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O que eu posso fazer agora para ajudar a Igreja?

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George Martell | Archdiocese of Boston | CC BY-ND 2.0

Pe. Jeff Kirby - publicado em 03/09/18

“Nenhum mau sacerdote vai me afastar de Jesus. Mesmo assim, eu ainda quero fazer alguma coisa…"

Recentemente, uma senhora se aproximou de mim depois de uma Missa em que eu falei sobre os escândalos de abuso sexual na Igreja. Ela pegou minha mão, olhou nos meus olhos e disse: “Não se preocupe, padre, nenhum mau sacerdote vai me afastar do meu Jesus”. “Amém”, pensei. Mas ela não terminou. Depois de sua declaração, ela parecia mais perplexa. Ainda segurando a minha mão, ela me perguntou: “O que eu posso fazer agora?”.

É uma pergunta simples, mas que ecoou ao longo de toda a história da salvação. E um olhar mais atento sobre esta questão pode nos ajudar a encontrar uma resposta concreta para os nossos tempos…

Depois que os babilônios destruíram Jerusalém e o Templo de Salomão – conhecido por ser a morada de Deus na terra – o “povo escolhido” foi levado ao cativeiro. Ninguém poderia ter imaginado tal realidade. O Templo foi arrasado, a Cidade Sagrada de Jerusalém devastada e as promessas de Deus ignoradas. Mas como poderia o próprio Templo de Deus ser destruído? Como poderia a cidade de Davi ser demolida?

Não tendo certeza do que fazer – e em desespero – os israelitas se voltaram ao profeta Ezequiel e disseram: “Nossas ofensas e pecados nos sobrecarregam e estamos perdendo por causa deles. Como, então, podemos viver?” (Ezequiel 33:10).

Isso lhe parece familiar?

No nosso tempo, sofremos uma situação semelhante. Como pode a própria Igreja de Jesus Cristo ser atormentada por escândalos sexuais? Como os pastores do povo de Deus podem ser tão negligentes? Como essas coisas podem acontecer na Igreja, que é o sacramento e a presença de Deus na terra?


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E qual foi a resposta de Ezequiel ao povo de Deus? Ele disse que o Senhor chama seu povo para conversão espiritual, transparência e integridade moral. Ao descrever a solução de Deus, Ezequiel recorre à imagem de um pastor. Na visão do profeta, certos atributos desse pastor ganham destaque: pobreza de espírito, tristeza sobre o mal, mansidão, busca pela santidade, misericórdia, pureza de coração, busca de paz e disposição para sofrer por justiça.

Essas qualidades podem ser descritas como um modelo. Cada uma delas, e de maneira diferente, é sustentada ao longo da narrativa bíblica.

Mas a receita, em sua forma mais precisa, foi dada à família humana pelo Senhor Jesus nas “Beatitudes” do Sermão da Montanha (Mt 5-7). Nos ensinamentos oferecidos por Ele, os fiéis podem encontrar o caminho seguro para a felicidade, a santidade e, sim, para a verdadeira reforma da Igreja. Em meio aos escândalos, desapontamentos e indignação de nossa época, se estivermos dispostos a confiar – apesar das trevas – no Deus vivo de nossos antepassados, e nos apegarmos ao caminho da santidade que ele ensina e modela para nós, o mal será exposto e o bem triunfará.

É por isso que a primeira bem-aventurança fala da pobreza de espírito. É somente ao nos aproximarmos de Deus com um verdadeiro reconhecimento de nossa profunda necessidade por Ele que podemos, autenticamente, trabalhar (e sofrer) pela justiça. É essa pobreza de espírito que nos leva à tristeza diante do mal (a segunda bem-aventurança) e à certeza de que temos um lugar em sua obra (a terceira bem-aventurança).

Esses três movimentos despertam um desejo em nossas almas. Com isso, começamos a ter fome e sede de santidade (a quarta beatitude).

Depois de uma verdadeira sede de justiça nascida dentro de nós, podemos, agora, ser misericordiosos com nosso próximo, puros de coração e pacificadores (as quinta, sexta e sétima bem-aventuranças).

A fluidez das bem-aventuranças mostra toda uma lógica interior e prova que elas são um resumo, um modelo de estilo de vida. Tudo isso culmina na oitava bem-aventurança, que é a disposição para sofrer a perseguição. Não é de se surpreender que apenas a primeira e a oitava beatitudes tratem especificamente do reino de Deus. A primeira bem-aventurança é a porta de entrada, enquanto a oitava é o compromisso de compartilhar a vida que recebemos.

E este modo de vida se estende a todos os fiéis. É a resposta para senhora da minha paróquia; é minha resposta!

As bem-aventuranças são a resposta a todos aqueles que nunca permitirão que os maus sacerdotes nos afastem do nosso Jesus. São também a resposta para aqueles que querem desesperadamente ver a Igreja consistente e convincente em sua adoração a Deus, no anúncio do Evangelho e a serviço de todos…




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