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O gelo, um meio de subsistência na região mais fria do planeta

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a l o b o s-(CC BY-NC-ND 2.0)

Agências de Notícias - publicado em 09/12/18

Ser capaz de sobreviver em situações extremas é uma necessidade

Innokenty Tobonov afunda seu arpão em um grande bloco de gelo, seus colegas o tiram da água gelada e o carregam no trator. É água potável suficiente para um idoso da Sibéria sobreviver no inverno.

A região de Sakha, no nordeste da Sibéria, é a maior região da Rússia e também a mais fria do planeta. Para os habitantes locais, como os do vilarejo de Oi, os blocos de gelo fornecem água potável a maior parte do ano.

“Fazemos isso todos os anos, as pessoas precisam de água potável”, afirma Innokenty Tobonov, membro do conselho local, com os cílios congelados em razão dos -41°C.

Cavar poços é muito caro por causa do permafrost, uma camada espessa de solo congelado durante todo o ano. A água da torneira – procedente do rio Lena – só fica disponível por dois meses e meio por ano. O resto do tempo, a canalização está congelada e quando finalmente descongela, a água está cheia de sedimentos e não é potável.

A maioria das localidades de Sakha não possui estações de tratamento de água. Assim, resta apenas o gelo, a fonte de água potável mais limpa disponível. Apanhado em novembro, geralmente é armazenado no exterior durante o inverno, com frequência a uma certa altura, fora do alcance dos cães.

Quando a atmosfera aquece, os habitantes armazenam os blocos de gelo em seus porões, transformados em geladeiras pelas paredes de permafrost.

– “Fisicamente é uma tarefa árdua” –

“Fisicamente é uma tarefa árdua, especialmente quando o gelo tem cerca de 50 cm de espessura”, diz Innokenty, que acredita que uma pequena casa precisa de cerca de dez metros cúbicos de gelo para cobrir suas necessidades no inverno.

“Nós usamos essa água para beber e cozinhar, é muito prático”, diz uma senhora de Oi, Pelageya Semenova, ao receber um bloco de gelo em sua porta.

“A água gelada é mais limpa e tem um gosto melhor do que a água da torneira: na cidade, tem gosto de cloro e aqui, às vezes, tem gosto de óleo”, afirma. “Mas parece que não contém vitaminas”.

Beber apenas água de gelo pode, efetivamente, levar a deficiências minerais, uma vez que é muito pobre em cálcio e magnésio.

Pouco povoada, a região de Sakha é conhecida como “a terra dos lagos”, tantos quanto seus milhões de habitantes. As comunidades rurais são particularmente dependentes do gelo para sobreviver e qualquer poluição ambiental afeta diretamente a água que consomem.

– Subsolo rico –

No entanto, Sakha é rica: seus solos têm ouro, petróleo e carvão e é a primeira região produtora de diamantes no mundo.

“Damos muito à Rússia, mas as populações rurais locais recebem poucos benefícios em troca”, afirma a ativista Valentina Dmitrievna, que dirige a Eyge, uma ONG de proteção ambiental com sede em Yakutsk, a principal cidade da região.

Isto é especialmente verdadeiro no caso dos rios localizados perto das indústrias de mineração. No mês de agosto, a ruptura de várias barragens construídas pela Alrosa – maior produtora de diamantes do mundo – forçou os habitantes à margem do Viliui a usar água contaminada.

As autoridades russas contabilizaram os danos causados por este acidente na bacia do Viliui em 22 bilhões de rublos (330 milhões de dólares no câmbio atual), mas Alrosa argumentou que não poderia ser responsabilizada porque o que aconteceu deveu-se a uma “catástrofe natural”.

No entanto, os porta-vozes das comunidades locais estão convencidos de que a empresa causou o acidente ao deslocar suas infraestruturas de mineração sem autorização. A disputa pode durar anos e, enquanto isso, os habitantes são obrigados a usar água de qualidade duvidosa, lamenta Valentina Dmitrievna.

“As pessoas sofrem com esse tipo de incidente porque têm um estilo de vida tradicional”, explica. “Em Sakha, as pessoas se preocupam mais com o meio ambiente porque entendem que dependem da natureza”.

“Não esquecemos nossas tradições. Ensinamos as crianças a coletar gelo, cortar madeira, caçar e pescar”, explica. “Ser capaz de sobreviver em situações extremas é uma necessidade”.

(AFP)

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