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O que os filósofos podem nos ensinar sobre Deus e religião?

JESUS CHRIST TEACHING IN THE TEMPLE

By Renata Sedmakova | Shutterstock

Nikola Krestonosich - publicado em 21/08/18

A palavra “deus” tem sido usada para se referir a diferentes coisas

Seja qual for o assunto em que os filósofos se detiveram, independentemente das alegações que apresentaram sobre esses assuntos (e acredite em mim, eles apresentaram muitas afirmações sobre muitas coisas) a primeira coisa que alguém tem que fazer para passar como um filósofo respeitável é dominar uma terminologia específica.

O filósofo é, em primeiro lugar, um conhecedor de uma determinada terminologia composta de palavras de origem grega como “ideia”, “metafísica” ou “ética”, e de origem latina como “valor”, “moral” e “tolerância”. Pode-se dizer que o vocabulário filosófico padrão é, para citar Paul Oskar Kristeller, o sedimento de mais de dois mil anos de pensamento.

“Deus” é um desses termos que podemos encontrar nos escritos dos filósofos desde o início; uma daquelas palavras com as quais sua disciplina exige deles que se torne familiar e que ganhe maestria.

Mas como aconteceu com toda a terminologia filosófica, a palavra foi usada para se referir a diferentes coisas.

Houve politeístas, teístas, panteístas e filósofos ateus, e para cada um deles, a palavra “deus” significou coisas diferentes.

O que, por exemplo, Platão e Aristóteles quiseram dizer com esta palavra (ou, mais corretamente, por seu equivalente grego) é algo diferente do que Santo Agostinho ou Santo Tomás de Aquino pensavam sobre ela (ou, mais corretamente, por seu equivalente latino).

Mas os filósofos podem nos ensinar algo sobre Deus e religião? Existe uma noção central sobre o ser divino que poderia ser descoberta no fundamento de todas as suas discussões sobre Deus?

Sem medo de errar, pode-se argumentar que não existe um fio único, nenhum corpus doutrinal coerente que junte todos os pensamentos dos filósofos sobre “deus” e que, na verdade, seria infrutífero, do ponto de vista hermenêutico, para tentar forçar uma única visão sobre esse assunto em seus escritos.

É talvez por aborrecimento com este estado de coisas que a muitos dos homens religiosos, para quem Deus não é um conceito, mas uma realidade concreta e operacional, sentiram os filósofos como inimigos da religião. Talvez esse sentimento de aborrecimento que tenha desencadeado  as palavras de Paulo:

“Pois está escrito: ‘Destruirei a sabedoria dos sábios e rejeitarei a inteligência dos inteligentes’. Onde está o sábio? Onde está o doutor da Lei? Onde está o que investiga as coisas deste mundo? Por acaso Deus não mostrou que a sabedoria deste mundo é loucura?… Pois a loucura de Deus é mais sábia que os homens, e a fraqueza de Deus é mais forte que os homens. De fato, considerem este chamado de vocês: Não há entre vocês nem muitos sábios segundo a carne, nem muitos poderosos, nem muitos da alta sociedade. Deus, no entanto, escolheu o que é loucura no mundo para desacreditar os sábios” (1Cor 1,19-27).

Mas, talvez, estamos olhando o assunto do ângulo errado. Não é no conteúdo religioso da filosofia, no que os filósofos realmente disseram a respeito de Deus e da religião, onde devemos nos concentrar. Lá, é claro, só podemos encontrar uma falta de consenso sem fim. Talvez, o que devemos olhar e focar seja a maneira como os filósofos lidaram com essa falta de consenso. Como Odo Marquard disse uma vez:

“Portanto, o consenso não é sempre necessário; o que é muito mais valioso é um mal entendido produtivo; e o mais valioso de todos é uma razão simples: o abandono do esforço para permanecer estúpido… O antigo vício do filósofo, como profissão – seu déficit crônico de consenso – acaba por ser uma virtude interdisciplinar ultramoderna: acima de tudo, uma proficiência em sobreviver da confusão conversacional sem desânimo” (In Defense of the Accidental).

Esta virtude de permanecer calmo sob a incerteza, de sobreviver da confusão sem desânimo é, podemos ter certeza disso, de valor religioso eterno.

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