separateurCreated with Sketch.

“O Senhor do Veneno”: uma surpreendente devoção

SENOR DEL VENENO
whatsappfacebooktwitter-xemailnative
Jaime Septién - publicado em 27/11/18
whatsappfacebooktwitter-xemailnative

Um Cristo que, segundo a tradição, “absorve” o veneno dos pecados Milhares de mexicanos chegam até a Catedral Metropolitana da Cidade do México, entram pela porta principal e, em vez de se dirigirem ao presbitério, caminham até o Altar do Perdão para pedir graças à milagrosa imagem do “Senhor do Veneno.”. 

Também chamada de “Cristo Negro”, a imagem foi restaurada recentemente. Ela é feita de pasta de cana –  uma antiga técnica indígena. No século XVIII, a estátua ficava na capela do Seminário Dominicano de Porta Coeli.

Porém, depois que o culto público foi proibido em 1926, a imagem foi trasladada para a Catedral do México. Desde então, milhares de fiéis sentem que o “Senhor do Veneno” absorve seus padecimentos, infecções e dores, como anteriormente fizera com os pecados de um homem. 

Os pés envenenados 

Em 18 de agosto de 1602, chegou ao México uma delegação da ordem dominicana. Os padres se instalaram na Cidade do México, onde fundaram um seminário católico, que chamaram de Porta Coeli. Lá, havia um crucifixo de tamanho natural, com a imagem de Jesus tão branca como se fosse um mármore. 

Conta a tradição que um sacerdote tinha o costume de fazer orações diárias diante da imagem e, ao final, beijar piedosamente seus pés. 

Um dia, um homem confessou a este padre que tinha matado cruelmente uma pessoa. O sacerdote disse, então, que Deus sempre estava disposto a perdoar, mas, para poder lhe dar a absolvição, era necessário que ele se entregasse à justiça. 

Cheio de fúria, o homem se retirou do confessionário e, temendo que o sacerdote o entregasse, procurou um jeito de acabar com ele. Escondido pelas sombras da noite, entrou na capela e ungiu os pés de Cristo com veneno. 

Como toda noite, o padre foi até a imagem para fazer a oração. Mas, no momento em que ia se aproximar para beijar os pés de Jesus, ficou impressionado, pois a imagem flexionava os joelhos e elevava os pés para eles não fossem beijados. Ao mesmo tempo, a escultura absorvia o veneno dos pés à cabeça, transformando-se em um Cristo negro. 

Segundo a tradição, o homem que queria matar o religioso foi testemunha deste maravilhoso milagre e se entregou à justiça para pagar pelo seu crime. Com lágrimas, ele pediu perdão a Cristo pelos seus delitos e obteve a graça de ter uma pena mais curta e de terminar a vida na graça de Deus. 

Outra versão 

Outra versão da história – esta sustentada pelo diretor de Arte Sacra da Arquidiocese de Primada, o padre José de Jesus Aguilar – diz que houve uma pessoa que tentou matar um fiel devoto “que costumava beijar os pés de Cristo”. Esta pessoa pensou que, “se colocasse o veneno nos pés de Jesus, o homem beijaria os pés da imagem e iria para casa, dormir. O veneno iria agir durante a noite e ele amanheceria morto, sem levantar suspeitas”. 

“Quando o homem se aproximou para beijar os pés de Cristo diante das pessoas, todos viram como Jesus flexionava os joelhos para que os pés não fossem beijados. A imagem também foi ficando negra, como se estivesse absorvendo o veneno”.

Oração 

Um fragmento da longa oração que os fiéis fazem diante da imagem dá conta que – ao menos na tradição popular – o que se salvou primeiro do veneno foi um sacerdote. Agora, por consequência, o Cristo absorve os pecados dos homens: 

“Eu te rogo, 

que, assim como salvaste a vida 

de Sua Senhoria ilustríssima

quando, por meio de teu sacratíssimo corpo

trataram de envenenar aquele que ia beijar teus Divinos Pés, 

te suplico, adorado Senhor, 

que o veneno do pecado 

não penetre mais em meu coração. 

Faz com que ele se purifique, 

exercitando todas as obras que sejam de teu agrado. 

É o que te peço em honra de 

tua admirável transfiguração, 

através da qual manifestas

o teu infinito poder. 

Assim seja.”