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Os efeitos da crise migratória da Venezuela na América do Sul

VENEZUELANS

Antonio Cruz-Agência Brasil-(CC BY-NC 2.0)

Agências de Notícias - publicado em 26/08/18

Segundo a ONU, 1,6 milhão de venezuelanos se deslocaram pela região desde 2015

A Venezuela tem assistido a um êxodo maciço da sua população que foge da pobreza, da hiperinflação, da falta de serviços públicos e da escassez de bens de primeira necessidade.

A AFP procura revelar como o país chegou a esta situação e seu impacto não apenas na Venezuela, mas em toda a América do Sul.

– Qual a magnitude da migração venezuelana? –

Segundo a ONU, 1,6 milhão de venezuelanos se deslocaram pela região desde 2015, quando as consequências da crise começaram a ser sentidas no país.

A organização aponta que 2,3 milhões de venezuelanos vivem no exterior, embora outras fontes indiquem números superiores. O think tank da Universidade Central da Venezuela que analisa a diáspora, diz que 3,8 milhões de pessoas deixaram o país desde que o revolucionário socialista Hugo Chávez chegou ao poder em 1998.

O sociólogo venezuelano Tomás Páez assegura que entre 10 e 12% de seus concidadãos vivem fora da Venezuela, distribuídos em mais de 90 países.

Tradicionalmente, a maioria está na Colômbia, nos Estados Unidos e na Espanha, mas o Peru tem visto desde 2015 o fluxo migratório de venezuelanos multiplicar por 150.

Como a maioria viaja a pé, a jornada é dolorosa através de um continente de 17,8 milhões de quilômetros quadrados.

Muitos acabam dormindo em acampamentos improvisados ​​ou nas ruas, vivendo de doações de alimentos e ganhando algum dinheiro limpando parabrisas de carros nos semáforos.

– Como se chegou a esta situação? –

Tudo começou com a eleição de Chávez como presidente, segundo Páez, mas se acelerou quando Nicolás Maduro assumiu o poder em 2013.

A excessiva dependência da Venezuela de suas vastas reservas de petróleo – 96% de sua receita vem do petróleo – significou um problema com o colapso do preço do petróleo em 2014, causando uma escassez de moeda.

A resposta do governo foi imprimir mais dinheiro, causando um aumento exponencial da inflação e quatro anos de recessão.

Páez afirma que a “insegurança” e o “repúdio” de não ser dono da própria vida são os principais fatores que levaram os venezuelanos a fugir de seu país.

E acrescenta: com a “deterioração econômica… a terrível escassez e o valor do bolívar”, a situação se tornou “uma crise humanitária”.

– Como afeta a Venezuela? –

Inicialmente, o país sofreu uma fuga de cérebros e de capitais.

“No início, a migração foi de pessoas com dinheiro e uma educação universitária”, explica Alfonso Uannucci, que possui um site que divulga testemunhos da diáspora venezuelana em todo o mundo.

Tomas Pérez Bravo, do think tank da diáspora da Universidade Central da Venezuela, afirma que não existe um único tipo de pessoa que abandona o país.

“Os pobres estão saindo porque agora todos são pobres”.

E eles estão fugindo a pé “não porque não são químicos, sociólogos ou engenheiros”, mas porque “levaria 30 anos para economizar para comprar uma passagem de avião”.

Carlos Malamud, analista da América Latina no Real Instituto Elcano de Madri, assegura que o êxodo é um estratagema deliberadamente orquestrado por Maduro, “que usa a migração como uma arma política contra a oposição”.

– Como afeta a região? –

Iannucci diz que “a avalanche de venezuelanos colapsou” cidades fronteiriças que não estavam preparadas para tal fluxo, como Paracaima e Boa Vista, no estado de Roraima.

Os migrantes venezuelanos foram responsabilizados por um aumento da criminalidade e por competir por empregos e leitos hospitalares, o que levou uma gangue a incendiar os acampamentos de migrantes e persegui-los até o outro lado da fronteira.

“Estamos perto da quebra”, afirma o secretário do Governo de Roraima, Marcelo Lopes.

Iannucci acredita que as coisas vão piorar: “Esta é apenas a ponta do iceberg”.

No entanto, o impacto não é totalmente negativo e os países que hospedam venezuelanos também podem colher benefícios, afirma Pérez Bravo.

“Na Argentina dizem que os que chegaram são jovens, empreendedores e bem qualificados”.

“Quase 60% dos médicos que se candidatam a empregos no Chile são venezuelanos”.

Peru e Equador anunciaram restrições no controle de suas fronteiras antes de flexibilizá-las.

O Equador pediu uma reunião dos 13 países da América Latina no próximo mês, enquanto a ONU se prepara para formar uma equipe especial para assegurar a coordenação regional para responder à crise.

– Como comparar a outras migrações? –

Em termos quantitativos, a migração de venezuelanos já superou o êxodo de cubanos depois da revolução de Fidel Castro que derrubou o ditador Fulgencio Batista.

Cerca de 1,4 milhão de cubanos deixaram a ilha para os Estados Unidos, enquanto outros 300 mil foram para a América Latina, Caribe e Europa, segundo o Instituto de Política Migratória com sede em Washington.

Mas esse êxodo aconteceu ao longo de seis décadas, não em quatro anos.

A maioria dos cubanos foi para os Estados Unidos, mas “as sociedades latino-americanas não estão preparadas para essa magnitude de chegadas”.

O êxodo venezuelano “é uma crise profunda”. “Esse fenômeno pode ser comparado à crise de refugiados na Síria”, ele enfatiza.

Segundo a ONU, 5,6 milhões de sírios deixaram o país, enquanto outros 6,6 milhões se deslocaram dentro do território nos sete anos e meio da guerra civil.

(AFP)

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