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A situação dos católicos na Rússia

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Evgenya Novozhenina | Sputnik

Miriam Diez Bosch - publicado em 14/10/18

“A presença de católicos não é uma realidade recentemente implantada que aproveitou a queda do comunismo”, diz o sacerdote claretiano José Mariá Vegas

A Rússia é ortodoxa, mas há mais de 250 paróquias católicas espalhadas pelo vasto território do país. Apesar das acusações de proselitismo (ação ou empenho de tentar converter uma ou várias pessoas em prol de determinada causa, doutrina, ideologia ou religião), as relações entre os ortodoxos e os católicos estão melhorando.

Entrevistamos José María Vegas, CMF, que está no país há mais de 20 anos. Ele nos explicou por que alguns ortodoxos russos são atraídos pela liturgia e costumes dos católicos, tradicionalmente associados a liturgias secas e rigorosas em latim, em oposição à rica espiritualidade ortodoxa.

Qual é a situação dos católicos na Rússia?

A Igreja Católica sempre esteve presente como uma minoria religiosa. É importante ressaltar isso: a presença de católicos não é uma realidade recentemente implantada que aproveitou a queda do comunismo. A Igreja Católica sempre existiu na Rússia, devido a minorias de nações de tradição católica: poloneses, lituanos, bielorrussos, ucranianos, alemães…

Desde a queda do comunismo, tem sido reconstruído constantemente.

Após a queda do comunismo, nossa primeira tarefa foi encontrar e reconstruir estruturas católicas (paróquias, dioceses, seminários) que existiam antes da revolução e que, depois, foram praticamente destruídas (com poucas exceções); embora grupos de crentes dispersos por todo aquele território imenso tivessem mantido sua fé, por mais difícil que fosse.

Hoje, a presença de católicos continua a ser amplamente relacionada com as minorias das nacionalidades católicas, embora também seja verdade que uma porcentagem significativa de católicos hoje são russos que não pertencem a essas minorias e que escolheram livremente a fé católica.

Então, ainda estamos lidando com uma minoria, que é relativamente insignificante em número, embora tenha uma presença notável através de suas mais de 250 paróquias e 4 dioceses (duas na parte europeia: Moscou e Saratov; e duas na Sibéria: Novosibirsk e Irkutsk). Há um seminário interdiocesano em São Petersburgo, que formou várias dezenas de sacerdotes nos últimos 25 anos. Uma forma importante de presença católica está ligada ao trabalho social da Caritas e outras organizações católicas, e várias editoras que traduzem a literatura católica para o russo – eles também começaram a produzir uma quantidade modesta de seu próprio conteúdo católico.

Como a mentalidade russa recebe a espiritualidade católica, com seus ritos e costumes?

Os russos, na maioria ortodoxos, veem a liturgia latina e romana (para eles, rigorosa e seca) como características distintivas do catolicismo. Portanto, o fato de que, hoje em dia, a liturgia seja celebrada em russo é, para muitos deles, uma causa de preocupação e um sinal de uma atitude proselitista por parte dos católicos (o que simplesmente não é o caso).

Mas também é verdade que há mais do que alguns russos que se sentem atraídos pela espiritualidade católica, bem como por sua liturgia e costumes, por várias razões. Por exemplo, o fato de que a liturgia é celebrada em russo – e, portanto, eles podem entender o que é dito e feito, a Palavra de Deus – é atraente para muitos deles. Além disso, o fato de que existem vários caminhos de espiritualidade, alguns deles especificamente para leigos, é algo que atrai alguns deles. Temos que ter em mente que a espiritualidade ortodoxa, que tem muitos valores fantásticos, foi fundamentalmente estruturada em torno da vida monástica e, consequentemente, é difícil aplicá-la para aqueles que vivem no mundo. Eles também apreciam o maior nível de preparação teológica e maior autonomia que os leigos podem encontrar na Igreja Católica.

Mas isso não é um fenômeno maciço; muitos ortodoxos veem o catolicismo através do prisma de fortes preconceitos históricos.

O que a Virgem de Kazan representa para um católico russo?

A Virgem de Kazan é um ícone que veio originalmente dessa cidade, embora hoje o ícone original esteja localizado em São Petersburgo. Na Rússia, a espiritualidade relacionada aos ícones é profundamente enraizada, e isso também afeta muitos católicos. Para um católico russo, a Virgem de Kazan é uma imagem que inspira veneração, assim como outros ícones (pense apenas no Vladimirskaya [um ícone particularmente famoso de Maria]) ou outras imagens católicas. Mas não tem significado especial além de outras imagens religiosas (ícones ou outros).

O diálogo ecumênico e inter-religioso estão caminhando bem?

Neste momento, as relações entre católicos e ortodoxos se acalmaram e melhoraram visivelmente. A tensão que esteve presente durante os primeiros anos de restauração das estruturas católicas na Rússia diminuiu muito e as acusações de proselitismo quase desapareceram. Em suma, a atmosfera é muito mais positiva.

Mas isso não significa que não houve nenhum contato ou cooperação positiva antes. Na verdade, as tensões acima mencionadas estavam presentes principalmente em relações de alto nível. Mas em locais concretos (paróquias, cidades etc.), a situação dependia, e ainda depende, em grande parte das pessoas que trabalham lá. Em muitos locais, as relações são excelentes, amigáveis ​​e fraternas; em outros, ainda existem problemas.

Em São Petersburgo, especificamente no seminário, existem boas relações com o seminário ortodoxo, e alguns sacerdotes e leigos ortodoxos colaboram com o nosso seminário, dando aulas ou de outras formas. A Caritas é um lugar de cooperação intensa, já que muitos de seus trabalhadores e voluntários são ortodoxos.

Há muito a ser feito, e precisamos intensificar nosso contato, mas a atmosfera hoje é melhor, mais positiva. Sem dúvida, a reunião do Patriarca Kirill com o Papa Francisco em Havana ajudou a melhorar esta atmosfera, embora já antes dessa reunião pudéssemos sentir a mudança do vento (uma mudança que, com certeza, possibilitou a reunião).

O que continua a surpreendê-lo sobre a Rússia, apesar do tempo que você tem vivido aqui?

Estou na Rússia há 21 anos, então tive tempo de me acostumar com quase tudo. Continua a ser difícil para mim me adaptar à burocracia russa, que, além disso, muda as regras com bastante frequência. Mas, mesmo assim, as coisas melhoraram muito ao longo dos últimos anos.

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