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Por que um cérebro grato é um cérebro caridoso?

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Por PopTika/Shutterstock

A vida que você quer - publicado em 31/08/18

A conexão neural entre a gratidão e o altruísmo é muito profunda, sugere nova pesquisa

Quando você pensa sobre gratidão e seu lugar em nossa cultura, você pode não pensar imediatamente em moralidade – isto é, o que é certo e errado.

Frequentemente, fazemos a gratidão soar como se fosse tudo sobre você. No campo da auto-ajuda, ouvimos que a gratidão é o ingrediente mais importante para viver uma vida de sucesso e realizações – ou que quando somos gratos, o medo some e a abundância aparece.

Na verdade, pesquisas apoiam a ideia de que gratidão ajuda de fato aqueles que a praticam. Elas reportam menos sintomas físicos de doenças, mais otimismo, maior alcance de metas, e menos ansiedade e depressão, entre outros benefícios de saúde.

Se você para de se sentir bem, gratidão certamente parece mais com um clichê (/uma banalidade, algo trivial, platitude) do que uma emoção moral que motiva reciprocidade e altruísmo. Mas aqui está onde eu acho que muitos de nós erra na gratidão.

Existe um conceito muito mais velho, pré-auto-ajuda, de gratidão como uma emoção com motivações morais. Para o filósofo do Século I Cícero, gratidão era uma questão de obrigação religiosa “para os deuses imortais”. Psicólogos modernos como Michael McCullough e colegas sistematizaram desta maneira: Gratidão é um “barômetro moral”- um reconhecimento “que um tem sido o beneficiário das ações morais de outra pessoa.” Eles continuam discutindo que gratidão é também um reforço moral, o que significa que você vai ver um “obrigado” dos outros como uma recompensa que o levará a dar mais no futuro.

Meu próprio trabalho tentou mapear a relação entre gratidão e altruísmo no cérebro. Estou descobrindo que a conexão neural entre os dois é muito profunda, e que cultivar gratidão pode nos encorajar a nos sentirmos mais generosos.
Nós não dizemos “obrigado” por razões egoístas. Longe disso: Gratidão, como dar (/doar), pode ser sua própria recompensa.




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Quando pensamos em pesquisas sobre a relação entre gratidão e altruísmo, existem normalmente duas principais abordagens.

Primeiro, podemos perguntar se pessoas que parecem ser mais gratas são também mais altruístas. Pesquisadores usam questionários para determinar o grau no qual alguém é tipicamente grato.

Eles perguntam outras questões para determinar o grau no qual alguém é em geral caridoso. Enfim, usam estatísticas para determinar até onde o altruísmo de alguém poderia ser predito por sua gratidão.

Esses estudos são úteis para entender a maneira que a gratidão pode ser ligada ao altruísmo – na verdade, os dois parecem caminhar de mãos dadas – mas é claro, eles dependem da habilidade de alguém para julgar sua própria gratidão e altruísmo. Podemos imaginar alguém se promovendo como tremendamente grato, ou a pessoa mais generosa do planeta desde Madre Teresa, mas isso podendo ser mentira. É por isso que estudos usando esses métodos não podem explicar porque pessoas gratas podem se comportar de maneira pró-social.

Talvez elas apenas se sintam culpadas. Ou talvez pessoas altruístas se sentem bem quando outras pessoas se dão bem. Como podemos saber?


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A essa altura, devemos usar uma abordagem experimental. Em um estudo recente, alguns colegas meus tentaram entender a relação entre tendências pró-sociais gerais e a maneira que o cérebro responde à doações caridosas. Para começar, os pesquisadores acessaram as tendências pró-sociais dos participantes usando questionários. Depois, eles forneceram os participantes com dinheiro real e os colocaram em um aparelho de ressonância magnética que mede níveis de oxigênio e sangue no cérebro.

Na ressonância, o dinheiro podia ir para os próprios participantes ou para uma caridade, como a banca alimentar local.

Às vezes, esses presentes eram voluntários; às vezes não, para que fosse mais como um imposto (/uma taxa) do que uma doação. Essa distinção era importante, porque na condição de parecer um imposto, o participante não pode se sentir bem por fazer uma escolha caridosa –apenas pela instituição de caridade receber dinheiro. Enquanto o dinheiro era transferido, meus colegas focavam nos centros de recompensa do cérebro – as regiões que nos dão uma dose de neurotransmissores de prazer – para comparar a resposta do cérebro a essas várias condições.

