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Imagine o que aconteceria se usássemos palavras “reais” ao enviar mensagens de texto

Woman Texting

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Cerith Gardiner - publicado em 10/09/18

Acrônimos, emoticions e agora os GIFs podem ser mais rápidos para se expressar, mas estaríamos perdendo algo importante no processo?

Minha mãe, com a tenra idade de 72 anos, dominou todos os atalhos de texto e adicionou alguns acrônimos (palavra formada pelas letras ou sílabas iniciais de várias outras palavras) próprios dela para mandar mensagens de texto.

No entanto, quando recebo mensagens dela, sinto que preciso aprender a decifrar. Não posso ajudá-la, talvez seja a linguista em mim, ou talvez eu esteja sendo insensível, mas quando entra uma mensagem da minha mãe ou dos meus filhos, eu sempre respondo com frases completas. Eu uso as palavras mais eruditas que conheço. Quando eu escrevo aos meus filhos desse jeito, no fundo eu sei que é apenas minha maneira de tentar educá-los – não posso suportar a ideia de que meus filhos não consigam formar uma frase adequada ou manter uma conversa bem estruturada.

Quanto à minha mãe, uma bibliotecária aposentada, acho que simplesmente não consigo me comunicar com ela em estilo pseudo-adolescente. Parece que ela está se transformando em minha filha de 17 anos (e uma já é suficiente)! Do ponto de vista prático, também não quero incentivá-la – quanto mais adepta ela se sente das mensagens de texto, mais seus textos começam a se assemelhar a um alfabeto confuso.

Uma mensagem recente que ela me enviou terminou com um “APNSP”. Eu pensei por um tempo e, então, liguei para ela. A ligação levou a uma conversa de uma hora sobre o tamanho do peru que precisaríamos comprar para uma reunião familiar, e me esqueci de lhe perguntar o significado do seu texto. Então, liguei novamente para descobrir o que significava “APNSP” e ela respondeu: “a propósito, não se preocupe”.

O problema é que eu me preocupo – não pelo fato de que minha mãe é a criadora de um glossário de mensagens de texto que só ela entende, mas por como isso está mudando o modo como interagimos uns com os outros. Especialmente quando meus filhos estão envolvidos.

Não só as crianças desenvolveram sua própria linguagem codificada – que, como mãe, temo que implique algum perigo real – mas a juventude de hoje também integra essas conversas de texto perfeitamente em sua linguagem oral diária.

Eu ouvi um profundo O-M-G (Oh My God – Oh Meu Deus) ser usado ​​em resposta a um fabuloso par de sapatos. Eu ouvi um O-M-G mais profundo e prolongado como uma reação perturbada a um cenário terrível. E isso me assusta um pouco. Às vezes eu imagino as lições do futuro e eu começo a entrar em pânico: adjetivos e substantivos foram substituídos por lições de entonação e entrega dramática de siglas favoritas.

Entretanto, minhas preocupações não se dirigem apenas às crianças. As abreviaturas textuais estão se tornando mais prevalentes em nossa correspondência profissional, com pessoas que enviam e-mails escritos pela metade, não só para colegas, mas também para clientes. Como cliente, a mensagem que recebo é que meu correspondente não sente que sou importante o suficiente para ele escrever uma palavra na íntegra. Para mim, chega de preguiça.

A arte de qualquer sistema de linguagem é saber quando usá-lo corretamente. Por escrito, nossas palavras se tornam mais concretas e são mais propensas a desencadear uma forte reação de nossos correspondentes profissionais e pessoais. Eu argumentaria, portanto, que nossas palavras precisam ser pensadas, pois refletem a imagem que queremos retratar e o respeito que estamos inspirando, seja para um amigo, um colega ou um chefe.

Ainda assim, posso apreciar que sou um pouco rígida e, não, não espero que meus filhos enviem textos para amigos ao estilo de Shakespeare. Mas as palavras são importantes. E eu não quero que nenhum de nós se esqueça disso.

Precisamos pausar nossos polegares enquanto eles voam nas telas do celular e pensar em como estamos fazendo com que o leitor se sinta. Se você está escrevendo para amigos com pressa – desde que você seja entendido –, então, claro, por que não usar algumas siglas? Mas se você quiser negociar com os clientes, deixar os acrônimos de lado pode ser uma boa ideia se você quiser ser levado mais a sério.

Quanto à minha mãe, eu sei que seus textos enigmáticos são apenas sua última mania. É também a tentativa de manter-se conectada em um mundo moderno – o que tem seu mérito.

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