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Como ouvir música todos os dias pode melhorar sua saúde

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Christin Parcerisa - publicado em 30/09/18

Desde o bem-estar geral até as condições graves, mais médicos estão se voltando para o poder de cura da música

O vínculo que a música tem com nossos sentimentos é mais forte do que qualquer outra forma de arte. Ela nos encoraja, conforta e ajuda. Seu efeito em nosso estado emocional, habilidades de pensamento e habilidades sociais é poderoso, tanto que até provou ter qualidades de cura. Rodear-se de notas musicais abrirá um caminho para um dia muito mais harmonizado.

Mas, mais do que isso, a música tem sido associada ao nosso eu espiritual há séculos, pois aumenta nossos sentimentos e a capacidade de nos unirmos com nossa fé e nossa comunidade. Não só é uma benção para nossos ouvidos, mas também pode ser a inspiração de que precisamos para construir uma vida melhor.

O Papa Bento XVI falou sobre a conexão vital da música com a vida cristã:

“O valor espiritual da arte musical, chamada, de modo singular, a infundir esperança no coração humano, tão marcado e por vezes ferido pela condição terrena. Há um profundo parentesco entre música e esperança, entre canto e vida eterna: não é ocasional que a tradição cristã represente os espíritos bem-aventurados no gesto de cantar em coro, arrebatados e extasiados pela beleza de Deus. Mas a arte autêntica, como a oração, não nos alheia da realidade de cada dia, mas remete-nos para ela a fim de a “irrigar” e fazer germinar, para que dê frutos de bem e de paz. As interpretações magistrais que ouvimos recordam-nos ainda o valor e a importância universal do património artístico”.

Na verdade, a música, de acordo com a Harvard Medical School, pode ser uma poderosa aliada para a medicina porque “a música é uma característica fundamental da espécie humana”. O cérebro humano vai além de distingui-la do ruído regular para responder ao seu ritmo, repetição, tom e afinação. Essas respostas podem ser medidas e orientadas para melhorar a saúde e o desempenho, incluindo a função cognitiva nos idosos ou aumentar a concentração e o foco – e é por isso que os cirurgiões costumam tocar música na sala de operações. Cantar ajuda pacientes afásicos (pessoas com danos cerebrais que tem a fala afetada) a recuperar a fala.

A pesquisa envolvendo bebês é talvez um dos indicadores mais fortes da nossa natural conexão com a música. Os bebês prematuros que foram expostos a sons musicais, como canções de ninar, ficaram mais calmos, comeram e dormiram melhor do que os bebês expostos aos sons normais do hospital, ou seja, sem música.

Música como terapia

“A música toca as pessoas de uma maneira única”, compartilha Leah Morrison do The Music Therapy Center of California, que oferece terapia musical para questões emocionais, cognitivas, psicológicas e sociais. Ao contrário da “terapia de conversa” mais tradicional, a terapia musical é uma especialidade bastante nova porque ajuda a relacionar-se com o cliente em um nível estritamente emocional, ao invés de ser racional. As músicas ressoam automaticamente com diferentes sentimentos e, portanto, podem ajudar as pessoas a se acalmar, pensar com mais clareza e combater uma luta interior sem ter que colocar isso em palavras.

Como exatamente a música afeta nossos cérebros de forma tão positiva? Acredita-se que a música ilumina a maioria das áreas do cérebro, provocando um efeito generalizado. Quando escutamos uma música favorita aumentamos as emoções positivas através dos centros de recompensa do nosso cérebro, estimulando o aumento de dopamina.

Além do bem-estar geral, a música está sendo usada para tratar inúmeras condições psicológicas, como depressão, raiva, ansiedade, medo e até mesmo a felicidade, e tem ajudado a melhorar as doenças físicas, como problemas de mobilidade. “Normalmente, o musicoterapeuta criará músicas originais ou usará a música preferida do cliente para auxiliar suas necessidades”, explica Morrison. Os tipos de pacientes e seus problemas variam: adultos que lidam com a perda, alguém que está preso, um paciente em um hospital, um jovem em reabilitação e até uma criança com autismo. O poder de curar emoções, lidar com a resignação, dar força e autonomia é tão grande quanto o número de músicas que podem ser criadas.