O resultado? Meus colegas descobriram que os participantes mais pró-sociais sentiam muito mais recompensa interna quando o dinheiro ia para a caridade do que para eles mesmos. Eles descobriram algo a mais: Quanto mais velho o participante, maior essa disposição benevolente – sugerindo que, com a idade, seu cérebro pode te recompensar mais quando você vê o bem no mundo, ao invés de quando você ganha algum benefício para si mesmo.

Após ver resultados como esses, nos resta imaginar o que faz de alguém grato ou altruísta em primeiro lugar. É uma questão de ter a dose certa de genes pró-sociais? Ou é uma vida de experiências ou socialização familiar que encoraja ambos gratidão e solidariedade?

O estudo dos meus colegas respondeu algumas grandes questões, mas também deixou algumas sem resposta. Uma dessas grandes questões envolvia a conexão entre gratidão e altruísmo. Eles caminham lado a lado? A gratidão realmente encoraja o altruísmo?

Treinando o cérebro grato

Para começar a descobrir, conduzi um experimento que era bem similar com os de meus colegas. A principal diferença? Eu perguntei aos participantes sobre seus níveis de gratidão, assim como seus níveis de altruísmo, com uma versão resumida da tarefa de caridade. Após eles realizarem suas atividades solidárias nos aparelhos de ressonância magnética, comparei a resposta do cérebro para fins que beneficiavam a caridade vs. a si próprios, como no estudo anterior.

Descobri que os participantes que se diziam mais gratos e altruístas tinham uma resposta mais forte nas regiões de recompensa do cérebro quando beneficiavam a caridade, como no estudo anterior. Eu estava animada para achar esse resultado em um novo grupo de pessoas com uma tarefa similar, porém não idêntica.

Havia outra diferença em nossos dois estudos: Enquanto os participantes deles não eram restringidos por idade, o meu incluía mulheres jovens. Meus colegas viram que a medida de benevolência neural e comportamental aumentava com a idade – mas ninguém havia mostrado que essa medida podia mudar durante um intervalo de tempo menor em jovens saudáveis. Essa era outra grande questão que precisava ser respondida. Meu pressentimento era que a prática da gratidão levaria a mais tendências altruístas no cérebro.




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Então, na segunda fase do experimento, eu aleatoriamente designei metade dos meus participantes para escrever um diário de gratidãotodas as noites até outra ressonância em algumas semanas. A outra metade do grupo escreveu diários expressivos, mas com intuito de textos neutros ao invés de focados em gratidão. Nenhum grupo foi dito qual era o propósito do estudo, ou o que outras pessoas estavam fazendo.

No final de três semanas, os participantes retornaram para sua segunda ressonância. Mais uma vez, a medida principal era a resposta de recompensa do cérebro para onde o dinheiro ia – uma caridade versus eles mesmos.
Mudaria mais para o grupo da gratidão do que para o grupo do controle? Com certeza mudou! A resposta no córtex pré-frontal ventromedial, a principal região para processamento de recompensas no cérebro, mostrou um aumento na medida de altruísmo puro para o grupo de gratidão, e uma baixa no grupo do controle.

É claro, muitos fatores podem influenciar o processamento de recompensa do cérebro. Nós podemos imaginar que receber $5 poderia fazer você se sentir ótimo…ou poderia fazer você se sentir traído se você estava esperando por mais. Realmente depende. Entretanto, descobri que após praticar a gratidão por três semanas, o córtex pré-frotal ventromedial aumentava o valor que dava para benefícios aos outros. E, lembre, isso é para as transferências como impostos, quando participantes não podem nem se auto-parabenizar por fazer uma escolha altruísta. O computador fez a escolha; eles apenas observaram o resultado. Eles perderam $5, mas a caridade ganhou – e seus cérebros se sentiam melhor como consequência.

De certa maneira, gratidão parece que prepara o cérebro para generosidade. Contar suas bênçãos é bem diferente de contar seu dinheiro, pois gratidão, bem como filósofos e psicólogos preveem, nos leva a comportamentos morais, reciprocidade, e correntes do bem. Aparentemente, nosso cérebro literalmente nos faz sentirmos mais ricos quando outros se dão bem. Talvez seja por isso que pesquisadores têm observado que pessoas gratas doam mais.

Gratidão pode ser bom para nós – mas é bom para os outros também.


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(Via A vida que você quer. Fonte: https://greatergood.berkeley.edu/ tradução de Mariana Pires)

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