Na viagem de retorno da Irlanda, o Papa Francisco foi questionado sobre a carta do ex-núncio mons. VinganòNa coletiva de imprensa em seu voo de retorno da Irlanda, nesse domingo, o Papa Francisco foi questionado sobre a carta de um clérigo que o acusa de omissão em um caso de abuso sexual nos EUA.
O ex-núncio nos Estados Unidos, Dom Carlo Maria Viganò, havia divulgado nesse final de semana uma carta em que acusa o Papa Francisco de omissão no episódio do cardeal McCarrick, acusado de abuso sexual contra jovens seminaristas.
O Papa Francisco convidou os jornalistas a tirarem suas próprias conclusões.
“Eu sinceramente digo isto: leiam com cuidado e façam o seu próprio julgamento. Não vou dizer uma palavra sobre isso. Creio que o documento fala por si”.
Em vez disso, ele falou e explicou outros aspectos delicados, como a modalidade de levar ao tribunal um bispo acusado de abuso.
Ele rejeita com delicadeza o desejo de Marie Collins – ex-membro da Pontifícia Comissão instituída para combater o fenômeno e vítima ela mesma de violências por um padre irlandês – de criar um tribunal especial, conforme indicado no Motu proprio “Como uma mãe amorosa”.
Na realidade, temos visto, disse Francisco, que mais do que um júri, é mais eficaz a criação de um colégio “ad hoc” para cada caso. “Funciona melhor assim”, assegura o Papa, que recorda como o último a ser submetido ao tribunal foi o arcebispo de Guam e que outro procedimento está em andamento.
O Papa foi questionado sobre o que “o povo de Deus” pode e deve fazer diante de atos tão perversos praticados pelos sacerdotes.
Também aqui o Papa suprime a reticência e indica nas famílias feridas o primeiro obstáculo, muitas vezes, à transparência. “Quando se vê algo – afirma com força – é preciso falar imediatamente”.
Muitas vezes são os pais a encobrirem o abuso de um padre porque não acreditam no filho ou na filha.
Por outro lado, no entanto, o Papa critica as ações dos meios de comunicação que iniciam julgamentos de rua antes que uma responsabilidade seja apurada.
Francisco cita o caso do grupo de sacerdotes de Granada, cerca de dez, acusado de pedofilia por um jovem empregado em um colégio, que escrevera ao Papa que tinha sido vítima de violências.
Bem, o cadafalso da humilhação sofrido por alguns desses padres se revelou a injustiça mais cruel porque depois a justiça comum os considerou inocentes.
Assim, é o convite do Papa aos jornalistas, “seu trabalho é delicado”, vocês devem dizer as coisas “mas sempre com a presunção de inocência e não com a presunção de culpa”.
O Papa dedicou palavras de estima à ministra irlandesa que lhe falou sobre o dramático caso do orfanato de religiosas irlandesas em Tuam.
Objeto de uma investigação pelas autoridades que configura o orfanato como local de abusos e horrores repetidos nas décadas passadas, o Papa disse que aguarda o resultado final da atividade de investigação também para verificar as responsabilidades da Igreja.
De qualquer forma, o apreço do Papa é todo pelo “equilíbrio” e pela “dignidade” com que a representante do governo irlandês lhe informou sobre o assunto.
Ainda sobre o assunto da Irlanda, uma pergunta a Francisco sobre o que ele diria a um pai cujos filhos se confessem ser homossexuais. “Eu diria a ele: rezar, não condenar, dialogar, entender, abrir espaço ao filho à filha”, porque “ignorar é uma falta de” paternidade e maternidade.
O caso do navio “Diciotti”
Uma das primeiras questões a serem abordadas na coletiva de imprensa foi a da imigração. A pergunta teve início com a feliz conclusão do episódio do navio italiano “Diciotti”, que desembarcou em Messina mais de cem migrantes após cerca de dez dias sem a possibilidade de atracar.
“Há sua mão neste caso?”, pergunta ao Papa o jornalista, e Francisco responde que não, ele diretamente não, mas é obra do “bom padre Aldo Buonaiuto, da Fundação João XXIII, mas também da CEI, (Conferência Episcopal Italiana) com o cardeal Bassetti.
Recorda o critério de prudência que deve guiar um país no acolhimento dos imigrantes, mas acima de tudo Francisco chama a atenção para o valor da integração. Pode mudar uma vida, disse, como a da estudante que ele trouxe da ilha de Lesbo e recentemente ingressou na Universidade. Isso para arrancar dos traficantes o comércio de carne humana e dar dignidade àqueles que buscam uma nova vida.
(Com Vatican News)