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Eu amo-te, tu és a minha Catedral!

Cathedral of Notre Dame de Senils

David Iliff | Wikipedia CC BY-SA 3.0

Juan Barbudo Sepúlveda - publicado em 29/05/19

De alguma maneria é como se Deus nos dissesse: A minha catedral és tu

Cristo Ressuscitou! Aleluia

São estas as palavras que exprimem a realidade festa que estamos a celebrar como cristãos espalhados no mundo inteiro. Aleluia! Esta palavra vem do hebraico e significa: “louvemos a Deus!”. Exprime a alegria e a gratidão para com Deus por sermos resgatados das nossas trevas, das nossas dores. Esta vigília é a esperança e a resposta a tudo aquilo que não me faz sentido. Aleluia! Que cada um de nós leve esta palavra no seu coração e a grite a todos àqueles que vivem connosco, àqueles que estão perto, e aos que estão longe: “louvemos a Deus porque Cristo ressuscitou e vive em mim!”.

Nesta noite santa em que que celebramos o triunfo da morte sobre a vida de Jesuscristo, queria deixar duas imagens que nos ajudam a meditar os mistérios que estamos a festejar. Trata-se de uma mulher e de um sepulcro de há mais de dois mil anos na Galileia e, por outro lado, a imagem de um homem e de um sepulcro gigante deste século XXI. Ambos, mulher e homem, são pessoas que amam com paixão e que têm um coração cheio de amor pelo Nosso Senhor. Ambos os sepulcros são de pedra sólida. Ambas as imagens são um paralelismo de ressurreição de ontem e de hoje. Cristo está vivo para sempre.

A Madalena é a primeira mulher a testemunhar a ressurreição. Podemos perguntar:

Porque é que a Madalena é a primeira mulher a testemunhar a ressurreição? Porque é que Deus escolheu as mulheres como primeiras testemunhas da ressurreição?

Cabe a elas suportarem no coração a dor dos outros. As mulheres são mais capazes de se compadecerem com a dor dos outros. Elas, muito melhor do que ninguém, conhecem a palavra empatia e vivem-na de maneira extraordinária, porque sabem sempre pôr-se no lugar do outro, sentirem com o outro, compadecer.

A Madalena é a primeira a deslocar-se ao sepulcro. Só uma mulher que foi resgatada das trevas e da morte pelo seu Senhor é capaz de fazer tudo por ele e de demostrar este gesto de amor sublime. O seu coração transborda de amor pelo outro. Foi a primeira a testemunhar a ressurreição porque esteve como morta, possuída pelo demónio, escravizada pela vida. Não era dona de si e Jesus a libertou das suas correntes e a levou a recomeçar uma vida nova. No encontro com Jesus esta mulher descobriu uma vida nova. Ela ia ao sepulcro cheia de amor e de gratidão por esse Jesus que a fez nascer a uma vida em plenitude. Aqueles que estiveram como mortos percebem com maior rapidez o ressurgir da vida nova. Aqueles que ultrapassaram momentos escuros de desespero, são os que sentem a necessidade de correr ao lugar onde a morte é derrotada.

Uma das frases utilizadas por Jesus para anunciar que ia ressuscitar está no evangelizo de Jn, 2,19: “Destrui este santuário e em três dias o levantarei”.

Jesus repara em toda a confusão à volta do templo e começa a expulsar os vendedores. É interpelado pelos judeus pelas razões que o levam a agir assim e Jesus responde com esta frase, mas na verdade refere-se ao templo do seu corpo. Quando ele ressuscitou dos mortos, os discípulos lembraram-se do que Jesus dissera.

No início da Semana Santa, pudemos contemplar as imagens comovedoras do incêndio da catedral de Notre Dame, uma das mais belas catedrais do mundo com mais de oito séculos de história. Templo belo e raro.

Mais comovedoras ainda são as imagens do povo francês a chorar perante semelhante catástrofe e, sobretudo, as entoares ave marias em honra da Nossa Senhora.

