Em uma rápida busca pelo termo “Cavalheirismo” no Google, você há de se deparar com os seguintes conteúdos.
Primeiramente um texto chamado “Cavalheirismo é Machismo”. Um péssimo indicativo do tempos confusos em que vivemos. Mas não para por aí.
Logo abaixo, um texto que promete “lições de Cavalheirismo que podem deixar elas aos seus pés”. Também é algo problemático, pois revela um entendimento errôneo do cavalheirismo.
Como um apostolado católico, vemos a necessidade de resgatar o genuíno cavalheirismo, à luz da verdade cristã. Livre de fetiches ideológicos ou uma estética afetada.
Em um artigo intitulado “A Necessidade do Cavalheirismo”, C. S. Lewis apontou que duas virtudes aparentemente antagônicas constituíam o ideal de cavaleiro medieval: força e gentileza. Uma sem a outra gera um erro de extremos.
A força sem gentileza gera um bruto, um bárbaro, um bicho. O cavaleiro se converteria em um saqueador. São João Paulo II em um discurso a estudantes disse uma vez que há na natureza masculina corrompida uma tendência à conquista. Ao tomar sem pedir licença. À tirania. Podemos ver algo dessa tentação quando vemos a redução do cavalheirismo a uma estratégia para “deixar elas aos seus pés”. Mera tática de “caçada”.
Por outro lado, a gentileza sem a força traz um outro erro. O homem que é excessivamente delicado, tímido, e preza por agradar ao outro não importa a que custo. Ele não poderá ser um líder que anime seus semelhantes a buscarem grandeza e heroísmo se não estiver disposto a falar de maneira enérgica, a corrigir (o que implica em desagradar, muitas vezes), a tomar decisões difíceis. Para tudo isso é preciso de força. Esse erro, de gentileza sem força, é algo muito visível na geração do homem “feministo”, que sob a desculpa de quebrar paradigmas “culturais opressores”, transforma o homem em um molengão, incapaz de lutar por nobres ideais – ou de lutar pela honra de uma dama.
E aqui, nesse ponto levantado por C.S. Lewis, do homem forte e gentil, encontramos uma boa definição de cavalheirismo. A língua inglesa traduz cavalheiro por gentleman e essa é uma palavra muito feliz. Já mostramos como o Bem Aventurado Cardeal Newman definia o gentleman. Nos países anglo-saxões, o gentil-homem (tradução literal de gentleman) ilustra como deve ser o cavalheiro: o homem forte e gentil. É próprio da criança não saber controlar a própria força, e em uma brincadeira, empurrar o coleguinha sem querer. O homem adulto sabe usar a própria força.
O cavalheiro, tal como o cavaleiro, deve ser um homem capaz de proteger e servir com sua força. A gentileza põe a força a serviço do bom, do belo e do verdadeiro. E nada encarna mais tudo isso do que a mulher amada.
Como diria Chesterton, o feminino é o sexo mais belo. E esse outro autor inglês, grande homem católico, nos ajuda a entender a postura do cavalheiro diante da mulher.
Disse sua secretária, posteriormente adotada como filha, Dorothy Collins:
Ele possuía um respeito místico pelas mulheres. Cheguei a vê-lo levantar-se de sua cadeira quando uma garotinha entrava na sala.
Esse “respeito místico pelas mulheres” era algo visível mesmo na forma que encarava sua esposa, Frances. Chegou a dizer a uma amiga, referindo-se a uma janela em um canto inusitado de sua casa:
Gosto daquela janela. Quando a luz atinge o cabelo de Frances, cria uma auréola a seu redor e faz com que ela se pareça um pouco mais com o que realmente é.
Essa postura mediante ao feminino vivida pelo Apóstolo do Senso Comum é reveladora e nos revela a maneira que um cavalheiro cristão deve olhar para a mulher. Não se trata idealizar a mulher, algo que é fruto de um sentimentalismo romântico, mas de reconhecer que o feminino é sagrado.
O cavalheiro dá lugar a uma dama para sentar-se, se oferece para carregar peso, ou fica sempre entre ela e a rua não porque a mulher é mais fraca. Ele o faz porque a mulher é mais sagrada e tudo o que é sagrado merece os melhores lugares. Merece ser preservado de tudo aquilo que é profano e vulgar.
Não pensem que é um exagero dizer que a mulher é sagrada. A natureza do feminino é algo de profundamente sacro. A Igreja, sacramento da salvação e Corpo Místico de Cristo é apresentada na Tradição como a Esposa. A alma humana que busca união íntima com Deus, na tradição mística que remete à Cântico dos Cânticos é tratada como alma esponsal. Enquanto entre os santos homens temos alguns místicos grandes como São Pio de Pietrelcina, São Francisco de Assis e São João da Cruz, entre tantos outros não místicos, praticamente todas as grandes santas são almas místicas. Porque o feminino é docilidade e entrega, e é o caminho que a alma deve trilhar.
Por fim, basta observar que o auge da Criação, o que há de mais sublime e belo, onde todas as graças se encontram, é uma mulher. A Mulher. A Santíssima Virgem e Mãe de Deus, Maria.
É por questão de sacralidade e piedade que devemos cuidar do linguajar na presença de uma mulher. Não por convenção social. É uma questão de reverência vestir-se melhor para a namorada ou noiva. É por reconhecer que elas são todas santuários, pois é o sexo feminino que carrega a vida no ventre, que devemos oferecer nossos guarda-chuvas, abrir as portas para elas e puxar cadeiras para elas sentarem. Nada disso é machismo, um rebaixamento da mulher: é reconhecer que o lugar delas é sagrado.
Resgatar o cavalheirismo cristão é bater de frente com o que há de mais atrasado no pior sentido do termo, o machismo; e combater a mais maléfica das modas, o feminismo. O cavalheiro cristão reconhece a dignidade da mulher e jamais há de ferir sua dignidade, por um lado. E por outro lado, esse reconhecimento lembra ao nosso tempo que o feminino é um privilégio, justamente por não ser igual ao masculino. A docilidade, a pureza e a delicadeza tão características do feminino, e tão atacadas pelo feminismo, são dons que devem ser reverenciados.
Que São José, o castíssimo esposo, o guarda da Virgem, nos conceda a graça de sermos fortes e gentis, e de enxergar em cada mulher – por mais difícil que seja – um pouco de Maria Santíssima.
(via Homem católico)