Estamos condicionados a ver crime organizado, estupradores e traficantes de drogas onde existem pessoas pobres, diz arcebispoAporofobia é repugnância por aqueles que carecem de recursos, aqueles com necessidades: os pobres. Aporofobia significa aversão aos pobres.
Os linguistas retiraram esse neologismo – aporofobia – do contexto da antiga palavra grega “áporos” (pobre).
O termo “fobia”, embora possa ser usado como um verbo por conta própria, também funciona como sufixo que, quando adicionado a uma palavra, indica medo, ódio ou repulsa em relação ao que a palavra original designa.
A palavra “aporofobia” foi criada em primeiro lugar em espanhol, e mais recentemente passou a ser usada em outras línguas.
Santiago Agrelo Martínez, arcebispo de Tânger, Marrocos, é uma das vozes mais claras a favor de uma maior empatia e tratamento humano dos imigrantes e dos pobres em geral.
Em conversa com a Aleteia, ele diz que “é óbvio que, se uma palavra nasceu, uma realidade a precedeu; a realidade perturbadora e muito triste que é uma aversão aos pobres”.
“Aversão” é uma palavra apropriada, uma vez que aversão é um sentimento de repugnância.
O arcebispo Agrelo afirma que nenhuma pessoa boa permitiria, em seu coração, sentimentos de repugnância e/ou ódio contra as pessoas apenas porque são pobres; no entanto, estamos infectados por esses sentimentos.
Estamos nos tornando desumanos? “Não penso assim”, diz o arcebispo.
Mas o que é definitivamente verdadeiro é que “alguém nos enganou, e onde há pessoas pobres, fomos condicionados a ver uma ameaça à nossa segurança, um perigo à nossa saúde; onde há gente pobre, fomos condicionados a ver crime organizado, terroristas, estupradores, traficantes de drogas e ladrões; onde há pessoas pobres, fomos condicionados a ver imigrantes ilegais, pessoas em situações legais irregulares, pessoas que vivem clandestinamente e criminosos violentos”.
“Assim, a repugnância e o ódio contra os pobres – aporofobia – encontrou um álibi (o que é natural para nós é a repugnância e o ódio contra os ratos) que nos deixa com a mente tranquila e envenenada; estamos tranquilos e inconscientes, tranquilos e indiferentes diante de uma das maiores tragédias da humanidade”, ele denuncia.
“Tenho muito medo de que a aporofobia, cultivada contra os imigrantes, vire-se contra nós sob a forma de ódio e desprezo por todos aqueles que são fracos, indefesos, vulneráveis… Escolha qualquer exemplo que você queira na área da família, da escola, da sociedade: há material para escrever um livro”, escreveu o arcebispo, um franciscano de Galiza, na Espanha.
Precisamos de “doses maciças de verdade, de autenticidade, de discernimento, de amor para com os outros, de amor pela vida, de amor pela terra. E isso não é um desejo aleatório ou apenas palavras superficiais.
Se há uma vida que [você acha que] não merece respeito, você já deu o seu motivo para não respeitar nada. Se há uma vida que você possa tratar com desprezo, você já justificou o desprezo por qualquer coisa. Você não pode oprimir os migrantes e ao mesmo tempo defender os trabalhadores. Você não pode abortar e defender o seu próprio direito à vida”, concluiu o arcebispo Santiago Agreo Martínez.