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Pe. Reginaldo Manzotti: a verdadeira misericórdia

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Padre Reginaldo Manzotti - publicado em 20/02/19

Pe. Manzotti compartilha algo que o marcou muito na infância e reflete sobre as obras de misericórdia

Ter misericórdia não é ter pena de alguém e sim ter compaixão e solidariedade para com a necessidade do outro. Mais do que só dar esmola, é descer até a carência física, espiritual e material da outra pessoa envolvendo-a com nosso ser e elevando-a a dignidade e à vida.

Elenco as obras de misericórdia corporais:

– Dar de comer a quem tem fome

Várias vezes, Nosso Senhor Jesus Cristo se preocupou com a fome dos que O seguiam (cf. Lc 9, 10-17). Seu mandato ecoa até hoje: “Dai-lhes vós mesmos de comer” (Lc 9, 13).

É urgente e necessário que avancemos em políticas sociais que atinjam a causa da fome, mas enquanto não chegamos ao ideal, exercitemos a partilha no real. “Quem tiver muita roupa partilhe com quem não tem, e faça o mesmo quem tiver alimentos (Lc 3, 11).”

– Dar abrigo aos peregrinos

Jesus foi um desabrigado já em seu nascimento, quando negaram a José e Maria que estava para dar à luz, um lugar na hospedaria (Lc 2,7). Tendo em vista que a realidade dos tempos de Jesus era muito diferente da realidade dos tempos atuais, torna-se complicado, perigoso e é até ingenuidade de nossa parte querer acolher em nossas casas, pedintes ou moradores de rua. Porém, Deus suscita obras de acolhimento na Igreja, através dos padres, religiosos (as), e leigos (as), que nos permite praticar esta obra de misericórdia, com nossa ajuda concreta. Como cidadãos, cristãos, ou enquanto comunidade, somos chamados a contribuir economicamente e voluntariamente nos serviços desta obra.

– Assistir os enfermos

A obra de misericórdia: assistir os doentes começa na família quando se lida com doenças prolongadas e, às vezes irreversíveis. Seja em qualquer idade, e por qualquer problema de saúde, que podem ser, entre tantos: o câncer, as paralisias, a anencefalia, e socorrer sem preconceito os portadores do vírus HIV.

Trata-se também de um trabalho voluntário em hospitais, asilos, e casas de recuperação terapêutica. Estende-se a uma pastoral urbana que visite e acompanhe aqueles que, nos grandes centros urbanos vivem a dor de sua enfermidade na solidão, e no esquecimento.

Muitos se perguntam: o que fazer para um doente gravemente enfermo? A resposta é simples, às vezes nada, apenas “estar” presente junto ao que sofre. Misericórdia e solidariedade é estar perto de quem sofre, mesmo sem entender a extensão do sofrimento, pois o pulsar e o latejar da dor é próprio só de quem está machucado.

– Dar de beber ao sedento

Nosso Mestre Jesus disse: “Todo aquele que der ainda que seja somente um copo de água fresca a um destes pequeninos, porque é meu discípulo, em verdade eu vos digo: não perderá sua recompensa” (Mt 10, 42). Em nossos tempos esta obra de misericórdia parece sem sentido, quando cada um tem água encanada, com facilidade em seus lares. Pensa desta forma quem tem o privilégio de viver longe da seca, e dos desafios de andar, em pleno Século XXI, muitos quilômetros para buscar água em açudes, e em carros pipas, num Brasil de graves contrastes sociais que clama aos céus igualdade de direitos.

Não obstante, Jesus Cristo, nas bem-aventuranças, fala da sede, porém de uma “sede de justiça” (Mt 5, 6). A sede saciada de justiça não seria o saciar a sede real de água, de dignidade e de solidariedade?

– Vestir os nus

O apóstolo Tiago escreveu à comunidade que lhe foi confiada pastorear: “Se a um irmão ou a uma irmã faltarem roupas e o alimento cotidiano, e algum de vós lhes disser: Ide em paz, aquecei-vos e fartai-vos, mas não lhes der o necessário para o corpo, de que lhes aproveitará? Assim também a fé: se não tiver obras, é morta em si mesma. (Tg 2, 15-17).

– Socorrer os prisioneiros

Hoje o acesso nos presídios não é livre, há um certo rigor e triagem para visitas à presidiários. Porém, nossas dioceses ainda são deficientes em se tratando de uma pastoral carcerária efetiva, e dinâmica. Devemos sempre ter em mente que os prisioneiros estão privados da liberdade e não da dignidade.

A obra de misericórdia socorrer os prisioneiros, também se estende ao socorro às famílias dos presidiários (as); auxiliando economicamente as que necessitam, e ajudando-as a superarem os preconceitos.

– Enterrar os mortos

O Novo Catecismo da Igreja Católica, assim diz: “Os corpos dos defuntos devem ser tratados com respeito e caridade, na fé e na esperança da ressurreição. O enterro dos mortos é uma obra de misericórdia corporal que honra os filhos de Deus, templos do Espírito Santo” (CIC § 2300).

Acredito seriamente que o velório é muito válido, importante e edificante, tanto para o morto, como para os familiares. Da parte do falecido pelas orações feitas em seu favor, da parte dos familiares pela oportunidade de perdão, conversão e reflexão.

Finalizando esta mensagem partilho algo que me marcou muito na infância. Certo dia, minha mãe na sua simplicidade, disse-me: “filho, Jesus Cristo, às vezes desce do céu e se veste com roupas de mendigo, anda pelas ruas e bate nas casas pedindo esmola. Nunca se desfaça de uma pessoa pobre”. Certamente, para alguns não passará de “lorota”, mas há muito de verdade neste ensinamento.  “Tive fome e me deste de comer, tive sede e me deste de beber, era peregrino e me acolheste, nu e me vestiste…” (Mt 25, 35-40).

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