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Direção espiritual: o diretor

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Lírio entre Espinhos - publicado em 18/09/18

Confira quem pode ser um diretor espiritual e quais qualidades deve reunir para exercer esta missão

Continuamos a série de posts sobre Direção Espiritual. No artigo da semana passada trouxemos em que consiste a prática da DE:


CONFESSION

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Direção espiritual: o que é?

Hoje falaremos um pouco sobre quem pode ser um diretor espiritual e quais qualidades deve reunir para exercer esta missão.

1. O diretor

Definição: “É o sacerdote encarregado de conduzir as almas até a perfeição cristã”.

Vamos explicar um pouco:

“O Sacerdote…”:

É necessário que o diretor seja um sacerdote? Ordinariamente devemos dizer que sim.

É muito conveniente pelas seguintes razões:

* Na ordem sobrenatural, o sacerdote tem o papel de mestre;

* Pela íntima fusão com o ofício de confessor;

* Pela melhor preparação teórica e prática para dirigir as almas que ordinariamente o sacerdote tem;

* Pela graça do estado sacerdotal;

* Pela prática da Igreja que proíbe a intromissão nas almas aos não sacerdotes (embora sejam superiores religiosos), que já tomou lições por causa dos inconvenientes que se originam disto.

Embora, por via de exceção, não haveria inconveniente em admitir que, em algum caso, haja direção voluntariamente escolhida de uma pessoa prudente e experimentada que não seja sacerdote.

Há alguns fatos históricos: entre padres do deserto e nos primeiros abades beneditinos, que não eram sacerdotes. Também, em épocas mais recentes, temos o exemplo de São Francisco de Assis e de Santo Inácio de Loyola, antes de 1537; e até não faltam casos de direção espiritual realizada por mulheres, como Santa Catarina de Sena e Santa Teresa de Jesus.

“… encarregado…”: Por quem? – Remotamente, quando se trata de um sacerdote, por Deus e pela Igreja, já que na mesma ordenação sacerdotal vai implícita a missão de santificar as almas por todos os meios possíveis; um dos quais é a direção espiritual.

Proximamente, a missão concreta e especial de dirigir a uma determinada alma supõe dois elementos essenciais: a livre escolha do dirigido e a livre aceitação do diretor.

– A livre eleição do dirigido. Nenhuma potestade pode obrigar a um determinado súdito a aceitar a direção de um determinado diretor. Quando a Igreja determina que um sacerdote seja confessor de uma casa de religiosas, é simplesmente para facilitar que as religiosas tenham a oportunidade de receber o Sacramento da reconciliação; mas isto não significa que não possam livremente se confessar com outro sacerdote com as devidas condições.

– A livre aceitação do diretor. A missão pastoral obriga ao pároco e a todos aqueles que por razão de seu cargo tem cura de almas, a ouvir “ex iustitia” (em virtude da justiça) as confissões de seus súditos sempre que o peçam de um modo razoável. A obrigação dos outros sacerdotes é só de caridade.

Mas sobre a direção espiritual, ainda naqueles casos em que se realiza ao mesmo tempo em que a confissão sacramental, é uma função inteiramente diferente da simples administração do sacramento. E não consta em nenhuma lei divina ou eclesiástica que o sacerdote tenha obrigação estrita de fazê-lo.

Fica, pois na liberdade de cada um, aceitá-la ou rejeitá-la, embora sempre será uma ótima obra de caridade se aceitar uma missão tão própria e proporcionada a suas funções sacerdotais.

“… de conduzir as almas…”: Entendemos por conduzir a missão de guiar, orientar, marcar a uma alma o roteiro que deve seguir no seu caminho a Deus.Esta orientação deve referir-se aos obstáculos e perigos a evitar, como também às coisas positivas que deve praticar.

“… até a perfeição cristã.”: Esta é a diferença fundamental entre o ofício de confessor e diretor. O primeiro é um juiz que tem plena potestade no foro interno (conferida pela Igreja) e pode dentro do âmbito de sua jurisdição, obrigar estritamente ao penitente. Sua missão fundamental é perdoar, em nome de Deus, os pecados; para qual deve dispor ao penitente em ordem a receber a absolvição válida e frutuosamente.

