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Nem 100 pessoas odeiam a Igreja: mas milhões odeiam o que acham que a Igreja é

Femen ataque arcebispo Bélgica

© Benoit DOPPAGNE / BELGA / AFP

Reportagem local - publicado em 26/03/19

A desinformação proposital sobre a Igreja é corroborada pelo péssimo comportamento de muitos católicos - inclusive clérigos

O venerável dom Fulton Sheen, arcebispo católico norte-americano, afirmou certa vez:

“Não há sequer cem pessoas nos Estados Unidos que odeiam a Igreja Católica. Mas há milhões que odeiam o que elas acham que a Igreja Católica é”.

Interpretações parciais e tendenciosas

De fato, uma conversa presencial ou via redes sociais com detratores da Igreja costuma confirmar esta observação. Grande quantidade das críticas mais azedas vem de pessoas cuja interpretação sobre a Igreja não nasce do real conhecimento sobre ela e a sua verdadeira doutrina, mas de narrativas ditas “jornalísticas” ou “acadêmicas” baseadas em opiniões subjetivas, em experiências pontuais e em recortes de episódios nos quais, gritantemente, foram traídos os mais elementares princípios, valores e ensinamentos da própria Igreja.




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Mau comportamento de pessoas específicas

Neste sentido, o péssimo comportamento de muitos católicos, sejam leigos, sejam clérigos, corrobora a narrativa extrapolada e generalizante de que a própria Igreja é que seria corrupta em si mesma.

Se, por um lado, há dificuldades (ou má vontade) em diferenciar os maus atos de pessoas específicas e o que de fato a Igreja ensina e propõe, também há, por outro lado, propositais campanhas de desinformação contra a Igreja, voltadas a denegri-la sistematicamente mediante a imposição de ideias mentirosas sobre a sua natureza e o seu propósito.

Campanhas de desinformação sistemática

Entre as campanhas anticatólicas mais óbvias estão as que foram implementadas por ideologias materialistas ateias, como os regimes comunistas que aterrorizaram populações inteiras da Ásia ao Caribe e da África ao Leste da Europa ao longo das últimas décadas.

E não falamos apenas das perseguições cruentas e das proibições brutais da liberdade de culto, de expressão, de opinião e até de pensamento, mas inclusive das assim chamadas “revoluções culturais” que promoveram ativamente a tergiversação do vocabulário para deturpar os conceitos basilares da fé cristã.




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O caso relatado pelo cardeal vietnamita preso pelo regime comunista

Cardeal Francisco Xavier Nguyen Van Thuan, vítima do ódio à Igreja durante o comunismo
© DR

Um singelo exemplo dessa manipulação é relatado pelo cardeal vietnamita François-Xavier Nguyên Van Thuan, já declarado venerável Servo de Deus pela Igreja católica. Preso durante 13 anos pelo regime comunista imposto ao seu país, ele já era arcebispo no Vietnã quando o governo o encarcerou, em 1975. Só foi sair das celas em 21 de novembro de 1988. Seu crime? Ser arcebispo católico, naturalmente.

Grande apóstolo, Van Thuan aproveitou os longos anos de prisão arbitrária para converter boa parte dos carcereiros. Aliás, o comando das prisões tentava trocar constantemente os seus guardas justamente porque ele os convertia… Acabaram se conformando e mantendo os mesmos carcereiros, porque, se mandassem novos, ele os converteria também!

Entre as suas obras escritas, a mais conhecida é o extraordinário livro “Cinco pães e dois peixes – Do sofrimento do cárcere, um alegre testemunho da fé“, em que ele conta algumas das impactantes experiências vividas no tempo de prisão. Vem desse livro, altamente recomendado a todos os nossos leitores, a seguinte passagem:

