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Lógica, remédio para o relativismo

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Por fizkes | Shutterstock

Vanderlei de Lima - publicado em 02/08/21

Na prática, o relativismo levaria ao caos, mas, se bem observado, é absurdo em si mesmo

Nossa época está cheia de teses relativistas. Por relativismo entende-se a recusa de qualquer verdade filosófica ou ética de valor universal a nos dar caminhos seguros.

Essa doutrina nega a distinção entre verdadeiro e falso, no plano da razão, e entre bem e mal no campo ético. Desse modo, uma definição filosófica ou uma ação ética ficariam condicionadas ao tempo e ao espaço nos quais se dão e ao gosto ideológico das pessoas que protagonizam um debate ou uma ação, mas não a uma instância perene objetiva e válida.

No terreno filosófico, o relativismo ensina que não se pode chegar a uma verdade objetiva, portanto, real fora da própria pessoa, dado que o ser humano não conheceria a realidade como ela é, mas apenas como ele, subjetivamente, a concebe, de acordo com o que dela consegue alcançar em seus parâmetros de pensamento.

Ora, o relativismo muda, com isso, o conceito clássico de verdade. Esta é a concordância do intelecto com a realidade: o que se vê – com evidência – sobre a mesa é uma pedra, não um pão. Para o relativista, no entanto, tem-se o contrário. Verdade seria a adequação ou a concordância da coisa (res, rei, no Latim) ao intelecto. A verdade passa a ser subjetiva ou pessoal (cada um tem a sua), não objetiva e universal (válida a todos).

Na prática, o relativismo levaria ao caos, mas, se bem observado, é absurdo em si mesmo. Sim, se a pessoa vê uma pedra, mas diz ser pão, deveria – por coerência – comê-la. Se não a come por reconhecer que é pedra, afirma existir, então, verdade (é uma pedra) e erro (achar que era um pão). Esse reconhecimento destrói a base do relativismo.

No plano ético, também não existiriam normas morais válidas a todos os seres humanos. Os valores morais variariam de acordo com o tempo (a história) e a cultura (o local) na qual a pessoa vive, segundo seus conceitos subjetivos, e não se fundariam normas universais. Apenas os direitos – também subjetivos – de quem convive com o relativista é que seriam, em parte, respeitados.

O único princípio absoluto seria o próprio homem com sua liberdade. Liberdade para tudo, pois não há nenhuma instância objetiva – Deus e sua lei natural moral – acima desse homem. Ora, “se o fundamento da Moral fosse a vontade dos povos, ou ainda as decisões dos seus chefes ou as sentenças dos seus juízes, então tudo o que se aprovasse legalmente se converteria num bem, mesmo que autorizasse a mentir, roubar ou matar. A lei moral deve surgir de alguma coisa impressa na natureza humana, a que chamamos lei natural. É uma lei que obriga todos os homens e que nem sempre coincide com os gostos do momento de cada governante, de cada sociedade, de cada pessoa” (Alfonso Arguiló. É razoável crer? São Paulo: Quadrante, 2006, p. 134).

Todavia, o bom-senso e a Lógica filosófica levam a ver que o relativismo é absurdo. Daí, tentar ele se impor por meio de uma verdadeira ditadura que rotula quem lhe é contrário de fundamentalista (“acuse os outros do que você é!”), bem como formula argumentações para tentar calar seus opositores. Tais argumentos são, no entanto, contraditórios, de modo a não resistirem a uma análise atenta.

Com efeito, escreve Arguiló que “por não ter um ponto de referência claro a respeito da verdade, o relativismo leva à confusão global entre o bem e o mal. Se se analisam com um pouco de detalhe as suas argumentações, é fácil observar, como explica Peter Kreeft, que quase todas costumam refutar-se a si próprias: ‘A verdade não é universal’ (exceto esta verdade que você acaba de afirmar?). ‘Ninguém pode conhecer a verdade’ (a não ser você, segundo parece). ‘A verdade é incerta’ (então também é incerto o que você diz!). ‘Todas as generalizações são falsas’ (esta também?).  ‘Você não pode ser dogmático’ (com essa mesma afirmação, você mostra que é bastante dogmático). ‘Não me imponha a sua verdade’ (o que significa que neste momento você me está impondo as suas verdades). ‘Não existem absolutos’ (absolutamente…?). ‘A verdade é apenas uma opinião’ (a sua opinião, pelo que vejo). E assim por diante” (Idem, p. 118).

Fiquemos atentos e questionemos o relativismo. Ele não resistirá à Lógica.

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