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Mali: Massacre em aldeia no centro do país revela crescente ameaça jihadista

YANN ARTHUS-BERTRAND

Yann Arthus-Bertrand

Young girls carrying buckets in the Dogon region, near Bandiagara, Mali (14°20' N - 3°37' W).

Fundação AIS - publicado em 23/06/19

O ataque de violência extrema terá sido “uma combinação de disputas por acesso a terras e recursos hídricos naturais”

O ataque na aldeia de Sobame Ba, no centro do Mali, entre os dias 9 e 10 de Junho, causou mais de uma centena de mortos e está a lançar o temor de um crescente conflito étnico neste país que parece estar a ser inflamado pelos temores do extremismo islâmico.

Milhares de pessoas fugiram já das aldeias em que viviam por causa desta onda de violência que está a abalar o Mali nos últimos meses. Recorde-se que num outro ataque, em Março, em Ogossagou , pelo menos 157 pessoas foram assassinadas.

Relatos entretanto divulgados na Comunicação Social revelam que no ataque em Sobame Ba foi usada uma violência extrema. Atacantes que surgiram em motocicletas começaram a disparar contra todas as pessoas que iam encontrando nas ruas. Os moradores esconderam-se em suas casas mas os atacantes não hesitaram e incendiaram-nas mesmo com as pessoas lá dentro, queimando-as vivas.

As forças de segurança terão demorado imenso tempo a acudir a estas populações. Segundo a DW, citando um morador, “os atacantes chegaram por volta das 17 horas” de domingo e “mataram até ao dia seguinte”. “Os atacantes tiveram tempo para massacrar, queimar e destruir tudo.”

O ataque de violência extrema terá sido “uma combinação de disputas por acesso a terras e recursos hídricos naturais”, somada à “histórica animosidade tribal” que se verifica nesta região “e a um governo incapaz de mediar ou reprimir as disputas e que gerou uma situação muito inflamável”, explicou Edward F. Clancy, responsável de comunicação internacional da Fundação AIS ao ‘site’ de notícias Crux.

Clancy afirma que este último ataque “é exemplo trágico da violência que está a espalhar-se por muitas regiões da África” e que combina “uma receita” que junta “grupos étnicos, tribais e religiosos da região do Sahel em África, e que foi instigada pela inserção do Islão radical nos últimos tempos”.

Para este responsável de comunicação da AIS, “se não houver um sufoco da influência jihadista os países pobres com governos instáveis ​​e/ou corruptos facilmente tornar-se-ão lugares muito perigosos para os fiéis cristãos, assim como para os muçulmanos que não estão alinhados com a filosofia radical”.

No Mali, um país quase exclusivamente muçulmano, apenas cerca de dois por cento da população é cristã. As duas comunidades têm coexistido bem mas a influência jihadista pode vir a mudar este equilíbrio entre comunidades.

Exemplo dessa alteração, no passado dia 7 de Fevereiro assinalou-se o segundo aniversário do sequestro da irmã franciscana Cecília Argoti Narvaez por um comando jihadista ligado à Al Qaeda numa igreja em Karangasso, uma zona rural situada a cerca de 400 quilómetros da capital, Bamako. Desconhece-se ainda o paradeiro desta religiosa colombiana apesar de terem sido divulgadas entretanto algumas mensagens vídeo gravadas pelos sequestradores, no que tem sido entendido como “prova de vida” para eventuais negociações que possam estar a ocorrer para a sua libertação.

A última mensagem vídeo foi divulgada em Setembro do ano passado e pode ver-se a irmã a solicitar a ajuda do Santo Padre. Nesse vídeo, datado de Junho de 2018, a religiosa colombiana surge ao lado de outra refém, a médica francesa Sophie Petronin.

A irmã Argoti dirige-se ao Papa Francisco agradecendo-lhe por “se ocupar” do seu caso e pedindo-lhe para não se esquecer também da situação “da senhora Sophie Petronin, porque ela está muito doente”.

Gravado aparentemente no interior de uma tenda, o vídeo tem a duração total de pouco mais de sete minutos e termina com a missionária colombiana a afirmar que faz “todos os dias” a sua mala e prepara as suas coisas, pois, diz “aguarda todos os dias” pela sua libertação.

A mensagem da irmã colombiana termina com um agradecimento ao Santo Padre: “Muito obrigado, Papa Francisco”. A maior parte do tempo do vídeo mostra a francesa Petronin, de 75 anos de idade, a implorar a intervenção do presidente francês Emmanuel Macron para a sua libertação, havendo momentos em que não consegue esconder as lágrimas.

No último Relatório sobre a Liberdade Religiosa no Mundo, publicado pela Fundação AIS e avaliando o período compreendido entre junho de 2016 e Junho de 2018, refere-se que a situação de segurança no Mali “permaneceu muito instável” e que “vários grupos terroristas islâmicos, como por exemplo o autoproclamado Estado Islâmico ou a Al-Qaeda no Magrebe (AQIM) fizeram valer a sua influência neste país”.

O Relatório sublinha que “a frágil situação de segurança” que se vive no Mali “causa problemas às minorias religiosas, que, devido aos seus reduzidos números, estão nalguns aspectos entre os grupos mais vulneráveis na sociedade”.

A ameaça terrorista é muito forte não só no Mali mas em toda a região. Em Fevereiro de 2017, os países do chamado ‘G5 Sahel’ – Mali, Burkina Faso, Mauritânia, Níger e Chade – acordaram a criação de uma a força anti-terrorista conjunta da África Ocidental. Além desta força, existe no Mali uma presença considerável de tropas francesas além de capacetes azuis da ONU.

Este esforço militar tem-se revelado, no entanto, insuficiente para deter as acções terroristas.

O Relatório da Fundação AIS é, sobre isso, taxativo: “o exército do Mali está a perder tropas todas as semanas”. Só no ano de 2017, foram mortos 716 soldados e 548 forças de segurança ficaram feridas nos combates nas regiões norte e centro do país. “Para os capacetes azuis da ONU – lê-se ainda no documento da AIS –, nenhum teatro de operações no mundo é mais perigoso do que o do Mali: 21 membros armados da missão de paz da ONU e sete funcionários civis da ONU morreram em 2017.”

(Departamento de Informação da Fundação AIS)

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