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Você tem vivido de forma líquida?

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By GaudiLab | Shutterstock

Talita Rodrigues - publicado em 02/04/19

Vivemos numa época em que, infelizmente, nada é feito para durar (inclusive o amor)

Não é incomum observarmos a liquidez, cada vez mais evidente, do tempo em que estamos vivendo. Vivemos em uma época, onde infelizmente nada é feito para durar, inclusive o amor.

Observo, ajudo e atendo pessoas com o coração completamente partido. Pessoas estas, que relatam muitas vezes, estarem vivendo num completo vazio, onde absolutamente nada é capaz de tirá-las de lá. Por onde olham, só enxergam escuridão, não há luz. Vivemos em uma época em que buscamos nada mais nada menos do que sentido de viver.

Vivemos com a ansiedade de encontrar alguém que nos traga a tranquilidade, a paz e a finitude que tanto buscamos. Vivemos uma época, em que tudo é natural. O sexo virou moda, “eu te amo” virou “bom dia” e religiosidade então, serve só para os caretas.

Porém, se paramos para refletir, qual é o papel da liquidez, dentro do vazio em que vivemos?

Dentro da Psicologia Analítica, chamamos o vazio de “perda da alma”. A alma, não só pode representar o amor, mas como na maioria dos casos, representa. É justamente a nossa própria alma, que nos dá o verdadeiro sentido de viver. É ela que nos ajuda a descobrir o nosso propósito aqui, neste mundo. É a alma que nos faz acreditar no amor e consequentemente numa vida mais completa.

Nós nos esquecemos que – se considerarmos a hipótese de que a alma pode ser o amor – ela não suportará viver em uma vida líquida, onde tudo é passageiro. A alma, e por consequência o amor, foram feitos para durar – para sempre.

Arrisco-me dizer com base nisso, de que o vazio nos faz perceber que estamos sedentos de coisas que não se desmanchem com um sopro. Nos faz perceber que estamos sedentos de coisas que durem e de pessoas que permaneçam conosco, haja o que houver.

Só seremos saciados – e, consequentemente, felizes – quando tivermos humildade e coragem suficiente para remar contra a maré moderna e líquida, e acreditarmos fielmente que a nossa “alma” não foi feita para viver na modernidade e na liquidez em que vivemos hoje em dia.

Se queremos felicidade e se sonhamos com um um grande amor, teremos de estar dispostos a abdicar de palavras fortes – muitas vezes ditas da boca para fora – como por exemplo “eu te amo”, para dizê-la em alto e bom som no momento e para a pessoa certa.

Intensidade é sentir, o que se pronuncia e viver de fato, o que se diz.

Finalizo com uma citação de Zygmunt Bauman, em seu livro “Modernidade Líquida”:

O que aprendemos com a amarga experiência do vazio é que essa situação de ter sido abandonado à própria sorte, sem ter com quem contar quando necessário, quem nos console e nos dê a mão, é terrível e assustadora. Quando decidimos por não viver mais numa modernidade liquida, percebe-se que nunca se está mais só e abandonado, porque agora se tem a certeza de que agora existe de fato alguém com quem se pode contar, amanhã e depois, para fazer tudo isso – mesmo quando a roda da fortuna começar a girar em outra direção.”



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