Ajuda as crianças

Os especialistas estão começando a reconhecer a música como uma ferramenta eficaz para tratar crianças com deficiência, sendo que para elas a repetição é, muitas vezes, o centro para atingir seus objetivos específicos. Morrison fala sobre uma criança, em particular, que foi diagnosticada com ecolalia, um transtorno psiquiátrico em que a pessoa repete as palavras que outra pessoa falou. Usando frases musicais, onde a criança é convidada a inserir suas próprias palavras, os terapeutas finalmente conseguiram quebrar o ciclo de repetição.

O autismo é outra condição que responde bem à terapia musical, especificamente em relação às habilidades sociais e conexões com os outros. A composição, onde os clientes ajudam a criar uma “história de música social” para suas necessidades, é uma maneira que está sendo eficaz, explica Leah Morrison. “Por exemplo, se eu tiver uma criança que está com dificuldade de dizer ‘Oi’, cantamos no início de cada sessão uma música que tenha ‘Oi’. O motivo é que as pessoas geralmente dizem corretamente ‘Oi’ quando veem isso primeiro… então isso se encaixa no momento natural em que o evento ocorreria na vida real fora da sessão”.

Cura física

Enquanto a música está principalmente ligada a tratamentos psicológicos e emocionais, novas pesquisas mostraram que ela também ajuda a lidar com problemas físicos, especialmente para reduzir a dor.

Alguns institutos começaram a dedicar esforços para analisar o efeito da música no corpo humano físico, como o Berklee College of Music, através do The Music Therapy Institute ou da Universidade McGill em Montreal, com a abertura do laboratório Music Perception and Cognition Lab. Um dos estudos realizados neste laboratório revelou que “a música ajuda a melhorar tanto a função do sistema imunológico do corpo quanto a reduzir os níveis de estresse. Ouvir música também pode ser mais eficaz do que medicamentos prescritos na redução da ansiedade antes de uma cirurgia”. A música aumenta o anticorpo e reduz o cortisol – o hormônio do estresse. O Prof. Daniel J. Levitin, autor do estudo, também documentou como a música pode ter um efeito neuroquímico na gestão do humor, estresse, imunidade e vínculo social.

O uso da música como ferramenta médica vai ainda mais longe. A terapia vibroacústica realmente permite que os pacientes sintam a música. O procedimento envolve o uso de um som de baixa frequência que sai dos alto-falantes embutidos em uma esteira, cama ou cadeira. As vibrações são transmitidas ao corpo, enquanto o paciente também pode ouvir o som da melodia. Esta terapia foi recomendada para pessoas com depressão, fibromialgia e doença de Parkinson. Um estudo de Lauren King sobre os efeitos em curto prazo da terapia de vibração em deficiências motoras na doença de Parkinson encontrou uma melhoria importante nos sintomas, incluindo menor rigidez, melhor velocidade na caminhada e tremores reduzidos. Outros pesquisadores estão buscando ampliar esse tipo de terapia para outras doenças, como a doença de Alzheimer.

Música em nossas vidas diárias

Nós usamos a terapia musical em nossas vidas séculos antes de se tornar uma prática clínica. Seja para te ajudar a passar pelo fim de um relacionamento ou carregar sua energia para um grande jogo, simplesmente “a música levanta sua alma”, acrescenta Morrison.

Ela sugere uma dose de música todos os dias para melhorar sua vida. “Ouvir música, tocar música, ir a concertos, dançar! Em todo lugar e o tempo todo! Encontre músicas que ressoam com diferentes sentimentos que você tem e crie uma lista de reprodução para onde você pode recorrer quando sentir determinado sentimento. A vida acontece. Coisas acontecem. Mas a música pode te ajudar a processar tudo e fazer você se sentir muito melhor”.

5 maneiras de incorporar a música em sua vida

  1. Reduza o estresse e a ansiedade ouvindo um ritmo lento e com o volume baixo. Escolha opções sem letras. Se você sabe tocar algum instrumento, isso também tem um efeito calmante.
  2. Melhore sua memória estudando com música ou cantando, pois aumenta a liberação de dopamina, que está ligada à motivação, aprendizagem e memória.
  3. Fazer exercícios físicos ouvindo música motivacional irá ajudá-lo a continuar por um longo período de tempo e fará você se sentir melhor durante o exercício e depois.
  4. Se preparar para dormir com música reduz o estresse e a ansiedade, promovendo mais qualidade no sono e, eventualmente, noites mais repousantes.
  5. Faça da felicidade um hábito saudável. A felicidade pode ser aprimorada ao ouvir música que te move, porque faz com que seu cérebro libere dopamina.

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