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A mídia, para variar, deturpou a crítica de Bento XVI à “revolução sexual” de 1968

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Aleteia Brasil - publicado em 12/04/19

Não foram poucos os autodenominados "jornalistas" que tiraram as palavras do Papa Emérito de seu real contexto - que é bastante simples

O Papa Emérito Bento XVI compartilhou recentemente uma série de reflexões pessoais sobre a crise dos abusos sexuais cometidos por clérigos católicos, bem como propostas para combater e superar esta verdadeira aberração que fere não apenas a Igreja de Cristo, mas uma vasta quantidade de instituições nos âmbitos acadêmico, artístico, esportivo, político e até humanitário, passando também por dezenas de outras religiões além da católica.

Bento XVI escreveu as suas considerações no documento “A Igreja e os abusos sexuais“, que destaca o contexto histórico da década de 1960 e a sua assim chamada “revolução sexual”, abordando em seguida os efeitos dessa intensa transformação cultural e moral na vida dos sacerdotes.

Ou seja: o Papa Emérito simplesmente fala da intensificação da permissividade sexual que o mundo inteiro sabe que passou a ocorrer a partir daquela década e que, por isso mesmo, não é novidade para ninguém. Aliás, é bastante comum que produções literárias, cinematográficas, teatrais, musicais e artísticas em geral se refiram àqueles anos como um tempo de quebra de tabus.

No entanto, grande parte da mídia fez o esforço de dar a entender, enviesadamente, que Bento XVI estava atribuindo a causa dos abusos sexuais àquele contexto histórico – uma atribuição que ele simplesmente não propôs. Nem poderia: o mero fato de que abusos sexuais já eram perpetrados séculos antes daquela década é suficiente para que se constate que a revolução sexual dos anos 60 não pode ter sido a sua causa. O Papa Emérito apenas reconheceu, junto com inúmeros outros autores, que a partir daquele contexto verificou-se nitidamente uma dissolução acelerada dos parâmetros da moral sexual nas sociedades mundo afora.

Em caso de dúvidas, basta ler o Bento XVI realmente escreveu a propósito de tal contexto:

“(…) O assunto começa com a introdução, prescrita e apoiada pelo Estado, de crianças e jovens no tema da natureza da sexualidade. Na Alemanha, a então ministra da Saúde, Käte Strobel, promoveu um filme que mostrava tudo o que antes não podia ser exibido publicamente, incluindo relações sexuais, e que passou a ser exibido com o propósito de educar os jovens. O que inicialmente se destinava apenas à educação sexual destes acabou amplamente aceito como opção viável para o restante da sociedade.Efeitos semelhantes foram obtidos pelo “Sexkoffer” publicado pelo governo austríaco [nota: material voltado à educação sexual nas escolas da Áustria no final dos anos 1980]. Filmes sexuais e pornográficos tornaram-se corriqueiros, a ponto de serem exibidos em salas de cinema. Ainda me lembro de ter visto, ao andar certo dia pela cidade de Regensburg, uma verdadeira multidão em frente a uma grande sala de projeções, coisa que antes só tínhamos visto nos tempos da guerra, quando se aguardava alguma exibição especial. Lembro-me também de ter chegado à cidade na Sexta-Feira Santa de 1970 e de ter visto grandes painéis publicitários mostrando o abraço apertado de duas pessoas completamente nuas.Entre as liberdades pelas quais a Revolução de 1968 lutou estava a total liberdade sexual, que não mais possuía regras. A propensão à violência que caracterizou aqueles anos se relaciona fortemente com esse colapso espiritual. Aliás, filmes de fundo sexual deixaram de ser permitidos nos aviões porque, na pequena comunidade dos passageiros, eles incitavam posturas agressivas. E dado que os excessos no vestir também induzem à agressividade, os diretores das escolas procuraram introduzir uniformes que facilitassem o clima de estudo.Da fisionomia da revolução de 1968 também faz parte o fato de que a pedofilia passou a ser diagnosticada como um comportamento aceitável e conveniente.Para os jovens da Igreja, mas não apenas para eles, foi uma época muito difícil em muitos aspectos. Sempre me perguntei como é que os jovens naquela situação poderiam rumar ao sacerdócio e aceitá-lo com todas as suas consequências. O extenso colapso das vocações sacerdotais naqueles anos e o grande número de secularizações de sacerdotes foram uma consequência de todos aqueles processos.Ao mesmo tempo, independentemente desse desenrolar, verificou-se na teologia moral católica um colapso que deixou a Igreja desamparada diante das mudanças na sociedade. (…)”.

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