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É a “ciência” quem decide o que existe ou não existe?

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Vanderlei de Lima - publicado em 19/03/19

Toda realidade está contida – ou melhor, teria de estar contida – naquilo que descobrimos pelos sentidos

Prezado(a) leitor(a), a pergunta que dá título a este artigo parece desafiadora, mas é deduzida do modo positivista e neopositivista de fazer ciência, conforme veremos aqui.

Por positivismo entendemos a escola filosófica fundada por Augusto Comte (1798-1857) cujo método de investigação da natureza dá prioridade às leis empíricas, ou seja, àquilo que pode ser tocado, medido, pesado mais de uma vez, sem, porém chegar à causa ou à essência (núcleo) do efeito.

Toda realidade está contida – ou melhor, teria de estar contida – naquilo que descobrimos pelos sentidos, especialmente ao ver, medir e pesar. Fora disso, nada pode ser estudado, pois, segundo os positivistas e neopositivistas (leia-se Círculo de Viena), fica aquém do âmbito das ciências experimentais ou de observação. Sim, eles entendem – e aqui acertam – como objeto de análise das ciências de observação as coisas analisáveis do nosso mundo. No entanto, erram ao julgar que a realidade só se limita ao observável em si mesmo e ao desprezar o clássico conceito de ciência definida como conhecimento dos efeitos por meios das causas, muito mais amplo e abrangente.

Aqui, entra uma fala interessante de Leibniz (1646-1716), filósofo moderno, a afirmar que nós somos atormentados pela seguinte questão: “Por que É tudo o que É, se podia não ser?”. Uma coisa, como o mundo, por exemplo, que é, mas poderia não ser, existe por quê? Como, então, explicá-lo?

Ora, sobre isso argumenta o Pe. Paschoal Rangel, SDN, dizendo que a existência do Universo não tem explicação em si mesma. Ele poderia não existir, mas existe. Aí está. Para o positivista coerente, esse Universo seria um absurdo, pois não tem explicação plausível pelas ciências de observação. Ora, se não pode ser explicável também não pode ser científico. Se não é científico, não existe. No entanto, contra essa visão paupérrima da realidade, o Universo aí está organizadíssimo, logicíssimo, matematicíssimo e requer uma explicação que se não está nele, está fora dele…, mas os positivistas, por coerência, não podem explicá-lo em sua origem e razão de ser, pois teriam de sair do que observam, medem e pesam… (cf. Teologia de jornal. Belo Horizonte: O Lutador, 1996, p. 5-8).

Aqui, lembramo-nos de um provérbio popular que diz: “Sapateiro, aos teus sapatos”, ou seja: que a ciência empírica ou experimental estude o visível, mensurável e pesável está certo. Contudo, reduzir a realidade apenas a isso é absurdo. Seria como dizer que tudo tem de se adaptar ao nosso modo de ser e de pensar. Isso é de um reducionismo gritante. Às ciências de observação cabe estudar a realidade e caso não consigam abarcar essa vida real por inteiro deveriam – se desejassem ser ciências de verdade – aprumar seus métodos, mas nunca negar aquilo que não é captável por suas tecnologias. Afirmar que seu método e aparelho científico não alcançam um fenômeno paranormal, por exemplo, é correto, mas negá-lo porque não é alcançável soa anticientífico. Criem-se, então, novos meios de estudos adaptáveis à realidade, mas não queiram fazer a grande realidade caber em seus importantes, mas limitados moldes.

Isso tudo, pode parecer pesado a quem não tenha o hábito de se questionar, seja aluno ou professor. Aliás, o aluno que levanta isso em sala de aula é tido como inoportuno ou anticientífico e o professor, além de merecer os mesmos apelativos, pode ser, logo, demitido da Faculdade. Com que direito ele ousa questionar a crença nos dogmas do positivismo e do neopositivismo ou da ciência (na verdade, do cientificismo)?

Podemos – e cremos que devemos – voltar ao assunto em outro momento, pois ele merece aprofundamento. Aqui, desejamos apenas tocar no ponto crucial de tudo isso: às ciências experimentais cabe estudar um fato verificável. No caso da Medicina, por exemplo, um doente que sarou instantaneamente deve ser avaliado com seriedade para ver se ocorreu nele a relação causa (remédios ou outros procedimentos médicos) e efeito (cura). Se sim, há explicação pela própria Medicina; se não, é preciso buscar outra causa fora da Medicina… Aqui, entram os teólogos e a fé a confirmar, ou não, que essa outra causa pode ser Deus a realizar um milagre.

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