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Sim, sou católico. Mas o que eu tenho a ver com os abusos na Igreja?

YOUNG,MAN,MASS

Catholic Diocese of Saginaw | CC BY-ND 2.0

Carlos Padilla Esteban - publicado em 05/10/18

“Quando um membro sofre, todos os outros sofrem com ele”, disse São Paulo…

Para Jesus, os pequenos são os mais valiosos. São objetos de sua predileção. Por isso, me animo a não escandalizá-los.

Os pequenos, os fracos, os vulneráveis, os abandonados, os que sofrem a solidão e o desprezo. Sim, esses com quem ninguém se preocupa e que ninguém quer. Jesus tem uma atração especial pelos que sofrem.

E eu não posso menosprezá-los. Nem feri-los. Quanto sofrimento causam os abusos sexuais na Igreja! Quanta dor provocada em corações inocentes.

Aquele que abusa, que escandaliza, que usa o fraco. É a autoridade mal exercida. Uma ferida no coração da Igreja. Grito de inocentes que dói na alma.

Dizia o Papa Francisco: “Peçamos perdão pelos nossos pecados e pelos pecados dos outros. A consciência do pecado nos ajuda a reconhecer os erros, os delitos. As feridas geradas no passado nos permitem comprometer-mos mais com o presente em um caminho de renovada conversão. “Quando um membro sofre, todos os outros sofrem com ele”, nos dizia Paulo. As feridas nunca prescrevem.

Diante de tantos casos de abusos e sofrimento causados a inocentes, a minha alma dói. Sou Igreja. Parte de uma Igreja que sofre. Quando um membro sofre, sofro junto com ele. E, talvez, com meu próprio pecado contribuo. Talvez não seja eu aquele que machuca, mas o que está por trás, sem desejar a santidade, sem sonhar nas alturas, levando uma vida cômoda.

Com minhas omissões, eu posso ferir os outros. Com meussilêncios e pecados também. Estou unido à Igreja que tanto sofre. A tantas pessoas inocentes que sofrem.

Jesus me pede para não virar o meu rosto para o ferido. Quer que eu desperte em meu coração a misericórdia, a compaixão, a solidariedade.

Diante dos abusos sexuais, de autoridade e de consciência, a alma se rebela. Eu não quero isso. Não posso permanecer calado. É o grito que brota no coração de Cristo.

O papa Francisco me convida a “assumir a lógica da compaixão para com os frágeis e a evitar as perseguições ou juízos demasiadamente duros ou impacientes”.

Um olhar que enaltece, que respeita, que não julga nem condena. Um olhar que eleva e devolve a dignidade perdida ao que está ferido.

Reconheço que o melhor elogio que podem fazer sobre mim é dizer que não julgo os outros. Que abro a porta e os espero.

Mas nem sempre é assim. Preciso mudar meu coração. Preciso de uma conversão profunda, que me faça olhar com benevolência para todos.

Dizia Jean Vanier: “Como estamos diante do sofrimento e da vulnerabilidade?”. Ele fala sobre minhas atitudes diante do meu próprio sofrimento, diante de minha vulnerabilidade. Mas também diante dos que me cercam. Afasto-me do vulnerável porque não sei como acolhê-lo, amá-lo e servi-lo.

Jesus me chama a cuidar do inocente, a salvar o desamparado, a proteger o vulnerável. Quero mudar meu olhar. Quero começar a ser mais criança, para olhar com inocência e verdade. Para descobri no mais pobre o rosto ferido de Jesus. E mudar meus planos. Conter minhas pressas. Afastar minhas formas seguras e prepotentes. Abaixar-me para falar a partir da minha própria pequenez.

Ouço o clamor do que sofre. Detenho-me diante dele. Abro a minha alma para ele.


CANDLES

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