Estimular nas crianças a arte de ouvir favorece o desenvolvimento de habilidades socioemocionais Ouvir uma música, o canto dos pássaros, o despertador do relógio, a risada boa de uma criança.
Em todas essas ações precisamos utilizar a audição, mas não necessariamente prestamos atenção e ouvimos de verdade.
Olhando para o seu interior, você sabe o que é, de fato, ouvir?
No livro “Um Jeito de Ser” (1983), o psicólogo norte-americano Carl Roger fala sobre a questão:
O primeiro sentimento básico que gostaria de partilhar com vocês é a minha alegria quando consigo realmente ouvir alguém. Acho que esta característica talvez seja algo que me é inerente e já existia desde os tempos da escola primária. Por exemplo, lembro-me quando uma criança fazia uma pergunta e a professora dava uma ótima resposta, porém a uma pergunta inteiramente diferente. Nessas circunstâncias, eu era dominado por um sentimento intenso de dor e angústia. Como reação, eu tinha vontade de dizer: “Mas você não a ouviu!”. Sentia uma espécie de desespero infantil diante da falta de comunicação que era (e é) tão comum.
Se Rogers fala em “ouvir realmente” é porque ele quer separar esta atitude de outra que não é “realmente” um ouvir.
A professora ouviu o aluno e respondeu, mas não o ouviu de verdade, não houve comunicação. Por isso o garoto Carl pensava: “Mas você não a ouviu!”.
A arte de ouvir vem antes do falar e para ouvir é preciso calar. É o ouvir que nos abre para o mundo e para os outros, como Rogers aponta: “Quando realmente ouço, ouço o que alguém me diz (e não apenas o que fala), e isso me coloca em contato com ele, enriquece a relação e seus frutos”.
Ouvir alguém refere-se a uma escuta profunda, significa ouvir além das palavras, tentar ler os pensamentos, a tonalidade dos sentimentos, o significado pessoal.
Em algumas ocasiões, é preciso ouvir por trás de uma mensagem que, superficialmente, parece pouco importante.
E, quando se trata de crianças, as palavras cedem lugar a uma série de intenções e necessidades que, muitas vezes, não são pronunciadas.
Ouvir é fundamental para todas as outras formas de comunicação. Deve-se ouvir para aprender a falar, ler e escrever.
Ouvir não é um ato passivo. A capacidade de ouvir é essencial para uma comunicação eficiente e significante.
A capacidade de ouvir permite colocar-se na situação da outra pessoa e responder adequadamente. Uma resposta apropriada reafirma os sentimentos do falante e segue o caminho que demonstra a aceitação e compreensão – que reflete o que o locutor disse.
Será isso que queremos ensinar aos nossos filhos quando os ensinamos a arte de ouvir?
Estimular nas crianças a arte de ouvir significa favorecer o desenvolvimento de habilidades socioemocionais muito importantes em suas vidas, tais como autocontrole, empatia e socialização.
Uma criança que sabe ouvir está mais preparada para aprender, prestar atenção e participar das atividades em sala, a se relacionar com outras pessoas e tende a ser uma criança mais calma, colaborativa e focada.
Pois bem, sabemos que as crianças aprendem pelos exemplos que têm e pela repetição, assim, olhando para elas, precisamos nos perguntar: somos capazes de ouvi-las e de captar seu mundo interno, aquilo que elas querem nos comunicar e que ainda não o fazem por meio de palavras?
O simples ouvir tem efeitos transformadores e surpreendentes.
Se ouvirmos as crianças com a devida atenção, certamente estamos tornando-as aptas a desenvolver também esse comportamento.
(Ludie)