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Quando as crianças são separadas de seus pais, a genética delas muda

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Calah Alexander - publicado em 11/11/18

Mas podemos usar esse conhecimento para ajudar a suavizar e curar os efeitos do trauma na infância

O drama dos migrantes tem colocado as crianças no centro da consciência pública – e mais especificamente o tema do trauma que as crianças sofrem quando são separadas de seus pais.

É um trauma de que não gostamos de falar. Isso nos deixa desconfortáveis ​​por vários motivos. Para alguns, é um trauma conhecido e vivenciado pessoalmente. Para outros, é um conceito externo, mas devemos reconhecer a enormidade disso.

Para as crianças, o trauma de se separar de seus pais não se limita apenas a uma resposta emocional… na verdade, como Medium aponta, esse tipo de trauma afeta as crianças permanentemente, em um nível genético:

As crianças pequenas confiam em seus pais para ajudá-las a lidar com situações estranhas e estressantes, porque sua capacidade de regular sua resposta emocional à mudança ou ameaças no ambiente ainda não está totalmente desenvolvida. “As crianças usam os pais e cuidadores familiares como uma forma de atravessar a incerteza e o estresse no mundo”, diz Seth Pollak, que dirige o Laboratório de Pesquisa de Emoção Infantil da Universidade de Wisconsin. “Elas não podem lidar com as coisas sozinhas da maneira que os adultos podem”. Então, tirar os filhos de seus pais e colocá-los em um ambiente confuso e esmagador os deixa em grande parte incapazes de lidar com isso. “Essas crianças provavelmente têm um estresse muito, muito extremo, e não têm uma maneira de reduzir a resposta ao estresse”, diz Pollak. Esse tipo de trauma e a exposição a grandes quantidades de estresse na infância estão ligados a mudanças epigenéticas – mudanças na maneira como o corpo liga e desliga os genes e regula os processos biológicos – que podem durar até a idade adulta…

Vários estudos confirmaram diferenças nos níveis de atividade de centenas de genes de adultos que sofreram traumas na infância versus adultos que não sofreram. Alguns desses genes controlam os níveis de cortisol e a neuroplasticidade do cérebro, mas a função de muitos genes alterados por traumas na infância ainda é desconhecida.

Os cientistas teorizam que essas mudanças genéticas poderiam afetar tudo, desde crescimento e desenvolvimento até a regulação hormonal – mas o que é certo é que o trauma da infância causa mudanças físicas mensuráveis ​​que duram até a idade adulta.

Pessoalmente, tenho a tendência de me afastar dos detalhes dos efeitos do trauma infantil, principalmente porque isso me faz sentir impotente.

A triste verdade é que muitas vezes não há nada que possamos fazer para evitar que as crianças sejam separadas dos pais. Sempre haverá crianças abandonadas ou cujos pais morreram. Mesmo as crianças cujos pais decidem que não podem criá-las e fazem um plano de adoção para elas podem sofrer efeitos dessa separação. Esse tipo de trauma sempre será uma realidade para alguém, em algum lugar. E a inevitabilidade das mudanças epigenéticas que resultam desse trauma parece completamente esmagadora.

Mas, me ocorre que, assim como tudo, é uma questão de perspectiva. Em vez de considerar esses estudos uma evidência concreta de uma realidade inevitável, podemos optar por vê-los como diretrizes para um novo caminho a seguir.

É verdade que algumas crianças sofrerão com esse tipo de trauma – mas também é verdade que há muita coisa que podemos fazer para aliviar esse sofrimento. Estar ciente do dano que a separação faz é o primeiro passo, o que pode convencer um pai ou professor a abraçar uma criança em vez de fugir. Esses estudos também podem auxiliar no tema da adoção – não porque os casais podem substituir os pais perdidos ou apagar o passado de seus filhos, mas porque podem ajudar a criança a se curar e construir um novo futuro em solos novos e sólidos.

Talvez mais significativamente, esses estudos podem nos tornar conscientes das necessidades das crianças que sofreram traumas. Se somos seus cuidadores, professores, médicos ou amigos, ter consciência do trauma físico e mental que uma criança sofre pode nos motivar a ser mais compreensivos, pacientes e amorosos – afinal, é amor o que essas crianças mais precisam.

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