Fua e de Kafraya morreram na estrada em um atentado suicida.
Nesta quinta-feira, a segurança foi reforçada enquanto os ônibus partiam lentamente das duas localidades, escoltados por combatentes do Hayat Tahrir al Sham.
Momentos antes da meia-noite, várias ambulâncias iniciaram a evacuação, transportando 15 habitantes doentes ou feridos, e se dirigiram ao passo de Al Eis, que une a província de Idlib à vizinha Aleppo, controlada pelas forças do regime, comprovou a AFP.
Uma fonte do Hayat Tahrir al Sham declarou que trata-se de um “gesto de boa vontade” antes da evacuação completa.
Segundo o OSDH, o acordo entre Rússia e Turquia prevê que Idlib não sofrerá uma ofensiva das forças do regime.
Idlib, no noroeste da Síria, faz fronteira com a Turquia e hoje está quase que totalmente rodeada por territórios controlados pelo regime em Damasco.
Na província vivem mais de dois milhões de pessoas, incluindo civis sírios e rebeldes que partiram de outros territórios em função de acordos alcançados com o regime de Bashar Al-Assad.
A guerra civil na Síria começou em 2011, após a repressão de manifestações pacíficas por parte do regime, e foi se tornando mais complexa com o passar dos anos e o envolvimento de diversos atores em um território cada vez mais fragmentado.
Com a participação mais ativa da Rússia no conflito, as forças pró-regime foram recuperando terreno e hoje controlam as principais áreas do país.
O conflito já deixou cerca de 350 mil mortos e milhões de deslocados e refugiados.
(AFP)