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Princípio ético do bem

KATOLICKA NAUKA SPOŁECZNA

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Dom Walmor Oliveira de Azevedo - publicado em 23/11/18

"É tempo de escrever, não em páginas de livros, mas no coração humano, a gramática da lei moral"

Fazer sempre o bem. E fazer bem o que se faz. São esses os princípios éticos que devem orientar a vida de todos, para que floresçam as potencialidades sociais, políticas e culturais da sociedade. A simplicidade desses princípios tem força para operar transformações e recompor a moralidade no tecido cultural, pois a cultura desprovida de moralidade conduz a sociedade rumo a fracassos. Acirra disputas predatórias, acentua o desrespeito às instituições.  Produz destruição pelas ações dos que se consideram “os donos da verdade”. Reconhecer o bem como princípio ético permite a cada indivíduo avaliar, prioritariamente, a própria interioridade, ao invés de, sempre, julgar o outro. Estar atento ao próprio interior é dinâmica educativa indispensável.

Fazer bem e promover o bem são atitudes que dependem do cuidado com a dimensão interior, conquistando clareza de consciência. É preciso reconhecer o papel que se tem no mundo. Identificar também os parâmetros ideológicos que moldam a própria mentalidade, o que permite a cada pessoa fazer escolhas com mais lucidez. E todo cuidado é pouco no sentido de evitar impor ao outro, ou mesmo a instituições, certas perspectivas que são apenas convicções pessoais, traços da própria identidade, muitas vezes problemáticos. Quem age sem observar esses princípios distancia-se da tarefa de exercer nobre missão, prejudicando contextos pessoais, comunitários e institucionais.

E é, especialmente, nas redes sociais que hoje se evidencia a necessidade de se cultivar o bem como princípio ético capaz de orientar todas as atitudes. O ambiente digital abre novas e bem-vindas possibilidades de interação, mas, ao mesmo tempo, torna-se verdadeiro “campo de batalha”. As recorrentes agressões, cada vez mais presentes na internet, obscurecem o caminho da verdade, inviabilizando o bem. Com frequência, indivíduos assumem falsa autoridade, apresentam-se como detentores da verdade, e sentem-se no direito de proferir vereditos. Porém, por serem incapazes de fazer distinções, promovem uma mistura que coloca, no mesmo quadrado, “ovelhas, bois e carneiros”, como se diz proverbialmente.

Há um agravante a ser considerado: para muitas pessoas, falta formação humanística, ética e espiritual. São necessários investimentos para corrigir essa carência, para que todos possam oferecer contribuições relevantes às instituições e ao mundo.  Se essa necessidade não for reconhecida, continuarão desvirtuados sentidos intocáveis, no âmbito político, cultural e, muito gravemente, no contexto religioso, que não pode se deixar corromper, justamente por ser referência para a ética e a moralidade. Por isso mesmo, não basta apenas o grande volume de informações que circula no planeta para construir um futuro melhor. É fundamental dedicar atenção ao desenvolvimento cognitivo de cada indivíduo, cultivando o princípio ético que inspira todos a fazerem o bem – e a fazer bem o que fazem.

O horizonte pluralista do contexto contemporâneo permite à humanidade reconhecer e apontar para tudo, mas, ao mesmo tempo, não se comprometer com nada. Uma situação que precisa ser superada, pois o princípio ético alicerçado no bem convoca cada pessoa a tornar-se força transformadora que modela nova cultura. Essa cultura renovada, urgente, está exatamente na contramão de escolhas bizarras que assombram a sociedade e deterioram boas práticas. Passo decisivo para a requerida mudança é promover sempre o bem, dedicando-se a cumprir adequadamente as próprias tarefas e responsabilidades.

Ajuda a moldar novas práticas e, consequentemente, constituir uma cultura renovada, deixar-se guiar por nobres princípios: promover sempre o bem, e fazer bem o que se faz.  Não se deixar vencer pelo mal, mas vencer o mal com o bem. Reconhecer que é bom ser bom. Saber que o bem se promove com o bem. Esses princípios, se aprendidos, permitem superar o circuito vicioso formado por perversidades, inveja, incompreensões, descompromisso com referências fundamentais.

Não se transforma a realidade buscando apenas os melhores índices da economia, nem só pela força da política, ou pela influência de confissões religiosas. Urgente é o despertar da consciência cidadã a partir do compromisso com a ética. É tempo de escrever, não em páginas de livros, mas no coração humano, a gramática da lei moral. Uma atitude prioritária para conquistar o desenvolvimento integral e configurar uma qualificada cidadania.

Dom Walmor Oliveira de Azevedo
Arcebispo metropolitano de Belo Horizonte

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