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Em quem você vai votar?

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Cardeal Odilo Scherer - publicado em 30/09/18

O voto nunca deveria ser carimbado de ódio, raiva ou irresponsabilidade em relação ao bem comum

Já escolheu em quem vai votar? No próximo dia 7 de outubro, os brasileiros serão chamados às urnas para escolher um novo presidente da República, o governador e dois senadores do próprio Estado, um deputado federal e um deputado estadual. São cinco decisões determinantes para os rumos da vida política do Brasil nos próximos anos.

Embora a campanha para presidente e governador esteja em maior evidência e mereça especial discernimento, a escolha dos parlamentares não deveria receber atenção menor. De fato, eles integrarão o Poder Legislativo, com a missão de aprovar ou rejeitar os projetos do Poder Executivo e de controlar suas ações de governo. Bons deputados e senadores são tão necessários quanto bons presidentes e governadores. Para governar, o presidente precisa de uma boa base parlamentar, formada por políticos sérios, corretos e verdadeiramente interessados no bem do povo e do país.

Já está na hora de fazer a listinha, a ser levada na mão no dia da votação. Ainda dá tempo para se informar melhor sobre o perfil e a idoneidade dos candidatos, mas não se deveria chegar ao dia da eleição sem ter uma ideia clara a respeito dos candidatos a votar. O voto de cada cidadão tem peso e, por isso, fugir das urnas, votar em branco ou nulo, embora possam ser atitudes legítimas, não são a melhor prática. Além de demonstrar desinteresse pelo bem comum, isso poderia favorecer candidatos que o cidadão não gostaria de ver eleitos. O melhor mesmo é escolher e votar conscientemente, valorizando o próprio voto. E não é o caso de, simplesmente, votar com a maioria: cada um deve tomar a decisão autonomamente e responder à própria consciência pela escolha que faz.

Talvez, alguém ainda espera que a hierarquia da Igreja indique partido e candidato aos fiéis, mas isso não é possível, porque a própria lei eleitoral é restritiva em relação a isso. Além disso, foi uma decisão do próprio episcopado católico do Brasil não fazer escolhas em lugar dos eleitores. A Igreja Católica não é um partido nem tem partido: ela é uma comunidade de muitas pessoas, no meio das quais podem existir várias expressões políticas, contanto que não contradigam os fundamentos e princípios da própria Igreja. Da mesma forma, a Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB) não é um partido, nem tem uma opção de partido ou candidato.

Entendemos que não é correto instrumentalizar a ação religiosa em função da busca do poder político; nem devem os clérigos mesclar atuação religiosa com campanha eleitoral. Mas é legítimo que os representantes da Igreja se interessem pela vida política e pela formação da consciência política dos cidadãos, propondo critérios de discernimento para a participação dos cidadãos na vida política e de escolha de partidos e candidatos nas eleições. Esses critérios decorrem dos princípios doutrinais e morais da fé católica e estão presentes na Doutrina Social da Igreja. Mas também decorrem da análise atenta da situação social, política, econômica e moral na qual se encontra o país.

O Papa Francisco recordou vários desses princípios na sua Exortação Apostólica Evangelii Gaudium (2013), na qual ele ensina com clareza que a evangelização e a vida cristã possuem uma forte “dimensão social”. O ensinamento católico não é neutro em relação à vida política e social. Por isso, os católicos não podem se desinteressar pela promoção do bem comum e a ação política. Aos bispos da América Latina, o Papa Francisco manifestou sua preocupação pela fraca presença e atuação de católicos na vida política de seus países. Naturalmente, ele também ensina que a militância partidária e o desempenho de cargos políticos são atividades próprias da missão dos cristãos leigos.

Para ser mais direto, está claro que a Igreja Católica não incentiva o voto em quem não possui as capacidades esperadas para o exercício do cargo pleiteado, ou em quem já deu provas de corrupção, falta de retidão e honestidade na gestão do bem público. A Igreja também não incentiva a votar em quem tem propostas políticas que incluam o uso da violência e sejam contrárias à justiça e à paz, ou sejam lesivas à vida e à dignidade da pessoa, de toda pessoa. É de se esperar que aqueles que assumirão os mandatos tenham uma atenção especial pelos pobres e as camadas mais injustiçadas e esquecidas da sociedade brasileira, de maneira a promover uma verdadeira equidade e solidariedade social.

O voto nunca deveria ser carimbado de ódio, raiva ou irresponsabilidade em relação ao bem comum. Voto é questão de consciência e chegou a hora de cada um fazer a sua parte para deixar o Brasil melhor após as eleições. No final de tudo, é isso o que conta.

(O São Paulo)

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