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Por que “tempo de qualidade” com nossos filhos pode não ser tão benéfico quanto pensamos

PLAYING WITH CHILD

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Cerith Gardiner - publicado em 24/05/19

Vamos recordar o exemplo de Jesus

Durante anos, proclamamos alto e claro os benefícios do “tempo de qualidade”. Seja fazer uma massagem relaxante em uma criança antes de ir dormir, construir uma impressionante vila de Lego com nosso filho, almoçar em um restaurante favorito com nosso filho adolescente, esses chamados momentos de “qualidade” têm as melhores intenções do coração: passar tempo com nossos filhos, compartilhar momentos especiais de carinho e atenção. Tudo parece ótimo, especialmente quando estudos científicos como este no Washington Post retratam a noção de que “não é quantidade, mas qualidade que conta”. É certamente uma máxima familiar repetida várias e várias vezes em revistas para pais e defendida por muitos psicólogos.

Isso é reconfortante para os pais com horários sobrecarregados, que têm apenas alguns minutos por dia para passar com os filhos. Enquanto esses minutos preciosos forem determinados como “qualidade”, tudo estará bem – ou pelo menos queremos acreditar. Afinal, a internet está cheia de dicas e truques para aproveitar ao máximo esses momentos de qualidade. No entanto, ao pegar esses momentos de qualidade, estamos apenas aceitando as migalhas da mesa? Os pais são convidados a “otimizar” o tempo gasto com seus filhos, assim como otimizamos a lucratividade de uma fábrica?

Mas o que nós prometemos passando esse tempo de qualidade juntos? Isso promoverá confiança, comunicação e relacionamento. Mas isso não pode ser decretado com uma simples varinha mágica.

Segundo Renaud Hétier, professor de Ciências da Educação da Université Catholique de l’Ouest, em Angers, França, “é nos momentos informais que algo acontece. Não é convocando a criança que conseguiremos estabelecer o diálogo. Geralmente começa quando você não espera, no carro, quando dobra a roupa ou quando prepara o jantar”.

A chave para construir um relacionamento de qualidade verdadeira estaria, portanto, na presença e disponibilidade que você oferece ao seu filho, enquanto o ouve. E não simplesmente durante um intervalo de tempo bem definido.

Inès de Franclieu, mãe de nove filhos e fundadora de uma instituição de caridade francesa especializada em educação emocional, reafirma essa visão. “A conversa não pode ser pré-ordenada. Ela aparece e precisa ser agarrada na hora, em torno de uma fatia de pão compartilhada no caminho da escola ou de uma tigela de sopa, quando você sai do banho depois de uma atividade, quando vai para a cama. Muitas vezes, quando você menos espera”.

“Deixem vir a mim as crianças”

O chamado tempo de “qualidade” envolve um movimento deliberado dos pais em relação ao seu filho, um movimento decretado pelo adulto, bem supervisionado e planejado com antecedência. No entanto, a qualidade da troca também não deveria surgir quando os papéis se invertem, quando é a criança que, espontânea e inesperadamente, vai até o pai ou a mãe?

O tempo de qualidade, portanto, não seria tanto os eventos cronometrados iniciados pelo adulto, mas muito mais delicados e imprevisíveis, partindo da criança ao adulto. É nesses momentos que a criança fala, confia, questiona. Vamos nos atrever a traçar um paralelo com os Evangelhos: “Deixem vir a mim as crianças, não as impeçam”, Jesus nos diz (Marcos 10, 14). Ele não se impõe a elas. Então deixe-as vir a nós também!

“O tempo de qualidade é o resultado de uma presença que não espera nada”

Há muita pressão pelo “tempo de qualidade”. No entanto, porque as crianças nem sempre estão dispostas a ter tempo de qualidade, tudo pode azedar muito rapidamente. Nesse ponto, o adulto fica desapontado. Porque esperavam algo do filho: carinho, reconhecimento. Mas por não conseguir nada… eles podem até dizer que o filho é ingrato.

O tempo de qualidade tem a vantagem de dar aos pais uma consciência limpa. Mas não podemos ignorar o valor da presença simples, atenta e benevolente dos pais, ouvindo as necessidades, ansiedades e desejos de seus filhos. “Essa presença faz a criança se sentir segura”, diz Inès de Franclieu, e então ela “se sente amada e confiante. O amor não pode ser por decreto. Não pode se explicar. Mas é experimentado, sentido e vivido”.

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