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A importância da memória para a vida intelectual

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Canção Nova - publicado em 20/12/18

A vocação intelectual requer um aprofundamento contínuo e esforço metódico

Inicio este artigo falando de vocação. Sim, de vocação, pois como notaremos durante todo o artigo, a vida intelectual também é uma vocação, um chamado. A vida intelectual está intimamente ligada à vida espiritual, e os religiosos medievais souberam viver tão bem essas duas faces da mesma moeda. Por isso, trago uma citação do Catecismo da Igreja Católica, n° 2461, que diz:

“O verdadeiro desenvolvimento abrange o homem inteiro. O que importa é fazer crescer a capacidade de cada pessoa de responder à sua vocação, portanto, ao chamado de Deus”.

Esse homem inteiro abrange também a vida intelectiva, um dom dado por Deus para podermos amá-Lo mais vigorosamente.

Em todos os momentos, estamos aprendendo, por isso precisamos memorizar algo que lemos, estudamos, ouvimos ou que estamos tendo contato. O estudante é aquele que exerce uma atividade extremamente intelectual, por isso é importante saber estudar bem, entender como e por quais meios se chega ao êxito intelectual ou, pelo menos, como pode melhorar suas ações em relação ao que é estudado.

Aquele que tem uma vida de estudos intensa ou faz dos seus dias de trabalho intelectual a sua vocação, precisa saber que a vocação intelectual requer um aprofundamento contínuo e esforço metódico. Pode-se utilizar o exemplo dos atletas desportivos, que sofrem privações, duros treinos, realizando esforços até sobre-humanos, de forma semelhante são os atletas da inteligência.

O frade dominicano Sertilllanges diz o seguinte sobre a atitude de quem estuda:

“Este último estado de espírito é o de um chamado. Implica uma resolução grave, porque a vida de estudo, sendo austera, impõe duros encargos. Paga, e abundantemente, mas exige uma entrada de capital da qual poucos são capazes”.

Algumas atitudes que veremos a seguir são fundamentais para que você possa crescer intelectualmente.

O que preciso guardar?

A memória tem a função de guardar os elementos que foram estudados, lidos ou frutos do trabalhado do espírito. Contudo, é importante sabermos que devemos reter na memória o que nos é útil. Sertillanges escreve assim:

“Cada qual deve se empenhar em manter bem vivido na memória e disponível para a primeira requisição o que constitui a base do trabalho, o que, por este motivo, as pessoas nobres da sua profissão conhecem”.

É conhecido de muitos intelectuais que o excesso de informações no lugar de ajudar, atrapalham, e, muitas vezes, de nada é útil. Muitas pessoas são capazes de cantar ou recitar músicas inteiras ou longos trechos de obras que são de seu agrado e que tem afeição, porém, incapazes de entoar um único Salmo. É ou não verdade? Portanto, vale também para o cristão fazer, durante o seu dia, em alguns momentos, recitações de trechos que contenham a espiritualidade cristã, porque o que se grava na memória atua com mais facilidade no espírito, estimulando também a sua fé. Lembrando o que foi escrito acima: a atividade intelectual é também uma vocação.

Qual a ordem que preciso guardar?

Antes de tudo, você precisa entender que a sua memória não pode ser um caos. Ela precisa ter ordem, para que sua funcionalidade seja a melhor possível. Dessa maneira, não é interessante, como aprendemos acima, você guardar milhares de informações sem que essas tenham relações entre si. É mais útil ter dois dados relacionados do que vinte outros dados sem relação nenhuma.

É necessário fazer relação do novo conteúdo adquirido com o conhecimento já assimilado. Existem, em cada matéria, ideias dominantes, que são chaves para aquele determinado assunto. Há também as que governam a vida, e é diante delas que se deve investir maior força intelectual. Sertillanges descreve ainda a respeito das ideias:

“Conservai, antes de tudo, as ideias mestras; estejam elas presentes ao primeiro apelo, prestes a iluminar tudo o que se vos oferece, a manter no seu posto, a despeito de novas contribuições, as ideias antigas, a se desenvolverem por ocasião de cada progresso […]”.

Desse modo, não acontecerá que sua memória seja uma confusão, e sim o oposto, os dados fiquem ordenados e relacionados.

Como guardo o que leio?

Para tratar de como reter o conhecimento na memória, o mestre a nos ensinar de como fazer isso é Santo Tomás de Aquino, que nos apresenta quatro regras. A primeira regra é ordenar o que se deseja guardar; a segunda regra é aplicar a isso o espírito; a terceira regra é meditar nisso com frequência; e, por fim, a quarta regra é, no ato da recordação, tomar pela extremidade as dependências, que as demais seguirão.

Anteriormente, já tratamos sobre a ordem necessária sobre o que reter. Torna-se difícil arquivar na mente inúmeras palavras e ideias desconexas, por isso, quando essas forem lá arquivadas perdem-se entre tantas outras. Porém, quando associadas umas às outras, feitas relações, tornam-se um corpo homogêneo. O reter na memória necessita que você fique atento às ligações, às razões, aos porquês, o que o antecede, o que o sucede e a ordem das ideias.

A aplicação do espírito significa o esforço da atenção. Quanto maior a atenção empregada, mais gravado fica na memória; repetir, no íntimo, como que em voz alta, o que se vos diz; martelai-o em sílabas, de sorte que possais repetir o que você leu ou ouviu, pela ordem com que o fixastes. Sobre a terceira regra, meditai quando for possível e quando o assunto merecer, pois o tempo tende a apagar o que foi gravado, assim deve-se avivar, constantemente, os pensamentos úteis.

Por último, sobre o fato de recordar, é aconselhado recorrer àquilo que liga uma ideia a outra, às impressões, o que, por vez, liga o pensamento ao outro que serviu de base para a formação da memória. Com tudo isso, notamos que o importante não é a quantidade de informações que mandamos para a memória, mas a qualidade, a maneira como é ordenado e a habilidade de recorrer a elas depois. Frade Sertillanges nos ensina: “Aprender não é nada sem assimilação inteligente, penetração, encadeamento, unidade progressiva de uma alma rica e organizada”.

Que esse artigo o ajude a organizar, gravar e formar melhor sua memória, para que, assim, você tire o proveito necessário desse dom que Deus lhe deu, tanto para a sua vida profissional quanto espiritual.

Por Fábio Nunes, via Canção Nova 

Tags:
Literatura
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