As cenas de devastação em Pedrógão Grande e arredores se tornaram icônicas de uma das maiores catástrofes da história recente do país
Em Portugal, 17 de junho é o Dia Nacional em Memória das Vítimas dos Incêndios Florestais, instituído para “evocar os homens, as mulheres e as crianças que perderam a vida em 2017” e para lembrar “todos quantos, ao longo da nossa história, sucumbiram ao flagelo dos incêndios florestais em Portugal“, além de cobrar providências para que tragédias como essas nunca mais se repitam. As palavras em destaque vêm do projeto de resolução nº 2185/XIII/4.a, da Assembleia da República de Portugal.
2017 foi o ano mais trágico da história do país no tocante a incêndios, com duas tragédias de proporções gigantescas. Em 17 de junho começou o incêndio originado em Pedrógão Grande, no distrito de Leiria, que se alastrou pelas redondezas, matou 66 pessoas, feriu 254 e causou 500 milhões de euros em perdas econômicas. Em outubro, outro incêndio catastrófico nos distritos de Coimbra, Viseu, Aveiro e Guarda deixou 49 mortos e cerca de 70 feridos.
A Cáritas Portuguesa, por meio de seu presidente, Eugénio Fonseca, se manifestou na seguinte declaração à agência de notícias Ecclesia:
“Este deverá ser um dia que nos recorde também da responsabilidade individual no cuidado com o Bem Comum e, concretamente, com a Casa Comum que é para nós este planeta que habitamos”.
A entidade de caridade cristã e ação social da Igreja Católica vem trabalhando, também, no aprimoramento contínuo da sua equipe de coordenação nacional do Plano Institucional de Resposta a Emergências e Catástrofes (PIREC).
Lembranças de horas mortais
Era um fim de semana com temperaturas de 40ºC em várias regiões do país. O incêndio iniciado no sábado à tarde em Pedrógão Grande ainda prosseguia em direção às regiões vizinhas de Castelo Branco e Coimbra na segunda-feira, quando, de acordo com a Defesa Civil, 70% das chamas tinham sido controladas. Mais de 1.150 bombeiros, 700 veículos e 11 aviões tinham sido mobilizados para combater o inferno.
“Portugal chora por Pedrógão Grande“. “Em memória das vítimas“. “Como isto pode ter acontecido?“. “Por quê?“. Estas eram as manchetes dos principais jornais da nação naqueles dias de estarrecimento. O presidente Marcelo Rebelo de Sousa, emocionado com a maior tragédia da história recente de Portugal, declarara no domingo à noite:
“Nossa dor é imensa, assim como nossa solidariedade com as famílias da tragédia. Temos uma sensação de injustiça, pois a tragédia afetou os portugueses dos quais se fala pouco, de uma zona rural isolada”.
Nas colinas entre as localidades de Pedrógão Grande, Figueiró dos Vinhos e Castanheira de Pera, que, um dia antes das chamas estavam repletas de eucaliptos e pinheiros, a devastação era total.
Muitas vítimas morreram em seus veículos depois de se verem cercadas pelas chamas quando passavam pela rodovia nacional 236, que liga Figueiró dos Vinhos a Castanheira de Pera, no sábado. Maria de Fátima Nunes, que foi resgatada, testemunhou à televisão:
“Era verdadeiramente um inferno. Pensei que o fim do mundo havia chegado. Não acreditei que sairia viva”.
Corpos foram encontrados também em casas de áreas isoladas, das quais as vítimas não conseguiram sair a tempo. Ao menos três povoados próximos a Pedrógão Grande foram evacuados. Isabel Ferreira, de 62 anos, moradora da região, contou aos repórteres:
“Conhecia várias vítimas. Uma amiga perdeu a mãe e a filha de 4 anos porque não conseguiu retirá-las da parte de trás do carro”.
Esses depoimentos dilacerantes se multiplicavam nas horas seguintes à catástrofe.

A polícia judicial determinou que uma tempestade seca provocou o incêndio, descartando a possibilidade criminal. Foi encontrada uma árvore atingida por um raio.
Portugal contou com apoio da Espanha, da França e da Itália, que enviaram aviões de combate para ajudar os seus bombeiros, bem como com reforços terrestres, previstos no mecanismo europeu de proteção civil que foi ativado pelo governo português.
Outras histórias dilacerantes
Incêndios florestais arrasadores ocorrem com relativa frequência em toda a região mediterrânea. Além de Portugal, costumam ser severamente atingidos também a Espanha e a Grécia.
Vem da Grécia o seguinte e doloroso relato de uma dessas tragédias:

Leia também:
Um adeus devastador no fogo da Grécia: “Tenho medo, mamãe, mas vou ser forte”