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Conheça a socialista que se tornou uma serva dos pobres

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JIM FOREST | CC

Carmen Neira - publicado em 10/08/18

A história de Dorothy Day aponta para a nossa profunda necessidade de conexão humana no serviço às pessoas, e não apenas às ideologias

Dorothy Day entendeu que as pessoas precisam formar uma comunidade e buscar laços de amizade. Com seu trabalho e seu exemplo, ela mostrou ao mundo que é possível lutar pelo bem comum, pela justiça e pelos outros dentro de uma sociedade individualista. Ela lutou contra o sentimento de solidão e é por isso que ela intitulou sua autobiografia The Long Loneliness(A Longa Solidão). Ali ela explica:

“Eu estava sozinha, mortalmente sozinha. E eu logo veria, mais uma vez, como já fiz em outras ocasiões, que as mulheres são especialmente seres sociais que não se contentam apenas com um marido e uma família; elas também precisam ter uma comunidade, um grupo, uma troca com os outros. Um filho ou uma filha não é suficiente. Um marido e algumas crianças, não importa o quão ocupada eles a mantenham, também não são suficientes. Nós mulheres, jovens e velhas, somos especialmente vítimas da longa solidão, mesmo nos anos mais ativos de nossas vidas”.

Jornalista e ativista social

Dorothy Day nasceu no Brooklyn, Nova York, em 8 de novembro de 1897. Ela cresceu em uma casa modesta. Seus pais eram protestantes e se casaram na igreja episcopal. Ela não foi batizada, nem teve devoções ou religiosidade.

Mas um evento a marcou aos 8 anos – o terremoto de São Francisco: “Minha memória mais clara do terremoto é o calor humano generalizado e a bondade que seguiu após isso. […] Após o terremoto, a caridade cristã encheu o coração das pessoas” (Dorothy Day,  My Conversion). Este evento que ela viveu tornou-se a semente do grande Movimento Operário Católico, onde acolheria os marginalizados da Terra.

Ela começou seus estudos universitários na Universidade de Illinois e conheceu os ideais do proletariado. Ela se apaixonou pelo poder das massas graças às ideias marxistas: “Foram os pobres e os oprimidos que a levariam: eles eram coletivamente o novo Messias que redimira os perseguidos, flagelados, presos e crucificados”.

Aos 18 anos, ela saiu da universidade e começou a escrever e se envolver em ativismo em Nova York. Ela trabalhava em um jornal e morava em uma pequena sala onde ela só dormia depois de longos dias de trabalho. Naquela época, ela era muito agressiva. Ela comemorou a revolução russa, foi presa pelo exigente direito de voto das mulheres e iniciou uma greve de fome na prisão que a deixou isolada e privada de companhia.

Durante esses dias, ela pediu uma Bíblia para um guarda (era o único livro que tinham permissão para ter) e começou a se sentir atormentada pela ideia de Deus. Ela tentou se afastar da Bíblia, mas pouco a pouco pegava para ler. Ela escreveu uma vez que, mesmo depois de passar a noite em um bar, ela entrou em uma igreja e se ajoelhou.

Sua vida romântica também não era simples. Ela conheceu um jovem judeu, Lionel Moise, e se apaixonou por ele. Ela ficou grávida e sentiu-se forçada a abortar. Pouco depois, ela se casou com Barkeley Tobey, mas seu casamento não durou mais de um ano. Ela se apaixonou novamente, desta vez por Foster Batterham, e ficou casada. Como disse, ele era “um anarquista, um inglês por descendência e um biólogo”.

Conversão e o mundo dos trabalhadores

Ela engravidou novamente e viveu isso com grande felicidade. “Fiquei surpresa quando eu comecei a rezar todos os dias”, explica em sua autobiografia. Ela colocou o nome de Tamar em sua filha e, depois de muita reflexão, sabendo que seu marido deixaria, ela também decidiu ser batizada. Ela confessou e recebeu a comunhão pela primeira vez.

A partir desse momento, sua vida religiosa se aprofundaria, e ela encontraria Peter Maurin. Com ele, ela fundou um grande trabalho para ajudar as classes sociais mais baixas: The Catholic Worker (Movimento Operário Católico). Peter Maurin tinha o peso intelectual católico e ela trouxe força ilimitada e amor aos mais pobres, inspirados pelo Evangelho. Ambos fizeram história.

The Catholic Worker passou a ser um jornal com uma circulação de mais de 150.000 cópias, e graças aos esforços da Dorothy, eles criaram uma rede de albergues que se tornou um ponto de referência social e caritativo nos Estados Unidos. Atualmente tem 227 comunidades.

Ela nunca parou de lutar pelos trabalhadores. Ela conheceu e visitou a Madre Teresa em Calcutá e no seu 80º aniversário, recebeu calorosas felicitações do Papa Paulo VI. O Papa Francisco a mencionou em seu primeiro discurso nos Estados Unidos, e agora, como Serva de Deus, espera-se que ela seja canonizada em algum momento no futuro.

Ela sempre quis ser lembrada com estas palavras: “Como uma humilde crente que fez o que pôde para viver de acordo com os ensinamentos bíblicos, que continuei estudando, por exemplo, o sermão da montanha”.

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