O diretor espiritual, ao contrário, não tem nenhuma jurisdição no foro interno, quer dizer, não pode obrigar estritamente a seu dirigido. A sua missão é o aperfeiçoamento progressivo da alma em ordem a sua plena santificação.

2. Confissão e direção espiritual

É necessário ou conveniente que o diretor seja ao mesmo tempo o confessor ordinário do dirigido? Não estritamente necessário, mas é muito conveniente.

Não é estritamente necessário porque, às vezes, é materialmente impossível, como exemplo em casos de viagens, etc.

O confessor ordinário pode não reunir as condições de um bom diretor espiritual.

– Mas é muito conveniente:

* Pela íntima relação entre ambos os ministério;

* Para que o diretor tenha uma maior autoridade que enquanto diretor não tem nenhuma jurisdição sobre o dirigido;

* Pela conveniência de que a direção se faça no confessionário, sobretudo a de mulheres;

* Favorece muito à unidade da vida espiritual na alma do dirigido.

3. Qualidades do diretor

As dividiremos em dois tipos: as que são essenciais em ordem à técnica da direção espiritual e as que não são absolutamente necessárias, mas que constituem uma grande ajuda para uma boa direção espiritual.

a) Qualidades técnicas do diretor

Segundo Santa Teresa e São João da Cruz três são as qualidades de um bom diretor espiritual: ciência, discernimento e experiência.

Ciência: A ciência do diretor deve ser vastíssima (ampla). Deve conhecer bem a Teologia dogmática, Moral, Espiritual. Principalmente o referente aos princípios fundamentais da vida espiritual: em que consiste a perfeição, a quem e de que modo obriga, quais os obstáculos que devemos afastar, as ilusões que devem evitar, os elementos positivos que se devem fomentar.

Devem conhecer tudo relativo à vida de oração, seus diferentes graus ascéticos e místicos, as provas que Deus envia ou permite nas almas contemplativas (noite do sentido, do espírito, desolações, perseguições, assaltos diabólicos, etc.).

Devem conhecer perfeitamente a teoria dos diferentes temperamentos e caracteres; a influência do meio ambiente; a educação recebida, etc.

Devem conhecer perfeitamente os princípios da psicologia da psicopatologia, os casos anormais, as doenças nervosas e mentais mais frequentes.

Devem conhecer as regras de discernimento de espíritos, sobretudo se os dirigidos são almas com fenômenos extraordinários e graças “gratias datas”.

Se apesar a todos seus esforços um sacerdote vê que não possui o conhecimento ou a experiência necessária para entender uma alma determinada, deve ter a prudência de encaminhar seu dirigido a uma pessoa mais competente.

Discernimento: Essa palavra vem do latim Dicernere, que significa distinguir, separar, dividir. Com essa expressão se quer significar um conjunto de qualidades que ajudam ao diretor a ter clareza e penetração de juízo para distinguir em cada caso o verdadeiro do falso, o reto do que não é reto, o conveniente do prejudicial. É uma das qualidades mais importantes do diretor espiritual, e compreende três coisas: prudência nas decisões, clareza nos conselhos e firmeza e força em exigir seu cumprimento.

Prudência nas decisões: A prudência definida por Aristóteles com a “recta ratio agibilium”, é a virtude moral que dirige o entendimento para que julgue corretamente sobre o que se deve fazer nos casos particulares. Tem muita importância na vida moral, por que ela deve regular o exercício e a prática de todas as virtudes. Deve brilhar nos governantes e é indispensável para o diretor espiritual.

A prudência verdadeira se divida em três espécies:

Natural ou adquirida: É a prudência humana que tendo por guia as luzes de reta razão, busca os meios mais oportunos para conseguir um fim honesto. O diretor espiritual pode e deve usar esta prudência no guiar das almas, fomentando e acrescentando-a com o estudo das ciências psicológicas, experimentais e com uma intensa e profunda reflexão pessoal.

Sobrenatural ou infundida: A prudência natural não é suficiente para a direção das almas; como isto é uma tarefa sobrenatural são necessários os princípios da fé, o qual é próprio da prudência sobrenatural.

O dom de conselho: Às vezes, nem sequer as luzes ordinárias da fé são suficientes para resolver determinados casos, especialmente à direção das almas heroicas. O Espírito Santo, principal diretor das almas, tem às vezes exigências que estão por acima não somente da razão, mas também das mesmas luzes ordinárias da fé. É necessária uma especial docilidade para se deixar levar pelo impulso divino, que parece loucura frente aos homens, mas que é profunda sabedoria frente a Deus (I Cor 3, 19). Isto é próprio do Dom de Conselho, que é um dos dons que com mais insistência e humildade deve pedir ao diretor espiritual para acertar no desempenho de sua missão.

