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Como se formam as caravanas de migrantes hondurenhos rumo aos EUA

CARAVAN

PEDRO PARDO - AFP-AI

Agências de Notícias - publicado em 16/05/19

Foi em outubro do ano passado que se formou a primeira caravana, como uma nova forma de migração em massa

Um aviso nas redes sociais, reproduzido na imprensa local, provocou uma concentração de 2.000 pessoas no terminal rodoviário de San Pedro Sula, no norte de Honduras, que partiram em caravana rumo aos Estados Unidos.

Foi em outubro do ano passado que se formou a primeira caravana, como uma inovadora forma de migração em massa que desatou um turbilhão político e social em Estados Unidos, México e no norte da América Central.

O trânsito de milhares de pessoas pela América Central e pelo México provocou uma reação dura do presidente americano, Donald Trump, que mandou militarizar a fronteira para conter sua entrada.

O presidente americano dirigiu críticas duras a México, Guatemala, Honduras e El Salvador por tolerar a saída dos migrantes e pediu para cortar a assistência aos três países centro-americanos em represália.

Dias depois do primeiro grupo, formou-se uma segunda caravana no mesmo local e desde então se organizaram outras em El Salvador e Honduras, com pessoas que saem em grupo para fazer a arriscada travessia.

Em todos estes casos, uma mensagem inicial no WhatsApp ou no Facebook se espalhou como rastilho de pólvora entre pessoas ansiosas por fugir da pobreza em suas comunidades, da criminalidade e da ameaça das gangues, que buscam recrutar jovens para o narcotráfico e a delinquência.

“É o poder das redes sociais”, comentou a pesquisadora do fenômeno migratório Sally Valladares sobre a forma como as convocações viralizam e são reproduzidas em veículos locais.

“Há um grande desespero das pessoas pela falta de trabalho e pela violência. Veem as caravanas como uma oportunidade de migrar em massa porque pensam que se não for assim, não vão conseguir”, disse à AFP.

Nesta primeira caravana que partiu em 13 de outubro passado estava a hondurenha Ruth Elizabeth Gómez, de 25 anos, que viu no programa de TV Hable Como Habla a notícia da convocação que circulava nas redes sociais.

Acompanhada do irmão, a jovem da cidade de Siguatepeque, 90 km ao norte de Tegucigalpa, se juntou à caravana e chegou aos Estados Unidos, mas foi detida tentando entrar ilegalmente e pouco depois, deportada de volta a Honduras, contou Gómez à AFP.

“Estávamos desesperados, nenhum dos dois tínhamos trabalho, os dois temos filhos e, com a situação do país, tínhamos poucas oportunidades” de conseguir emprego, argumentou.

– Uma corrente sem fim –

O governo hondurenho culpa traficantes de seres humanos e políticos da oposição por organizar e instigar esta forma de migração em massa.

Mais de um milhão de hondurenhos radicados nos Estados Unidos enviam ao seu país remessas de mais de 4 bilhões de dólares anuais, um aporte importante para a economia hondurenha, equivalente a 20% do PIB, segundo economistas.

Investigar como se formam as caravanas “é como averiguar como a água entra no coco”, comparou o ex-deputado da oposição Bartolo Fuentes, um jornalista acusado pelo governo hondurenho de promover a primeira caravana.

“A água não entra no coco, o coco vai produzindo sozinho. As caravanas são assim: alguns levam dinheiro e vão de ônibus, outros têm que caminhar, cada um vai como pode. São formadas por gente que não têm dinheiro e decidiu emigrar”, disse Fuentes à AFP.

Ele garante que as caravanas têm a particularidade de serem formadas por grupos de até 12 membros da mesma família, que se reúnem em várias partes do país com a esperança de conseguir vistos humanitários para chegar ao México e aos Estados Unidos.

“Não importa quem as convoca, as caravanas não voltam atrás porque se formam pelo desemprego, pela violência e pela reunião familiar”, comentou à AFP Ricardo Puerta, um estudioso do fenômeno migratório, nascido em Cuba e naturalizado americano e hondurenho.

Puerta acredita que o presidente americano é um dos maiores beneficiados por estas ondas migratórias, transformando-as em tema de campanha nas eleições de meio de mandato, no ano passado, e as cita para defender seu projeto de construção de um muro na fronteira com o México.

Acrescentou que as migrações históricas, da Ásia e da Europa, ocorreram em caravanas, formadas por grupos grandes que tinham como única via para fugir das guerras e da fome se lançarem ao mar em embarcações. As caravanas centro-americanas seguem essa tradição, afirmou.

(Com AFP)

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