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Paz verdadeira e pacifismo covarde

LA CAMBE: GERMAN MILITARY CEMETERY; NORMANDY

https://en.wikipedia.org/wiki/La_Cambe_German_war_cemetery#/media/File:German_military_cemetery_Normandy_1.jpg

Vanderlei de Lima - publicado em 25/06/19

Perguntam alguns, no entanto, como ficaria a doutrina da legítima defesa?

Há quem diga – por ignorância ou má-fé (Deus julgue!) – que paz é entreguismo ao mal. Este artigo, à luz da Sagrada Tradição, rebate essa ideia distorcida.

Lê-se em Mt 5,9: “Felizes os que promovem a paz, porque serão chamados filhos de Deus”. Comenta Santo Agostinho de Hipona († 430), gênio da Filosofia e da Teologia latina, que “a paz é a tranquilidade da ordem e a ordem é a disposição por meio da qual se concede a cada um o seu lugar, conforme sejam iguais ou desiguais. Assim como não há ninguém que não queira ser feliz, tampouco há alguém que não anseie ter paz, como ocorre quando aqueles que buscam a guerra não procuram outra coisa senão encontrar, batalhando, a gloriosa paz”(De Civitate Dei, 19,13). 

Foi, aliás, Santo Agostinho quem, junto com Santo Ambrósio de Milão († 397), defendeu a participação dos católicos na guerra, desde que ela fosse justa. Coube, todavia, a São Tomás de Aquino († 1274) elaborar os princípios da guerra justa que passou para a doutrina católica e são plenamente válidos até hoje (cf. Catecismo da Igreja Católica n. 2309). Daí também o apreço da Mãe Igreja para com os militares: “Aqueles que se dedicam ao serviço da pátria no exército, considerem-se servidores da segurança e da liberdade dos povos; na medida em que exercem como convém essa tarefa, contribuem verdadeiramente para o estabelecimento da paz” (Gaudium et Spes, n. 79).

Já em Mt 5,20-22, Nosso Senhor recorda e amplia a extensão do 5º Mandamento da Lei de Deus que preceitua o “Não matarás” (cf. Êx 20,13). Perguntam alguns, no entanto, como ficaria a doutrina da legítima defesa (cf. Catecismo da Igreja Católica n. 2263-2266)? – Quem nos auxilia, uma vez mais, é Santo Agostinho de Hipona ao ensinar o seguinte: “aqueles que, por ordem de Deus, fazem guerra, de modo algum agem contra este mandamento. Nem aqueles que, exercendo legítima autoridade, punem os criminosos por razões justas cometem crimes” (De Civitate Dei, 1, 21). Se não cometem crimes quem é, então, culpado pela morte de um delinquente atingido em confronto com a polícia ou pela reação de outro cidadão? – A resposta é dada por um santo de nossos dias: São João Paulo II († 2005). Fiel à Tradição da Igreja, diz ele: “Acontece, infelizmente, que a necessidade de colocar o agressor em condições de não molestar implique, às vezes, na sua eliminação. Nesta hipótese, o desfecho mortal há de ser atribuído ao próprio agressor que a tal se expôs com a sua ação, inclusive no caso em que ele não fosse moralmente responsável por falta do uso da razão” (Evangelium vitae, 1995, n. 55).

Vê-se, pois, que o mal deve ser combatido com santo zelo. Uma moleza pacifista e uma abstenção covarde, aliás própria de quem não tem amor pela causa do Evangelho, só favorece o erro. Isso o disse, por exemplo, o chamado Pseudo-Crisóstomo ao definir cólera injusta e justa: “Aquele que se encoleriza sem causa, será culpado. Pois se não existisse a cólera, nem a doutrina se aproveitaria, nem os tribunais seriam constituídos, nem os crimes seriam punidos. Assim, aquele que não fica encolerizado quando há motivo para isso, peca. A paciência imprudente fomenta os vícios, aumenta a negligência e convida o mal a agir, e não apenas os maus, mas também os bons” (Opus imperfectum in Matthaeum, Hom. 11). A ira injusta é má e deve ser punida; a ira justa, por amor de Deus e ao que lhe diz respeito, é louvável, dentro do equilíbrio cristão, e deve ser usada para frear os maus e evitar que os bons também caiam nas suas armadilhas.

Em conclusão: Paz real não é pacifismo covarde. Em 1º de janeiro de 1968, em memorável Discurso, o Papa São Paulo VI afirmava: “é de desejar que a exaltação do ideal da Paz não seja entendida como um favorecer a ignávia daqueles que têm medo de dedicar a vida ao serviço da própria pátria e dos próprios irmãos, quando se acham empenhados na defesa da justiça e da liberdade; mas, antes, procuram somente a fuga das responsabilidades e dos riscos necessários para o cumprimento dos grandes deveres impostos pelas empresas generosas. Não, paz não é pacifismo, não esconde uma concepção vil e preguiçosa da vida; mas, proclama sim os valores mais altos e universais da vida: a verdade, a justiça, a liberdade e o amor”. 

Com a Igreja, abraçamos a paz, mas rejeitamos o pacifismo!

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