Eis mais uma parte da Missa explicadaHoje, quero tratar da Liturgia da Palavra pela qual o Senhor nos fala, nos ensina e nos exorta para que produzamos bons frutos em nossa vida espiritual. Logo depois, esse mesmo Senhor que nos fala se dará a nós na Eucaristia.
A estrutura dessa parte da Missa compõe-se, desde o século IV, de três leituras nos Domingos e Solenidades, ao passo que durante a semana só há duas. A Primeira Leitura é, via de regra, tirada do Antigo Testamento e está intimamente ligada à temática do Evangelho. Evidencia o ensinamento de Santo Agostinho de Hipona († 430): “No Antigo Testamento, está latente o Novo e no Novo está patente o Antigo” (Quaest. in Hept. 2,73: PL 34, 623). Ocorre, no entanto, uma exceção no Tempo Pascal. Nele, a Primeira Leitura é extraída dos Atos dos Apóstolos ou do Apocalipse, pois esses livros retratam, de modo vivo, o tempo imediato à Páscoa.
A Segunda Leitura é sempre extraída do Novo Testamento e vai sendo lida ao longo dos anos sem um necessário nexo com a Primeira Leitura e com o Evangelho. Daí, caso seja preciso, em um Domingo, suprimir uma das leituras, suprima-se a segunda. Todavia, não é viável fazê-lo sem justa razão, dado que toda a Sagrada Escritura deseja nos conduzir a um assunto comum: a salvação que Deus oferece aos seres humanos por meio de Jesus Cristo. Já nos dias de Solenidades ou Festas, as três leituras se prendem ao tema do dia celebrado.
O Evangelho dominical se divide em três ciclos: anos A (Mateus), B (Marcos) e C (Lucas), ao passo que São João não tem um ano específico, pois fica reservado para os períodos solenes tais como o fim da Quaresma, a Páscoa ou outras Solenidades. Nos dias de semana, os trechos dos Evangelhos são lidos em sequência, de modo que em um só ano lemos Mateus, Marcos e Lucas. Já as leituras são tiradas de dois ciclos: Ano ímpar e Ano par, de maneira que, se o católico participa da Santa Missa todos os dias, lê, em três anos, quase toda a Bíblia.
Entre a Primeira e a Segunda Leitura, ambas terminadas com a proclamação “Palavra do Senhor!”, há um Salmo de resposta para melhor assimilação do conteúdo lido. Após a Leitura, pode-se observar um tempo de silêncio meditativo. Caso o Salmo seja cantado, deve sê-lo de tal modo que toda a assembleia o acompanhe, claramente, no refrão. Depois da Segunda Leitura, tem-se a Aclamação ao Evangelho, normalmente com o Aleluia, salvo no tempo da Quaresma.
Após o Evangelho, prevê-se uma Homilia – curta, objetiva e bem preparada – capaz de ser aplicada à vida dos fiéis em geral e levar à oração, à meditação e à conversão. Embora seja praxe aos domingos, nos dias de semana também deve haver uma breve reflexão sobre a Palavra de Deus. O próprio Senhor Jesus, ao terminar uma leitura na sinagoga, se pôs a explicá-la: “Hoje se cumpriu essa passagem da Escritura” (Lc 4,21). Da parte do padre são condições indispensáveis para uma boa homilia a oração, a meditação pessoal, bem como o estudo de boas obras que o ajudem a adquirir conteúdo para a pregação. Em algumas ocasiões, a Homilia pode ser substituída pelo Sermão. Este se dá quando apenas um tema é abordado: a ressurreição dos mortos em Missa de corpo presente ou de sétimo dia, ou a vida de um santo em sua Festa etc.
Uma vez ouvida a Palavra de Deus e sua explicação, passa-se ao Credo (Creio) que desde o século XII está presente na Liturgia da Igreja em todo o mundo e visa dar provas da nossa reta fé. Normalmente, se rezam duas fórmulas do Credo: o mais comum e sintético, chamado de Apostólico, ou, então, o mais longo e explicativo, chamado de Niceno-Constantinopolitano, pois foi elaborado nos Concílios de Niceia I (325) e Constantinopla I (381), respectivamente.
Vem, a seguir, a Oração da Comunidade. É um costume antigo interceder pelo próximo, pela Igreja, pelos governantes etc. (cf. 1Tm 2,1-2; S. Policarpo de Esmirna Aos Filipenses 12,3 e São Justino na Apologia 67,4s).