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Pecados sem perdão: como entender?

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Marjan Apostolovic - Shutterstock

Padre Bruno Roberto Rossi - publicado em 20/11/18

A bondade de Deus a todos chama, de modo livre para si; nunca, no entanto, impõe a conversão a ninguém que recuse

Tratando do Sacramento da Reconciliação, abordo uma aparente contradição: a Escritura fala que Deus perdoa todos os pecados, mas diz também que o pecado contra o Espírito Santo não será perdoado. Como entender?

Recorro, uma vez mais, ao trabalho de Dom Paulo Celso Demartini, O. Cist.: A Escritura afirma que a faculdade de perdoar pecados é ilimitada (cf. Mt 18,21-22 e Lc 15,11-32), bem como é verdade de fé o seguinte: “o poder da Igreja de perdoar pecados estende-se a todos os pecados sem exceção alguma” (cf. Teologia dogmática III, p. 273). No entanto, alguns trechos da própria Palavra de Deus escrita parecem contradizer o que atrás foi dito ao falar de pecados sem perdão.

Em Mt 12,31-32; Mc 3,28 e Lc 12,10, vemos o chamado “pecado contra o Espírito Santo” que não tem perdão ou é irremissível. Por que o é? – Porque o pecado contra Cristo (cf. Mt 12,32; Lc 12,10) é cometido contra Deus velado, no qual o pecador não quer deixar o Senhor, mas pela fraqueza humana O deixa. Tem, então, o perdão divino. Contudo, ao se opor ao Espírito Santo rejeita o próprio Deus e a sua graça. Portanto, não pode ter perdão, pois é a recusa direta ao próprio perdão. Deus a ninguém nega a reconciliação. No entanto, ser infinitamente misericordioso é diferente de ser tiranicamente cheio de misericórdia. O Senhor chama, muitas vezes, cada um de nós à conversão, sem, porém, nos forçar a ela. Ele só entra e ceia com quem Lhe abre a porta (cf. Ap 3,20).

Na Carta aos Hebreus 6,4-6, o autor tem uma visão de cristãos muito adiantados na vida espiritual, mas que caíram no pecado. Para o hagiógrafo a tal tipo de pecador, a Igreja nada tem a dizer, porque é gente que já experimentou os gozos da graça, mas, de novo, voltou ao pecado. Embora a misericórdia divina não se oculte a quem a busca, de modo contrito, parece haver, no caso concreto, um entrave moral e pastoral para a recondução daqueles errantes à comunidade.

Em 1Jo 5,9, o Apóstolo elenca pecados que não levam à morte (tibieza e perigo espiritual), mas requerem a oração da comunidade pela conversão desses errantes, e pecados que levam à morte (o fechamento total à graça de Deus), pois excluem a conversão. Por tais pecadores a comunidade não deve rezar, dado faltar ao próprio pecador as mínimas disposições interiores para acolher a graça divina.

Em comentário, a essa passagem, lê-se em E. Bettencourt, Curso sobre os sacramentos, p. 151, que ao falar assim, o Apóstolo “nada propõe de dogmático; não fica peremptoriamente proibido ao cristão rezar pelos pecadores mais endurecidos; ao contrário, visto que a esperança não morre, crê-se que a oração insistente e fiel pode ser útil ao irmão obstinado no mal”.

A título de conclusão, podemos dizer que Deus quer perdoar (e perdoa) todos os pecadores sinceramente arrependidos, pois infinita é a sua misericórdia. Contudo, não quer tirar a liberdade de alguém que, de modo obstinado, faz a opção pelo erro ou pelo pecado e recusa a graça.

A bondade de Deus a todos chama, de modo livre para si; nunca, no entanto, impõe a conversão a ninguém que recuse, de modo consciente e sistemático, a graça divina. Graça que a ninguém falta, desde que abramos nosso coração para acolhê-la.

Enfim, esse pecado é imperdoável não porque falte à Igreja o poder para tal (Ela tem a faculdade de, em nome de Deus, perdoar todo e qualquer pecado), mas porque falta ao pecador a abertura à graça divina que a todos quer, livremente, atingir. O defeito está no filho da Igreja, não em sua Santa Mãe.

Abramo-nos, pois, à graça de Deus.

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