Numa noite em que estou doente, na prisão de Phú Khánh, vejo passar um guarda e grito: “Por caridade, estou muito doente, dê-me um pouco de remédio!“ Ele me responde: “Aqui não há caridade nem amor, apenas responsabilidade“. Essa é a atmosfera que respiramos na prisão. Quando me colocaram no isolamento, fui confiado a um grupo de cinco guardas: dois deles estão sempre comigo. Os chefes os trocam de duas em duas semanas com os de outro grupo, para que não sejam “contaminados” por mim. Depois, decidiram não mudar mais, pois, de outra forma, todos ficariam contaminados! No início, os guardas não falavam comigo. Respondiam apenas “yes” e “no“. É muito triste; quero ser gentil, cortês com eles, mas é impossível, evitam falar comigo. Não tenho nada para lhes dar de presente: sou prisioneiro, todas as roupas são marcadas com grandes letras “cai-tao“, isto é, “campo de reeducação”. Que posso fazer? Uma noite, vem-me um pensamento: “Francisco, tu és ainda muito rico. Tens o amor de Cristo no teu coração. Ama-os como Jesus te ama“. No dia seguinte, comecei a amá-los, a amar Jesus neles, sorrindo, trocando palavras gentis. Começo a contar histórias das minhas viagens ao exterior, como vivem os povos na América, Canadá, Japão, Filipinas, Singapura, França, Alemanha… a economia, a liberdade, a tecnologia. Isso estimulou a curiosidade dos guardas e os excitou a me perguntarem muitas outras coisas. Pouco a pouco, tornamo-nos amigos. Querem aprender línguas estrangeiras: francês, inglês… Os meus guardas se tornam meus alunos! A atmosfera da prisão mudou muito. Até com os chefes da polícia. Quando viram a sinceridade do meu relacionamento com os guardas, não só pediram para continuar a ajudá-los no estudo de línguas estrangeiras como ainda me mandaram novos estudantes. Um dia, um cabo me perguntou: – O que o senhor pensa do jornal ‘O Católico’? – Este jornal não fez bem nem aos católicos nem ao governo. Só alargou o fosso da separação. – Porque se expressa mal; usam mal os vocábulos religiosos e falam de maneira ofensiva. Como remediar essa situação? – Primeiro, é preciso entender exatamente o que significa tal palavra, tal terminologia religiosa… – Pode nos ajudar? – Sim. Proponho escrever um vocabulário de linguagem religiosa, de A a Z. Quando tiverem um tempo livre, eu o explicarei a vocês. Espero que, assim, possam compreender melhor a estrutura, a história, o desenvolvimento da Igreja, as suas atividades… Deram-me papel e escrevi esse vocabulário de 1500 palavras, em francês, inglês, italiano, latim, espanhol, chinês, com explicações em vietnamita. Assim, pouco a pouco, com a explicação – as minhas respostas às perguntas sobre a Igreja – e aceitando também as críticas, esse documento se torna uma “catequese prática”. Há muita curiosidade sobre o que é um abade, um patriarca; qual é a diferença entre ortodoxos, católicos, anglicanos, luteranos; de onde provêm os recursos financeiros da Santa Sé… Este diálogo sistemático, de A a Z, ajuda a corrigir muitas confusões, muitas ideias preconceituosas; torna-se a cada dia mais interessante, até mesmo fascinante. Naquela época, ouvi que um grupo de vinte jovens da polícia estudava latim com um ex-catequista, para estar em condições de entender os documentos eclesiásticos. Um dos meus guardas pertence a esse grupo. Um dia, perguntou-me se podia ensinar a ele um cântico em latim. – São tantos e tão belos, respondi-lhes. – Você canta e eu escolho, propôs. Cantei a Salve Regina, o Veni Creátor, a Ave Maris Stella… Sabem que canto ele escolheu? O Veni Creátor. Não posso dizer o quanto é comovente escutar todas as manhãs um guarda comunista, por volta das sete horas, descendo pela escada de madeira para fazer ginástica e depois lavar-se e cantando o Veni Creátor dentro da prisão.

Ele se refere ao Veni Creátor Spíritus, o mais célebre dos hinos católicos dedicados ao Espírito Santo. Para ouvi-lo e conhecer mais sobre este sublime canto gregoriano, não deixe de ler o seguinte artigo especialíssimo:




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