Afirmação da diretora da Fundação Ajuda à Igreja que SofreA ONU definiu o dia 22 de Agosto como a data para se assinalar, a nível internacional, a questão da perseguição religiosa lembrando todos aqueles que são vítimas de “atos de violência” com base nas suas crenças.
A resolução que estabelece esta data foi tomada em 28 de Maio deste ano e foi o resultado de uma proposta apresentada pela Polónia com o apoio expresso de alguns dos estados membros, como foi o caso dos EUA, Canadá, Brasil, Egipto, Iraque, Jordânia, Nigéria e Paquistão.
A aprovação desta data é o resultado de um conjunto de iniciativas levadas a cabo inicialmente por Ewelina Ochab, uma advogada e activista da questão da liberdade religiosa, que veria o seu esforço acolhido pela Polónia que apresentou a proposta na Assembleia-geral das Nações Unidas.
Como confidenciou mais tarde Ewlina a Mark Riedemann, director internacional dos Assuntos Públicos e Liberdade Religiosa da AIS, “a Ajuda à Igreja que Sofre foi a inspiração” para que a resolução fosse uma realidade. Para este responsável, a definição de uma data para se assinalar a questão da liberdade religiosa e se lembrar as suas vítimas, “não é apenas um passo útil, mas crucial”.
“Até ao momento, a resposta da comunidade internacional à violência com base na religião e à perseguição religiosa em geral pode ser classificada como pouca e demasiado tardia”, acrescentou Mark Riedemann. “Esta resolução é uma mensagem e um mandato claros – e todos os dias 22 de Agosto são um lembrete – de que os actos de violência com base na religião não poderão ser e não serão tolerados pela ONU, pelos Estados-membros e pela sociedade civil.”
Todos os estudos sobre a questão da liberdade religiosa apontam para um agravamento desta realidade nos tempos recentes. Há uma clara unanimidade nos relatórios produzidos pela Comissão dos EUA sobre a Liberdade Religiosa Internacional (USCIRF), o Pew Research Center e a Ajuda à Igreja que Sofre.
Todos esses documentos confirmam, sublinha Mark Riedmann, “um aumento sem precedentes da violência contra os fiéis de praticamente todas as crenças em todos os continentes, sendo os Cristãos aqueles que sofrem maior perseguição”.
Como sinal evidente de que se está perante uma situação que se tem vindo a agravar, Riedmann sublinha o facto de “somente nos últimos cinco anos” se ter testemunhado “dois casos de genocídio perpetrados pelo Daesh contra os Cristãos e os grupos religiosos minoritários no Iraque e na Síria, e contra os Muçulmanos Rohingya em Mianmar, sem mencionar as atrocidades sistematicamente organizadas, cada vez mais perpetradas (predominantemente) contra os Cristãos em África”. Por tudo isso, acrescentou este responsável da AIS, “o nosso silêncio é a nossa vergonha”.
A necessidade de se defender as minorias religiosas vítimas de intolerância e violência é “uma prioridade cada vez mais evidente e todos temos o dever de agir, de denunciar e de apoiar essas comunidades”, afirma também Catarina Martins de Bettencourt, directora do secretariado português da Fundação AIS.
“É preciso que todos tenham consciência da gravidade que representa a perseguição religiosa” nos dias de hoje em tantos países do mundo e “é um imperativo cada vez maior ampliar a rede assistencial que é fornecida pela Fundação AIS”, acrescenta a responsável pelo secretariado português da AIS.
“Em muitos lugares, só mesmo a ajuda prestada através da solidariedade dos benfeitores e amigos da Fundação AIS chega às populações”, sublinha ainda Catarina Martins de Bettencourt.
De facto, há grupos religiosos que têm estado a ser como que erradicados dos seus lugares de origem. O caso dos cristãos iraquianos é paradigmático. Antes da invasão de 2003, havia cerca de 1,3 milhões de cristãos no Iraque. Hoje calcula-se que existem no máximo cerca de 300 mil.
Por tudo isto, diz também Mark Riedmann, “é importante que este passo – a atribuição de um dia para se assinalar a questão da perseguição religiosa – não seja tratado como um fim em si mesmo, mas entendido como o início de um processo em direcção a um plano de acção coordenado a nível internacional (ONU e Estados-membros) e orientado para a prevenção, para se acabar com a perseguição religiosa”.
Outro aspecto que tanto Riedmann como a directora do secretariado português destacam face a esta resolução agora aprovada pelas Nações Unidas é a necessidade de se estabelecer um tribunal internacional que aborde a questão da impunidade para actos de violência com base na religião por parte de grupos que vão do Boko Haram ao Daesh, passando pelo Al-Shabaab.
(Departamento de Informação da Fundação AIS)