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Refletindo sobre o morticínio na catedral

CATHEDRAL CAMPINAS

Reprodução / Facebook Arquidiocese de Campinas

Vanderlei de Lima - publicado em 13/12/18

Uma vez que nossos leitores já entendem – supõe-se – o pecado do homicídio e do suicídio, desejamos propor a definição de sacrilégio

Um atirador promoveu – todos, é claro, já sabem – verdadeira chacina na catedral metropolitana de Campinas, na última terça-feira, três dias após a bela solenidade da Imaculada Conceição de Maria, padroeira do templo. O fato requer breves comentários.

Objetivamente falando, houve aí, além do pecado de homicídio a atentar contra o 5º Mandamento da Lei de Deus explicitado no Catecismo da Igreja Católica (n. 2258-2262; 2268-2269), o de suicídio (n. 2280-2283) e o de sacrilégio (n. 2120). Sim, isso dito de modo objetivo, ou dos fatos em si, e não subjetivos, da parte da pessoa que cometeu as atrocidades induzida por sérios problemas psíquicos a atenuarem ou mesmo a isentarem quem age mal (muito mal, aliás) de culpa moral.

Uma vez que nossos leitores já entendem – supõe-se – o pecado do homicídio e do suicídio, desejamos propor a definição de sacrilégio, de acordo com o Catecismo n. 2120, já mencionado. Diz ele: “O sacrilégio consiste em profanar ou em tratar indignamente os sacramentos e outras ações litúrgicas, bem como as pessoas, as coisas e os lugares consagrados a Deus. O sacrilégio é um pecado grave, sobretudo quando é cometido contra a Eucaristia, pois neste sacramento, é o próprio corpo de Cristo que Se nos torna presente substancialmente”. 

Distingue o texto, como se vê, três tipos de sacrilégio: de pessoas, dá-se, por exemplo, pelo mau trato a um clérigo; de coisas, que ocorre com a profanação da Sagrada Eucaristia, da Escritura, de utensílios destinados ao culto ou outros objetos bentos, e de lugar, como ocorreu na catedral, e é um imenso desrespeito para com um local consagrado e dedicado a Deus e a seu culto. Rezemos e peçamos que se reze em reparação ao Senhor por tamanha ofensa assomada aos homicídios e ao suicídio.

Cabe dizer que, embora o atirador não pareça um psicopata (ou sociopata) clássico – a apresentar defeito de caráter ou de personalidade –, tem, sim, traços do sujeito em forte surto psicótico paranoico, ou seja, um ser humano com séria desordem psíquica capaz de isolá-lo da realidade e fazê-lo sentir-se, entre outras coisas, perseguido – sabe-se lá o porquê e por quem – por isso ataca a esmo. Ele também traz – talvez, não em si, mas na ação – aspectos do chamado “lobo solitário”. Aí, mora o grave perigo.

Qual perigo? – O de despertar imitadores. As cenas narradas com vivacidade em séries intermináveis de reportagens de TV, em especial, com um caráter fortemente sensacionalista, podem acordar, sem dúvidas, outros “lobos solitários” hibernados em suas psicoses. Toda atenção – sem alarmismos, é claro –, será importante. Não só em templos de qualquer religião, mas onde houver aglomerado de pessoas.

Agora, esse homem sofredor, homicida e suicida poderá ser lembrado como um ícone da causa do desarmamento. O povo não poderia ter armas para que tragédias como essas não ocorressem, dirão. Argumento fraco. Afinal, mesmo com toda gritaria em favor do desarmamento, há criminosos armados até os dentes por aí. Por que o Estado e os defensores do desarmamento não conscientizam, com sucesso comprovado, essa gente a se desarmar? Afirmarão também, entre outras coisas que se o homem não tivesse arma de fogo não mataria tanta gente. Pode ser real. Não mataria com arma de fogo, mas poderia usar uma faca (como o que atacou Bolsonaro), um porrete, uma barra de ferro, um machado etc. e o dano seria bem menor, presume-se. Já, sem arma de fogo, mas com um forte explosivo eliminaria mais gente até sem ser percebido, usando controle programado, por exemplo. Em qualquer desses casos, um cidadão de bem portando arma de fogo ou um segurança munido – como os que tem, licitamente, o Papa – deteria, logo, o assassino ou o abordaria antes mesmo de ele agir (cf. Catecismo n. 2263-2265).

Deixo, por fim, minha cordial solidariedade ao estimado pároco, aos seus auxiliares, ao administrador diocesano, pessoa boníssima, aos familiares dos falecidos (incluindo os do atirador) e feridos, aos PMs – hoje, mais excluídos que os incluídos na Campanha da Fraternidade, 1995 – que, de imediato, intervieram. Rezemos!


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