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Padre Quevedo: entre a Parapsicologia e a Fé (I)

PSYCHIATRIA

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Vanderlei de Lima - publicado em 15/01/19

Não podemos ignorar os documentos da Igreja para abraçar as teses do Pe. Quevedo

Faleceu, no dia 9 de janeiro, o Padre Oscar Gonzáles Quevedo, religioso jesuíta, psicólogo, parapsicólogo de fama mundial, filósofo e doutor em Teologia com vários livros publicados. Suas exposições, no entanto, têm pontos controversos no confronto entre a Parapsicologia e a Fé, conforme veremos, de modo breve, em dois artigos.

A respeito da origem da alma humana, Quevedo ensinava que, assim como da roseira vem uma roseirinha, do coelho nasce um coelhinho com a mesma natureza de seus genitores, o pai e a mãe geram, no ato sexual, um ser humano completo com corpo e alma. Que dizer? – Devemos dizer que há falhas graves aí. As plantas e os animais irracionais são seres puramente materiais e têm, portanto, a mesma natureza material dos genitores. Só o ser humano tem corpo material e alma espiritual.

Ao tratar do ser humano, a tese de Quevedo é a do monismo (uma só coisa: corpo e alma formam um todo único), funda-se, ao que parece, em um pensamento antigo chamado de traducionismo (do latim, tradux,cis: transmitir), defensor de que os pais transmitem aos filhos, por meio do espermatozoide e do óvulo, não só o corpo, mas também a alma espiritual. Ora – por pura lógica – da matéria não pode provir o espírito. Matéria só gera matéria. A Igreja defende a dualidade, ou seja, o ser humano é formado de corpo material e alma espiritual (corpo + alma = pessoa). Duas realidades distintas que se unem, em harmonia, sem se confundirem. Daí, dizer o Catecismo da Igreja Católica, n. 336, que “cada alma espiritual é diretamente criada por Deus – não é produzida pelos pais – e é imortal” (cf. Pio XII. Encíclica Humani generis, 1950; Denzinger-Schönmetzer (DS) 3896; Credo do Povo de Deus, 8, e V Concílio de Latrão, 1513; DS 1440).

Outro ponto é consequência muito direta do primeiro, pois trata da morte. Dizia Quevedo: “À medida que vamos morrendo, vamos ressuscitando. A mesma alma, com o mesmo corpo, embora em outra situação: um corpo ‘espiritual’. Nem por um instante a alma é separada do corpo”. Em outras palavras, nega-se a clássica definição de morte, a sobrevivência da alma sem o corpo e a ressurreição da carne só no fim dos tempos.

Respondemos, com a Igreja, o que segue: “Na morte, separação da alma e do corpo, o corpo do homem cai na corrupção, enquanto a sua alma vai ao encontro de Deus, embora ficando à espera de se reunir ao seu corpo glorificado. Deus, na sua onipotência, restituirá definitivamente a vida incorruptível aos nossos corpos, unindo-os às nossas almas pela virtude da ressurreição de Jesus” (Catecismo da Igreja Católica n. 997). Logo se vê que cada afirmação do Catecismo contraria Quevedo.

Com efeito, diz o parapsicólogo que “nem por um instante a alma é separada do corpo”, ao passo que o Catecismo define a morte como a “separação da alma e do corpo”. A ressurreição da carne é verdade de fé (“Deus, na sua onipotência, restituirá definitivamente a vida incorruptível aos nossos corpos, unindo-os às nossas almas pela virtude da ressurreição de Jesus”), mas não ocorre, imediatamente, após à morte, como pensava Quevedo (“À medida que vamos morrendo, vamos ressuscitando”), pois, na morte real, o corpo material se decompõe e a alma espiritual, indestrutível como é, volta para Deus, seu criador. O Catecismo ensina que, após a morte, “a alma vai ao encontro de Deus” e entra no céu, no inferno ou se purifica no purgatório a fim de receber o céu. Portanto, é capaz de viver sem corpo, como já afirmou várias vezes a Igreja (cf. Carta da Congregação para a Doutrina da Fé aos Bispos sobre questões referentes à Escatologia, 17/05/1979, n. 3 e 6, em especial).

O Catecismo diz, ainda, que, embora só, a alma fica “à espera de se reunir ao seu corpo glorificado”. E quando se dará essa ressurreição? – “Definitivamente, ‘no último dia’ (Jo6,39-40.44.54;11,24), no fim do mundo”, pois a ressurreição da carne – termo clássico do Credo – está associada à vinda gloriosa de Cristo (cf. Catecismo da Igreja Católica n. 1001; Lumen Gentium, 48; 1Ts 4,16).

Por esta breve exposição, vê-se que não podemos ignorar os documentos da Igreja para abraçar as teses do Pe. Quevedo, exímio parapsicólogo, mas falho enquanto teólogo.

Confira o segundo e último artigo desta série:


Escuridão

Leia também:
Padre Quevedo: entre a Parapsicologia e a Fé (II)

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