Não é porventura um sinal fortíssimo a queda de uma catedral maravilhosa no início da semana mais importante do ano para os cristãos, em que voltamos a experienciar o triunfo de Jesus sobre à morte? Por acaso não é este um acontecimento que Deus terá aproveitado para chamar a nossa atenção na Semana Santa?

Sem dúvida que é uma tristeza a queda de uma catedral tão emblemática, mesmo na Europa secularizada que cada vez mais dá menos importância aos seus templos. Cada templo e cada igreja, por pequena que seja, é um sinal da presença viva de Deus e da sua Aliança com o seu povo.

A queda da torre de Notre Dame acrescentou esta tristeza por se tratar da queda dum emblema patriótico e religioso. Não obstante, o incendio de Notre Dame trouxe também um sinal de ressurreição muito poderoso.

No meio das chamas um padre, capelão do corpo dos bombeiros, decide entrar para ir a procura do SS. Sacramento e Jean Marie Fournier.

No meio de uma cena de morte, como é um incendio devorador, aparece o testemunho de um homem, padre, presença de Cristo neste mundo que, movido pelo seu amor ao Senhor, decide arriscar a sua vida para resgatar Cristo das chamas. Cristo vive no sacerdote, Cristo vive no pão consagrado pelas suas mãos. O templo de pedra, mesmo que seja um poderoso sinal da presença de Deus no meio do seu povo, pode cair enquanto viva a sua real presença no corpo humano que também é um santuário, e no pão de Deus nosso alimento de vida eterna. Cristo vivo ressurge das cinzas desta catedral, através do gesto corajoso de um padre. Este gesto relembra a presença viva no nosso corpo que é o seu santuário e, ainda, a presença de Cristo ressuscitado, no sacramento de cada eucaristia.

De alguma maneria é como se Deus nos dissesse: A minha catedral és tu. O santuário coração, onde habita Cristo Vivo e a Nossa Senhora, és Tu. Quem de verdade me interessa és tu. Eu gosto muito mais de ti do que de uma catedral, por mais bela que seja. Eu gosto muito mais de ti do que duma catedral milenaria, mesmo que seja espetacular. Eu morri numa cruz por ti e não por um edifício de pedra, mesmo que seja a Notre Dame de Paris. Eu gosto tanto de ti, que cada ano te liberto das tuas correntes e curo as tuas feridas e volto a purificar o templo do teu coração, para o inundar de luz. Eu fiz tudo isto por ti! Eu celebrei a minha ceia e morri numa cruz para ficar em ti, para ser o teu alimento, e para te dar vida eterna para sempre.

Nesta Semana Santa, a catedral de Notre Dame sendo das mais belas do mundo, acabou por ser um novo sepulcro vazio e até queimado. Do seu centro surge Cristo, por um lado vivo na pessoa de um sacerdote que ama Jesus até para a arriscar a sua própria vida e, por outro lado, na presença real no Santíssimo Sacramento resgatado das chamas.

QUERIDOS IRMÃOS, NESTA NOITE SANTA SOMOS CHAMADOS A APROFUNDARMOS A NOSSA FÉ PARA VERMOS CRISTO RESSUSCITADO.

É Cristo que vive em nós e que quer viver em nós, com força para nos renovar desde o mais profundo das nossas almas. É Cristo que nos quer libertar das nossas faltas de amor e de liberdade para com os outros. É Cristo que nos quer reconstruir e completar, para que possamos ser homens e mulheres novos, para que saibamos amar com o coração de carne e não de pedra, com humildade e até com coragem e, se for preciso, arriscar a vida para resgatar a mais outros Cristos entre as chamas e as tempestades do nosso mundo atual.  

Queridos irmãos, nestes dias vimos as cinzas de uma belíssima catedral, mas é agora que vemos a vida brotar e ressurgir em milhões de corações no mundo inteiro que se estendem até a eternidade como catedrais indestrutíveis. Tantos como seres humanos. É por eles, é por nós que Cristo ressuscitou!!

Aleluia. Aleluia. Aleluia.

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