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As crianças da guerra invejam o estábulo onde Jesus nasceu

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Reportagem local - publicado em 24/12/18
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“O Menino Jesus tem muitos amigos: milhares de crianças que perderam suas casas e vivem em barracos, pobres como o estábulo em Belém…”Em dezembro de 2013, um texto escrito e publicado por um arcebispo do Oriente Médio fez estremecerem e se arrepiarem todos aqueles que o leram no conforto de suas casas enfeitadas para mais um Natal.

Já fazia mais de 2.000 anos, porém, que aquele texto era atual.

Ao longo dos últimos cinco, ele foi especialmente vivo não apenas na Síria em que foi escrito, mas também no Iraque, na Líbia, no Iêmen, na Venezuela, no Congo, na Somália, na Coreia do Norte, em Mianmar, na Ucrânia… Em tantas partes do nosso planeta, muitas delas já esquecidas.

Eis o texto, tristemente atual, de dom Samir Nassar, arcebispo católico maronita de Damasco:

Neste Natal, podemos dizer que a Síria é o lugar que mais se assemelha a um presépio: um estábulo aberto, sem portas, frio e desamparado.

O Menino Jesus tem muitos amigos na Síria: milhares de crianças que perderam suas casas e estão vivendo em barracos, pobres como o estábulo em Belém.

Jesus não está sozinho em sua miséria. Crianças da Síria, que foram abandonadas e marcadas por cenas de violência, ainda prefeririam estar no lugar de Jesus: com pais amorosos para cuidar delas e lhes dar carinho. Essa amargura é claramente visível nos olhos das crianças da Síria, nas suas lágrimas e no seu silêncio.

Algumas delas invejam o Menino Jesus, porque Ele achou uma estrebaria para nascer, protegido, enquanto algumas dessas crianças sírias nascem no meio de bombas caindo ou na estrada rumo ao exílio.

E, apesar das suas muitas lutas, Maria não estava sozinha, como estão hoje tantas mães menos afortunadas que vivem na pobreza extrema e assumem responsabilidades familiares sem ajuda do marido. Até a precariedade da manjedoura de Belém traria consolo para aquelas mães esmagadas por problemas sem solução ​​e por desespero.

A presença reconfortante de São José na Sagrada Família é uma fonte de inveja para as milhares de famílias sem pai – uma privação que gera medo, ansiedade e preocupação. Nossos desempregados invejam São José, o carpinteiro que consegue sustentar a sua família.

Os pastores que se aproximam da manjedoura com os seus rebanhos evocam os muitos camponeses sírios que perderam 70% do seu gado nesta guerra.

A vida nômade, que nessas terras bíblicas remonta a Abraão e a bem antes dele próprio, desaparece abruptamente, junto com os antigos costumes de hospitalidade e de cultura tradicional.

Os animais dos pastores se compadecem diante do sofrimento dos seus semelhantes sírios, que, devastados pela violência mortal, perambulam pelas ruínas e se alimentam de cadáveres.

O barulho infernal da guerra sufoca o “Glória” dos anjos. A sinfonia do Natal é obscurecida pelo ódio, pela divisão e pelas atrocidades.

Que os três reis magos tragam à manjedoura da Síria os mais preciosos presentes do Natal: a paz, o perdão e a reconciliação, para que a estrela de Belém possa brilhar, mais uma vez, no meio da escuridão da noite.

Senhor, escutai a nossa prece.

+ Samir Nassar
Arcebispo maronita de Damasco


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