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Leve seus medos ao presépio e supreenda-se

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Tommy Lee Kreger | CC BY 2.0

Carlos Padilla Esteban - publicado em 21/12/18

"Quem ama o rosto do Onipotente não temerá o rosto dos poderosos deste mundo”

Frequentemente, o medo me tira a alegria e me entristece. Tenho medo que me tratem de acordo com a minha fraqueza. Que descubram minhas carências e não me amem. Que me julguem culpado pelo delito da debilidade.

E, então, perco o sorriso dos meus olhos e deixo de ter esperança. Saber que o Senhor cancelou minha condenação e expulsou meus inimigos me dá paz. Já não temerei, pois Deus me ama. Eu já não tenho nada a temer, nada a perder. O Advento me enche de esperança. Jesus vem reinar em minha vida. Vem ocupar o lugar central em meio às minhas angústias e os meus medos. Ele pode tudo.

Quero colocar diante do presépio os medos que me turvam. As inquietudes que me tiram a paz e o sorriso. As feridas que doem no mais profundo da minha alma.

Jesus me convida a ficar tranquilo.

Paz, ausência de temor, mesura, despreocupação. Isso é possível?Vivo tão inquieto neste mundo. Vejo guerra, violência, escravidão. Não encontro paz. E o Advento me fala desta paz daquele que é dono de sua vida. Sou dono do meu caminho? Vejo-me querendo controlar meu futuro. Tenho medo de dar passos em falso. Temo não controlar todas as minhas decisões.

Medo do fracasso, medo de não ser feliz, medo de perder o sentido? São medos tão humanos…

Quero controlar tudo o que me tira a paz. Não estou disposto a colocar minha vida nas mãos de Deus. É difícil deixar Jesus reinar na minha vida. Sem controle, sem seguranças. Ver a escravidão me dói na alma. Minha fragilidade não reconhecida me assusta.

O Padre José Kentenich lembra as palavras de Santo Agostinho: “Santo Agostinho disse acertadamente: quem ama o rosto do Onipotente não temerá o rosto dos poderosos deste mundo”.

Se eu amo a Deus e o coloco no centro da minha vida, deixarei de temer o rosto dos poderosos. Os outros nem querem meu mal. Sou eu que escolho o meu mal, muitas vezes fugindo por medo de sofrer.

Acabo escolhendo o que me convém, o que me fere e me escraviza. Fujo de mim mesmo e não me encontro.

Continuamente, encontro-me com uma imagem de Deus em meu coração – e isso me tira a paz. Eu pensava que ele já não estava mais lá. Mas, subitamente, ele surge de trás das cortinas da alma. Renasce das cinzas.

Um Deus que espera algo de mim. Que quer um sim sem reservas. Que se escandaliza diante dos meus pecados, diante do meu egoísmo, diante dos meus nãos e resistências.

Um Deus que exige de mim um comportamento exemplar e se sente decepcionado quando eu falho. Nunca está contente com o que eu faço. Eu noto isso em seu olhar. Ele não aceita meus defeitos e não perdoa minhas fraquezas.

Não sei como, mas ele volta a aparecer quando eu achava que o tinha destruído.

Mudo o meu olhar. Olho para este Deus em que eu creio de verdade. Este Deus que me olha complacente. E se alegra com meus sucessos. Que se comove quando eu caio. Sorri com meu sorriso.

Ele me olha, dizendo que minha vida tem sentido e vale a pena. E me diz: “Eu te amo hoje mais do ontem, antes de sua queda”.

Não entendendo esse Jesus que quer reinar em mim e pretende me amar do jeito que eu sou. Ele conhece os meus limites. Eu, que pensava ser dono da minha vida, seguro de meus talentos e virtudes. Tive que acariciar a humilhação para me sentir amado. Percorri o caminho do perdão para poder me encontrar com seus olhos mais verdadeiros.

A luta entre esses dois deuses que convivem em meu interior me desconcerta. Creio que vence o bondoso. O rosto de Deus Pai, que me mostra Jesus, com seu amor incondicional e gratuito.

E surge da morte esse Deus juiz, que eu achava que estava morto e esquecido. E me julga mais do que eu mesmo. Ou talvez seja eu que não me perdoo? E me olho mal?

Sou parte desse Deus que eu conheci alguma vez na minha vida. Em algum rincão escondido da minha alma volta a surgir seu rosto, cheio de raiva, distante e perfeccionista.

Um rosto que não é o daquele Deus que me causa alegria. Mas de outro Deus, que me pressiona, exige e entristece. Eu achava que o tinha vencido. Mas ele volta.

Preciso, então, olhar o Jesus que me ama, que não me julga. O menino que nasce. Preciso encontrá-lo. Dentro de mim. E em outros olhares humanos, que me olham da mesma forma e me fazem acreditar que eu valho muito mais do que acredito. Essa crença já não me limita. Pelo contrário: essa fé me levanta, me alegra e me eleva sobre os meus limites.

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