Clareza nos conselhos: A segunda condição que deve ter o diretor espiritual é a clareza nos conselhos aos seus dirigidos e nas normas de conduta que marque:

Transparência no pensamento, de tal modo que se evite no dirigido toda classe de angústias e inquietudes na interpretação das normas e conselhos do diretor. Deve evitar o modo duvidoso de se expressar (Talvez, ”se lhe parece”…). Deve dar as normas claras, fixas, bem concretas e determinadas, que não admitam dúvidas nem interpretações duvidosas. Deve resolver os problemas do dirigido com um “sim” ou um “não” rotundos, embora depois de ter tomado o tempo necessário para uma madura reflexão se o caso o requer. Não deve deixar nunca algum problema sem ser resolvido. Se a alma percebe que o diretor duvida ou não está bem seguro do que diz, perderá a confiança nele e abandonará a direção ou a fará ineficaz

Plena sinceridade e franqueza. Para dizer ao dirigido a verdade, sem ter para nada em conta a respeitos ou motivos humanos. Faltaria muito gravemente ao seu dever de diretor espiritual quem por não magoar seu dirigido ou para não o trocar por outro; deixa de mostra-lhe suas faltas e erros, dissimula suas ilusões, seus defeitos e exagera as virtudes que pratica. Muitas almas vivem enganadas, pensando que são virtuosas, e não encontram ninguém que lhe fale que realmente não tem nenhuma virtude. Com prudência e mansidão, mas com força e fortaleza, o diretor deve manifestar-lhe a seu dirigido absolutamente toda a verdade. Não deve esquecer que está fazendo às vezes de Cristo, e que deverá dar conta a Deus da administração dos seus poderes sacerdotais. Quem não tem coragem de dizer a verdade a uma pessoa, embora seja superior ou uma autoridade eclesiástica, deve renunciar em absoluto a ser diretor espiritual dessa pessoa.

Firmeza e força em exigir seu cumprimento: O diretor deve ter cuidado de não se converter em dirigido. Há almas que tem a habilidade extraordinária de conseguir que o diretor lhes mande o que elas querem. Com suavidade o diretor deve evitar este abuso.

Uma vez que já emitiu seu juízo ou deu seu conselho, de acordo com a prudência, não deve mudar por nada; salvo que mudem substancialmente as circunstâncias da situação. O dirigido deve saber que só tem duas opções, ou obedecer ou mudar de diretor espiritual. Este é o único modo de conservar a autoridade ao seu dirigido.

Por outro lado as exigências sempre devem ser de acordo com o temperamento, deveres, obrigações, forças e disposições atuais das almas. Não deve haver um rigor excessivo que atemorize as pessoas e as faça desistir do caminho da perfeição.

Experiência: Pode ser própria ou alheia:

Experiência própria. Para a direção das almas ordinárias é suficiente a experiência de qualquer sacerdote que viva dignamente seu ministério. Mas para guiar almas que estão muito adiantadas na vida espiritual é necessária alguma experiência da vida mística, segundo o ensinam Santa Teresa e São João da Cruz. Porque quando o Espírito Santo começa ir livremente numa alma se opera nela uma transformação total nos pensamentos e ações, que pode desorientar muito o diretor que não tem experiência pessoal daquilo.

O que deve fazer quem percebe que não está à altura de seu dirigido? Deve buscar o modo de orientá-lo para um diretor que seja mais preparado; e se não é possível, deve humilhar-se, pedir luzes a Deus, estudar e refletir muito e confiar na Divina Providência que ajudará a fazer o bem a essa alma.

Experiência alheia: Nem todas as almas são iguais, nem devem ser conduzidas pelos mesmos caminhos. Por isso ajuda muito a experiência de outras almas para poder fazer uma boa direção espiritual. Neste sentido nunca deve esquecer o diretor espiritual que o verdadeiro diretor das almas é o Espírito Santo e que ele simplesmente tem a missão de ajudar ao dirigido a que seja fiel a essa ação divina.

Continua no próximo post…

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